SÉRGIO ANÍBAL
29/01/2014 - 19:52
Autoridade monetária norte-americana
mantém rumo traçado. Nos mercados emergentes, o clima continua a ser de
apreensão
Na última reunião
presidida por Ben Bernanke antes de este passar a pasta a Janet Yellen, a Reserva Federal norte- americana não surpreendeu
e manteve esta quarta-feira o ritmo de retirada dos estímulos à economia que
tinha iniciado no mês passado.
Cumprindo aquilo que
era a expectativa generalizada dos mercados, a Fed reduziu as suas compras
mensais nos mercados obrigacionistas de 75 mil milhões para 65 mil milhões de dólares.
A redução de 10 mil milhões é igual à anunciada em Dezembro.
O programa de compra
de obrigações por parte da Reserva Federal foi a forma encontrada pela
autoridade monetária norte-americana para, no auge da crise e com as taxas
de juro já a zero, criar mais estímulos à concessão de crédito na
economia dos Estados Unidos. Agora, contudo, à medida que a economia dá sinais
de retoma, a Fed pretende retirar de forma progressiva esses estímulos para
evitar pressões inflacionistas, um processo que é conhecido como tapering.
Quando decidiu
iniciar, em Dezembro, este processo, a Fed criou a expectativa nos mercados de
que se iriam continuar a realizar reduções progressivas de 10 mil milhões de
dólares ao mês no volume de compras de obrigações. Uma expectativa que
não foi defraudada em Janeiro.
No entanto, a decisão
desta quarta-feira foi tomada numa conjuntura diferente da de Dezembro. Durante
os últimos dias, acentuaram-se os sintomas de pressão em diversos mercados
emergentes. Esta pressão é em grande parte uma consequência do tapering
realizado pela Fed, já que com uma menor injecção de dólares nos mercados, a
divisa norte- americana valoriza-se,
desencadeando uma inversão dos fluxos de capitais entre as grandes potências e
as economias emergentes. Quedas das divisas na Argentina
e na Turquia e descidas dos índices bolsistas um pouco por todo o Mundo vieram
confirmar que o tapering norte-americano continua a fazer soar alarmes
junto dos investidores.
A Fed optou nesta
reunião por “passar ao lado” das convulsões nos mercados e manter a rota
traçada em Dezembro. Diversos analistas defenderam durante os últimos dias que
esta era a única opção em cima da mesa se a Fed quisesse evitar
uma perda de credibilidade. Ainda assim, ficou claro - para quem ainda tivesse
dúvidas - que Janet Yellen herda de Ben Bernanke uma tarefa extremamente
delicada: colocar um ponto final na sua política expansionista sem desencadear
uma nova crise grave na economia e sistema financeiro mundiais.
Turquia sobe taxas
O ambiente de
ansiedade que se vive nos mercados emergentes foi esta quarta-feira evidente
com a decisão do banco central turco de aumentar as suas taxas de juro de forma
drástica. A taxa overnight passou de 7,75% para 12% e a taxa
repo a uma semana passou de 4% para 10%. O banco central disse
ainda que esta última taxa deve passar a ser considerada como a taxa de
referência, em substituição da overnight.
Esta é a forma
encontrada pelas autoridades turcas de contrariar o declínio a que se vinha
assistindo no valor da sua divisa face às principais moedas internacionais.
Outros países, como o Brasil ou a índia têm seguido a mesma estratégia.
Os mercados, que já
estavam à espera de uma subida de taxas na Turquia, foram ainda assim apanhados
de surpresa pela dimensão do movimento. Na manhã desta quarta-feira, essa
surpresa pareceu surtir o efeito desejado. A lira turca apreciou-se cerca de 3%
face ao dólar (a maior subida dos últimos cinco anos) e as bolsas mundiais
registaram subidas nos seus índices.
No entanto, durante a
tarde, à medida que se esperava pela decisão da Fed, o entusiasmo desvaneceu-se. Cerca de dois terços
da subida de 3% da lira acabou por ser anulada e a
bolsa turca regressou às
quedas. Neste momento, entre os investidores, vai crescendo a convicção de que
uma escalada da crise nos mercados emergentes não possa ser evitada com medidas
avulsas de política monetária. “Se isto não resulta para travar o declínio da lira
turca, que outras medidas é que o banco central pode tomar? Volta a subir as taxas
de juro?”, questionava-se um
investidor de uma corretora norte-americana citado pela Bloomberg, antecipando já um
desfecho igual àquele que acabou por começar a resolver a crise asiática do
final dos anos 90: “O meu grande medo é que comecem a falar de controlos de
capital”.
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