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sexta-feira, 28 de março de 2014

Fed mantém ritmo de retirada de estímulos, emergentes tentam tudo para evitar crise


SÉRGIO ANÍBAL 29/01/2014 - 19:52


Autoridade monetária norte-americana mantém rumo traçado. Nos mercados emergentes, o clima continua a ser de apreensão

Na última reunião presidida por Ben Bernanke antes de este passar a pasta a Janet Yellen, a Reserva Federal norte- americana não surpreendeu e manteve esta quarta-feira o ritmo de retirada dos estímulos à economia que tinha iniciado no mês passado.

Cumprindo aquilo que era a expectativa generalizada dos mercados, a Fed reduziu as suas compras mensais nos mercados obrigacionistas de 75 mil milhões para 65 mil milhões de dólares. A redução de 10 mil milhões é igual à anunciada em Dezembro.

O programa de compra de obrigações por parte da Reserva Federal foi a forma encontrada pela autoridade monetária norte-americana para, no auge da crise e com as taxas de juro já a zero, criar mais estímulos à concessão de crédito na economia dos Estados Unidos. Agora, contudo, à medida que a economia dá sinais de retoma, a Fed pretende retirar de forma progressiva esses estímulos para evitar pressões inflacionistas, um processo que é conhecido como tapering.

Quando decidiu iniciar, em Dezembro, este processo, a Fed criou a expectativa nos mercados de que se iriam continuar a realizar reduções progressivas de 10 mil milhões de dólares ao mês no volume de compras de obrigações. Uma expectativa que não foi defraudada em Janeiro.

No entanto, a decisão desta quarta-feira foi tomada numa conjuntura diferente da de Dezembro. Durante os últimos dias, acentuaram-se os sintomas de pressão em diversos mercados emergentes. Esta pressão é em grande parte uma consequência do tapering realizado pela Fed, já que com uma menor injecção de dólares nos mercados, a divisa norte- americana valoriza-se, desencadeando uma inversão dos fluxos de capitais entre as grandes potências e as economias emergentes. Quedas das divisas na Argentina e na Turquia e descidas dos índices bolsistas um pouco por todo o Mundo vieram confirmar que o tapering norte-americano continua a fazer soar alarmes junto dos investidores.

A Fed optou nesta reunião por “passar ao lado” das convulsões nos mercados e manter a rota traçada em Dezembro. Diversos analistas defenderam durante os últimos dias que esta era a única opção em cima da mesa se a Fed quisesse evitar uma perda de credibilidade. Ainda assim, ficou claro - para quem ainda tivesse dúvidas - que Janet Yellen herda de Ben Bernanke uma tarefa extremamente delicada: colocar um ponto final na sua política expansionista sem desencadear uma nova crise grave na economia e sistema financeiro mundiais.

Turquia sobe taxas

O ambiente de ansiedade que se vive nos mercados emergentes foi esta quarta-feira evidente com a decisão do banco central turco de aumentar as suas taxas de juro de forma drástica. A taxa overnight passou de 7,75% para 12% e a taxa repo a uma semana passou de 4% para 10%. O banco central disse ainda que esta última taxa deve passar a ser considerada como a taxa de referência, em substituição da overnight.

Esta é a forma encontrada pelas autoridades turcas de contrariar o declínio a que se vinha assistindo no valor da sua divisa face às principais moedas internacionais. Outros países, como o Brasil ou a índia têm seguido a mesma estratégia.

Os mercados, que já estavam à espera de uma subida de taxas na Turquia, foram ainda assim apanhados de surpresa pela dimensão do movimento. Na manhã desta quarta-feira, essa surpresa pareceu surtir o efeito desejado. A lira turca apreciou-se cerca de 3% face ao dólar (a maior subida dos últimos cinco anos) e as bolsas mundiais registaram subidas nos seus índices.


No entanto, durante a tarde, à medida que se esperava pela decisão da Fed, o entusiasmo desvaneceu-se. Cerca de dois terços da subida de 3% da lira acabou por ser anulada e a bolsa turca regressou às quedas. Neste momento, entre os investidores, vai crescendo a convicção de que uma escalada da crise nos mercados emergentes não possa ser evitada com medidas avulsas de política monetária. “Se isto não resulta para travar o declínio da lira turca, que outras medidas é que o banco central pode tomar? Volta a subir as taxas de juro?”, questionava-se um investidor de uma corretora norte-americana citado pela Bloomberg, antecipando já um desfecho igual àquele que acabou por começar a resolver a crise asiática do final dos anos 90: “O meu grande medo é que comecem a falar de controlos de capital”.

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