OPINIÃO
DIRECÇÃO EDITORIAL 17/03/2014 -
00:59
A Crimeia votou como se esperava que votasse. Estaremos a caminho de uma nova Guerra Fria?
Nos primeiros
dias de Março foi colocado junto à estátua de Lenine, no centro de Sinferopol, capital
da Crimeia, o seguinte dístico: “Não toquem no nosso chefe.” Não tocaram. Pelo
contrário. Do alto da sua imponente estátua, situada na praça que também leva o
seu nome, o histórico líder soviético assistiu impávido ao agitar de bandeiras
russas e de bandeiras vermelhas com a foice e o martelo a celebrar o referendo
onde uma grande maioria de votantes disse “sim” à integração na Rússia. Em
Kiev, em Dezembro de 2013, Lenine teve pior sorte: a sua estátua foi
furiosamente derrubada. Por isso também se manteve esta intacta e se consumou
(pelo menos no desejo expresso num referendo ilegal e incontrolado) o regresso
da Crimeia à “grande mãe” Rússia.
Nada disto foi novidade,
nem sequer o júbilo expresso nas ruas, ou a celebração mais do que antecipada
(horas antes do fecho das urnas) de uma vitória previsível. Na entrevista que
concedeu a Teresa de Sousa, publicada na edição de ontem, o investigador
francês Jacques Rupnik disse claramente: “Não há qualquer meio, nem para a
Europa nem para os Estados Unidos, de impedir a integração da
Crimeia na Rússia.” E se, como Rupnik também disse, “a Europa se construiu
contra a geopolítica”, é a geopolítica que não só a Europa mas o mundo, em
particular os Estados Unidos, têm agora pela frente no caso da Crimeia. As
promessas de sanções, que voltaram a fazer-se ouvir, só surtirão efeito se com
elas se pretender atingir um fim óbvio. E está à
vista que só muito
dificilmente este será a “devolução” da Crimeia, por mais que a Ucrânia a
reclame (baseada na lei e em tratados de delicada elaboração internacional). Ao
contrário, se tais sanções servirem para coisa nenhuma, haverá um impasse e o
regresso, com novos contornos, da velha Guerra Fria. John
Kerrv dizia, há dias, que a
porta da diplomacia continuava aberta. Pois é tempo ainda de usá-la, para evitar males
piores para todos.
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