PAULO PENA 12/03/2014 - 15:03
Durão Barroso implementa o relatório do eurodeputado Rui
Tavares sobre a Hungria e propõe formas de lidar com “ameaças sistemáticas” aos pilares da
democracia e separação de poderes.
A
Comissão Europeia enviou, nesta terça-feira, ao Parlamento Europeu e ao
Conselho um documento em que assume uma “nova estratégia da União para “nova estratégia
da União para fortalecer o Estado de Direito”. É a primeira vez que a Comissão
reconhece a existência de “problemas sistemáticos” e não apenas pontuais, de
violação das regras pelas quais se regem as democracias europeias.
Um dos principais
momentos para esta alteração da política da Comissão deu-se
com a aprovação, pelo
Parlamento Europeu, em 2013, de um relatório sobre a situação na Hungria. O
relator foi o português Rui Tavares, que avaliou as diversas mudanças que o
Governo do primeiro-ministro Viktor Orban introduziu na Constituição e
funcionamento do regime húngaro. Entre elas estavam leis pontuais, como a que
criminaliza os sem-abrigo, ou as alterações à legislação eleitoral, alterações
constitucionais, como a que extingue o
Supremo Tribunal, e mudanças no
ordenamento jurídico, como a eleição dos reguladores e as funções do Tribunal
Constitucional.
A União Europeia
sempre tratara estes assuntos caso a caso, e apenas aqueles que
tinham uma relação directa com o “acervo comunitário". E para cada um
deles, os Estados-membros (neste caso a Hungria) apresentavam justificações e,
até, semelhanças com as leis de outros Estados-membros. O que o relatório
aprovado introduziu, de novo, foi uma leitura “sistemática” destes casos. Ou
seja, que cada uma destas alterações não era apenas grave, por si só, mas
colocava em risco o funcionamento do Estado de direito como um todo,
“sistematicamente”.
É isso que esta
posição da Comissão vem, agora, reconhecer. E resolver: “Esta estratégia será
aplicada quando os mecanismos internos de salvaguarda se mostrarem incapazes de
efectivamente combater as ameaças.” A Comissão assume, assim, um papel que lhe
estava destinado no papel (“guardiã dos Tratados") mas que estava por
preencher, na prática.
Ao seu dispor, o
executivo de Barroso tem uma vasta gama de recursos, que vão do soft power à chamada “bomba
atómica”, o artigo 7.0
dos Tratados, que
permite colocar um Estado-membro de “quarentena”, sem direito
de voto e sem ajudas financeiras.
Neste documento, a
Comissão alerta que está, de facto, a criar condições para usar, na prática, a “bomba
atómica”. E rodeia-se de algumas das sugestões lançadas pelo relatório de Rui
Tavares, como a articulação com a Comissão de Veneza e a inédita integração da
rede de Tribunais dos Estados-Membros no lote de instituições comunitárias.
O eurodeputado
português adianta ao PÚBLICO que estes “são passos cruciais e na direcção
certa". A Comissão "parece entender que a resposta está na
constitucionalização do Estado de direito à escala europeia e na promoção de
uma união de valores democráticos e direitos fundamentais. É escandalosa a assimetria
entre a atenção que a Comissão tem dado aos orçamentos dos Estados-membros por
comparação à sua passividade na defesa dos valores fundamentais da União como o
respeito pelo Estado de direito, a democracia e os direitos humanos",
avalia Tavares. "Após muito esforço do Parlamento Europeu, no meu
relatório, e não só, essa assimetria começa a ser corrigida", destaca o
eurodeputado.
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