Obama afirmou que
Washington pode aplicar mais sanções
ALEXANDRE MARTINS e JOAO RUELA
RIBEIRO 17/03/2014 - 19:23
UE
e Estados Unidos
anunciaram congelamento de bens e revogação
de vistos de vários políticos russos e ucranianos. Ucrânia mobiliza reservistas, receando novos
movimentos separatistas.
À vitória esperada, seguiu-se a resposta esperada.
Um dia depois do referendo na
Crimeia em que a integracão do território ucraniano na
Rússia foi praticamente consensual, os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram
que vão aplicar sanções a vários
dirigentes russos e ucranianos.
A opção pela
integração da península do Mar Negro na Rússia recolheu 96,77% dos
votos, segundo as contas da comissão eleitoral, não havendo margem para grandes
surpresas. As sondagens à boca das urnas apontavam para um resultado acima dos
95%.
Tal como previsto, os
ministros dos Negócios Estrangeiros da UE chegaram a acordo para a
aplicação de sanções a 21 cidadãos russos e ucranianos, acusados de terem
responsabilidades no processo que levou à realização do referendo. As medidas
passam pelo congelamento de bens e pela
revogação de vistos de circulação. As personalidades abrangidas pela lista
de sanções englobam três chefes
militares russos, o primeiro-ministro da Crimeia e alguns membros das duas
câmaras parlamentares russas. No final desta semana, na cimeira de líderes da
UE, poderão ser aprovadas novas sanções a personalidades mais próximas do
Presidente russo, Vladimir Putin, de acordo com a agência Reuters.
Pouco depois, a Casa
Branca anunciava que o Presidente Barack Qbama tinha dado uma autorização
executiva para a aplicação de sanções a 11 cidadãos russos e ucranianos,
seguindo a mesma lógica de Bruxelas. A lista dos visados foi revelada e inclui
vários políticos próximos de Putin, entre os quais o vice-primeiro-ministro
russo e a presidente
da câmara alta do parlamento, bem como líderes separatistas da Crimeia, como o
primeiro-ministro regional, Sergei Aksionov.
Obama veio, logo de
seguida, garantir que poderá haver lugar a mais
sanções, “se a Rússia continuar a intervir na Ucrânia”. Ainda assim, o
Presidente norte-americano afirmou que espera
que seja encontrada "uma forma de resolver esta situação pela via
diplomática, de maneira a atender aos interesses da Rússia bem como da
Ucrânia". Horas depois do anúncio das sanções, fontes do Kremlin revelaram
que Putin assinou um decreto em que é a Crimeia é reconhecida como "um
Estado soberano e independente".
Sanções não assustam
A perspectiva das
sanções não parece ter causado grande impacto junto dos visados. O
vice-primeiro.ministro russo, Dmitri Rogozin foi o primeiro a desvalorizar as
penalizações: “Camarada Obama, e o que fará àqueles que não têm contas nem bens
no estrangeiro? Ou não pensou nisso?", escreveu Rogozin no Twitter,
seguido de "Acho que o rascunho da ordem do Presidente dos EUA foi feito
por algum brincalhão".
Os mercados
financeiros também não acusaram o anúncio das sanções sobre a Rússia. Durante a
tarde, a Bolsa de Moscovo contabilizava ganhos de 3,7% e o rublo tinha
recuperado algumas perdas iniciais. A reacção, segundo a Reuters, reflectia o
sentimento dos investidores em relação ao carácter apenas simbólico das
sanções, uma vez que não incluíram administradores de grandes empresas russas
como se chegou a antecipar. Na sexta-feira, o jornal alemão Bild noticiava que Alexei Miller, presidente executivo da
Gazprom, e Igor Sechin, presidente da Rosneft, estariam na lista da UE.
Assim que os
resultados finais do referendo foram anunciados, as autoridades pró-russas da
Crimeia arrancaram para uma alucinante corrida legislativa. Em poucas horas, o
novo Conselho de Estado da República da Crimeia pediu formalmente a integração
na Rússia, anunciou a nacionalização de duas grandes empresas de gás ucranianas
(a Chornomornaftogaz e a Ukrtransgaz) e deu três opções aos militares
ucranianos: integrarem as forças armadas da Rússia, partirem para a Ucrânia ou
mudarem de profissão. Esta é, de resto, uma das questões mais sensíveis no
processo de anexação. Várias bases militares na península encontram-se cercadas por forças
militares pró-russas - que Moscovo insiste nada terem a ver com as suas forças
armadas.
Para Moscovo já
seguiu o pedido formal para a anexação e Aksionov deslocou-se à capital
russa para reunir com responsáveis do Kremlin. Segundo a agência russa Interfax, o pedido inclui a
mudança da hora na Crimeia, para ficar em linha com
Moscovo - se o pedido for
aceite, a capital da Crimeia, Simferopol, passa de mais duas horas em
relação a Portugal continental para mais quatro horas. Para além disso, o
território prevê adoptar o rublo já na próxima semana, que deverá conviver com
o hrivinia ucraniano durante seis meses. Aksionov revelou igualmente que o
governo russo já concedeu uma primeira tranche de assistência financeira, no
valor de 15 mil milhões de rublos (295 milhões de euros).
O Kremlin propôs a
criação de um “grupo de apoio” para mediar a crise ucraniana,
em resposta à proposta ocidental de um “grupo de contacto”, recusada na semana
passada por Moscovo. O ponto de partida para uma negociação seria a
implementação de algumas partes do acordo celebrado a 21 de Fevereiro entre a
oposição e o Presidente ucraniano, Viktor Ianukovich, a garantia de que a
língua russa seja o segundo idioma oficial e a descentralização do poder,
abrindo caminho para a federalização da Ucrânia. A Rússia quer ainda que a
Ucrânia declare a sua neutralidade
política, afastando a possibilidade de integração na NATO ou na UE.
O governo de transição rejeita qualquer
revisão constitucional no sentido da federalização e deu indicações de que se
prepara para defender o território de novas incursões russas no Leste. O
parlamento aprovou um decreto presidencial para uma mobilização parcial das
suas forças militares e chamou 40 mil reservistas.
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