As
sanções não impediram Putin de ratificar a anexação da Crimeia
JOÃO
RUELA RIBEIRO 21/03/2014 -
18:03
Clientes de vários
bancos impedidos de utilizar cartões bancários para transacções e agências
de rating apresentam prspectivas negativas para a Rússia.
A nova ronda de sanções
contra a Rússia anunciada na quinta-feira pelos Estados Unidos já está a ter
impacto nos mercados internacionais, mas parece improvável que Moscovo recue
nas suas intenções.
No
dia em que a anexação da Crimeia ganhou força de lei, os clientes de vários bancos russos ficaram sem poder utilizar os seus cartões Visa e Mastercard para efectuar pagamentos.
As empresas norte-americanas emissoras de cartões bancários suspenderam os
serviços aos bancos russos implicados nas sanções. O Rossia, controlado por
Iuri Kovalchuk, considerado
o “banqueiro pessoal dos altos responsáveis russos”, foi directamente sancionado pelos EUA, mas os clientes de três outros bancos também se
viram afectados.
O
Rossia serve 470 mil particulares e 24 mil empresas, segundo a AFP. Os bancos
SMP e Investkapitalbank, detidos pelos irmãos Rotenberg, ambos incluídos na lista de sanções, também foram afectados pela decisão da Mastercard e
da Visa, assim como o Sobibank, uma filial do Rossia.
O
índice bolsista russo MICEX iniciou a sessão de sexta-feira com uma queda de
3%, acabando por conseguir obter uma ligeira recuperação ao fim do dia, mas
mesmo assim fechou em terreno negativo.
Logo
após a declaração de Obama, a
agência de notação financeira Standard and
Poor’s anunciou que ia colocar a nota da Rússia numa perspectiva “negativa”, o
que significa que nas próximas avaliações o rating da dívida pode
descer. Outra agência, a Fitch, seguiu o exemplo. Moscovo retirou importância às revisões das agências de rating, lembrando as “objecções” em
relação à sua objectividade levantadas tanto por especialistas russos como ocidentais.
Ao
contrário da primeira lista de sanções americanas anunciada no início da
semana, as personalidades abrangidas desde quinta-feira são sobretudo empresários
com ligações profundas ao Kremlin. O Presidente norte-americano, Barack Obama,
deixou ainda em aberto a
possibilidade de aplicar sanções a vários “sectores-chave da economia russa”,
caso a tensão continue a escalar.
Essa perspectiva seria
verdadeiramente preocupante e o próprio Obama não escondeu “que podem ser disruptivas
para economia mundial”. “Se as sanções limitarem as
possibilidades de pagamento aos agentes estrangeiros, isso será grave”, afirmou
à AFP Mikhail Kuzimne, analista do Investcafe, lembrando que “a maioria das
empresas russas que têm negócios no estrangeiro efectua os seus pagamentos em
dólares e tem contas nos EUA”.
Nada disto parece, contudo,
afastar a Rússia da sua via e mesmo os visados pelas sanções parecem não temer
novas interdições. Entre as reacções às medidas tomadas pelos EUA e pela União
Europeia há um tom de desafio e orgulho, como demonstram as palavras de
Vladimir Iakunin, presidente da empresa estatal de caminhos-de-ferro: “Não
posso esconder que estou orgulhoso, todas as pessoas nesta lista são notáveis, são pessoas
que fizeram muito pela Rússia.”
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