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domingo, 23 de março de 2014

A grande angústia dos tártaros

Divisão Enquanto russos e arménios celebram, os tártaros receiam uma Crimeia pró-Moscovo
A grande angústia dos tártaros
Maioritariamente russa, a Crimeia é um  mosaico de nacionalidades. As reações das diferentes comunida­des aos recentes acon­tecimentos cobrem um vasto espec­tro de sentimentos, que vão da eufo­ria dos russos e da alegria dos armé­nios ate à apreensão de alguns ucranianos, que já pensam em partir pa­ra a "Ucrânia continental”. O caso extremo é o do medo dos tártaros (12% da população da Crimeia).

Perante a perspetiva de voltar pa­ra os braços da Rússia, à boca dos tártaros uma palavra assoma imedi­atamente: deportação. Acusados de colaboracionismo com os ocupantes nazis, no final da Segunda Guerra Mundial os tártaros da Crimeia fo­ram deportados em massa para a Ásia Central por Estaline. Esta foi a única comunidade étnica a manifes­tar-se pela manutenção da integrida­de territorial da Crimeia, muito em­bora se saiba que a boicotar em mas­sa o referendo de 16 de Março.

“Não queremos viver com os rus­sos, com eles não sobreviveremos, porque isso já aconteceu aos nossos antepassados, sabemos muito bem como é que isto tudo acaba”, diz um jovem que apenas quer ser identifi­cado como Arseni. Vestido de ne­gro, este jovem alto e esguio afasta-se silenciosamente do cemitério muçulmano de Abdai, onde acaba de ser sepultado Reshat Ametov.

Raptada no final de uma manifes­tação pró-Ucrânia no dia 3 de Mar­ço, o seu corpo foi descoberto no início da semana com marcas de tortura.

“Vamos esperar que os nossos anci­ãos nos digam o que fazer, esperemos que seja possível resolver tudo pacificamente, mas estamos prepa­rados para o que for preciso", diz Tajev, um jovem de barba arruivada. Se lutar para se defender é uma possibilidade admitida por muitos, sobretudo entre os mais jovens, vol­tar a partir da terra que consideram sua está fora de questão: “Partir?! Nem pensar! Sobretudo depois do tempo que tivemos de esperar para podermos regressar à nossa terra!”, exalta-se Tajev.

O peso da História

É sobretudo a memória histórica e o peso do passado que formatam as opi­niões do presente, muitas vezes em sentidos diametralmente opostos. “Ao longo da história a Rússia sempre defendeu os arménios, como pode­mos esquecer o que esse país fez por nós?”, diz Karlen Ovakimian, taxista de 54 anos, cuja família trocou «a Arménia pela Crimeia no inicio do sécu­lo XX. No referendo votou pela ade­são à Rússia e acredita que as leis des­te país garantem os direitos das mino­rias. Em qualquer caso isso parece-lhe irrelevante: “Os arménios sempre esti­veram e estarão com a Rússia”.

“As pessoas estão em pânico, es­tou constantemente a receber tele­fonemas de gente que diz que prefe­re fugir", diz Vastl Ovcharuk, ucraniano, um dos poucos ativistas do mo­vimento que se criou na Crimeia pa­ra apoiar os protestos da Praça da Independência, em Kiev.

Vasii denuncia a falsidade dos re­sultados do referendo em que, se­gundo os dados oficiais, apenas 31.997 eleitores (2,51%) votaram pe­la manutenção da Crimeia na Ucrâ­nia. Mas não consegue esconder a revolta perante o elevado número de ucranianos que terão votado a fa­vor da integração na Rússia: “São traidores, gente que veio da Rússia e que não compreende este pais”.

 internacional@expresso.impresa.pt

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