O
Presidente russo vai fazer uma declaração no Parlamento russo
ALEXANDRE
MARTINS 18/03/2014 -
09:50 (actualizado às 10:37)
Presidente
russo discursa nesta terça-feira perante o Parlamento. Sanções dos EUA e
da EU vistas como “uma palmada nas mãos”, Moscovo diz que despertam apenas “ironia
e sacarmo”
O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou nesta
terça-feira uma ordem executiva com vista à integração da Crimeia na Federação
Russa, instando o Governo e o Parlamento a aprovarem o documento de forma “expedita”.
"Vladimir Putin assinou a ordem executiva Sobre o Cumprimento do Acordo
entre a Federação Russa e a República da Crimeia Relativa à Admissão da
República da Crimeia na Federação Russa e à Criação de Novas Entidades na
Federação Russa", lê-se num
comunicado publicado no site do
Kremlin.
A ordem executiva do
Presidente Vladimir Putin é acompanhada por uma recomendação ao Governo e ao
Parlamento para que aprovem a proposta de acordo com vista à integração da Crimeia na
Federação Russa de forma "expedita" e "ao mais alto nível".
Um dia depois de ter reconhecido
a Crimeia como um Estado
independente e soberano, o Presidente Vladimir Putin dá assim mais um passo para a integração do
território.
Logo pela manhã,
ainda antes de anunciar a assinatura da ordem executiva, Putin transmitira oficialmente aos legisladores e ao governo o
pedido das autoridades da Crimeia para passarem a fazer parte da Federação
Russa.
O pedido feito pelo
governo pró-russo da Crimeia após os resultados do referendo de domingo terá de
percorrer o seu caminho legislativo - a proposta de integração terá de ser
aprovada pelos governos da Rússia e da Crimeia e pelo Tribunal Constitucional
russo, e ratificada pelas duas câmaras do Parlamento russo (o Conselho da
Federação e a Duma).
Ainda na manhã desta
terça-feira, Vladimir Putin irá discursar perante o Parlamento russo,
aguardando-se que avance mais pormenores sobre o futuro da Crimeia.
Sanções são apenas “uma palmada nas mãos”
A rapidez com que
Moscovo tem agido após o anúncio dos resultados do referendo de domingo mostra
que Vladimir Putin não terá ficado muito impressionado com as
sanções anunciadas na segunda-feira
pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
Os ministros dos Negócios
Estrangeiros anunciaram a
"limitação de viagens" e o "congelamento de bens" a 21 cidadãos
russos e ucranianos, que acusam de terem sido responsáveis pela situação na
Crimeia. Os ministros partiram de uma lista com mais de uma centena de nomes,
mas as várias sensibilidades levaram a que o grupo tenha sido reduzido a duas
dezenas - de que não fazem parte, pelo menos por agora, presidentes das grandes
empresas
de petróleo e de gás do país.
A lista, disponível
no Jornal Oficial da União Europeia, inclui três responsáveis cujos
nomes surgem também entre os 11 que o Presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, pôs de lado para poderem vir a ser alvos de sanções do mesmo género. A
principal diferença é que a lista europeia inclui alguns responsáveis
militares, como o vice- almirante Aleksandr Viktorovich Vitko, comandante da
Frota do Mar Negro.
Mas as respostas da
União Europeia e dos Estados Unidos, que se dirigem aos políticos mais próximos
de Putin, não parecem ter afectado a confiança de Moscovo, a julgar pela
resposta do mundo das finanças e pelas declarações de alguns dos visados.
Um dos mais ousados
foi o vice-primeiro-ministro russo, Dmitri Rogozin, que usou o Twitter para ridicularizar as
sanções definidas por Barack Obama. "Acho que a ordem do Presidente dos EUA foi
escrita por algum brincalhão", escreveu Rogozin, questionando
também o que iria fazer
Washington aos responsáveis russos e ucranianos que não têm bens no
estrangeiro.
Nesta terça-feira, um
dos principais conselheiros de Putin para as relações internacionais, Iuri
Ushakov, disse às agências noticiosas russas que as sanções anunciadas pelos
Estados Unidos e pela União Europeia despertam apenas "ironia e sarcasmo".
A relevância das sanções
europeias e americanas foi questionada em alguns jornais de ambos os lados do
Atlântico. No The
Washington Post, o colunista Dana Milbank escreveu que “a conversa
sobre os amigos [de Putin] pode impressionar a audiência americana, mas
não há muito nas sanções que possa enfraquecer os amigos de Putin ou castigar a
Rússia pelas suas acções", notando ainda que a bolsa de Moscovo subiu
quase 4% e que o rublo aumentou a sua
cotação face ao dólar e ao euro, "aparentemente devido à crença de que as
sanções dos EUA, e sanções similares anunciadas pela União Europeia, não foram
tão más como se receava".
Larry Elliot, editor
de Economia no britânico Guardian, descreveu as sanções como
"uma palmada nas mãos" de Vladimir
Putin. "A reacção dos
mercados financeiros às sanções do Ocidente é sintomática. O rublo e as acções
na bolsa de Moscovo subiram, e o preco do petróleo desceu. Conclusão: os passos
anunciados pelos EUA e pela UE foram vistos como uma palmada nas mãos de
Vladimir Putin, o mínimo que poderia ser feito sem que Barack Obama, Angela
Merkel e companhia perdessem a face", escreveu o jornalista do The Guardian.
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