Federalização da Ucrânia é cenário que agrada a Putin
JOÃO RUELA RIBEIRO 21/03/2014 -
07:33
Começa a ganhar forma
uma possível solução para a instabilidade na Ucrânia. E, surpreendentemente,
pode ser aquela que mais agrada a Moscovo.
A perda da Crimeia parece ser já facto assente, mesmo para o novo poder em Kiev. A Duma (parlamento russo)
aprovou esta quinta-feira a anexação da península pela Federação Russa, com
apenas um voto contra, e as autoridades ucranianas puseram em marcha um plano
para retirar os soldados do território.
Agora, as atenções
viram-se para o Sul e Leste do país, onde existem numerosas comunidades russas
que podem seguir o exemplo da Crimeia.
O alarme foi dado
pelo embaixador ucraniano nas Nações Unidas, Iuri Klimenko, que afirmou haver “indicações
de que a Rússia esta prestes a iniciar uma intervenção militar em larga escala
no Leste e Sul da Ucrânia”. Kiev receia que Moscovo siga a mesma lógica que
levou à intervenção na Crimeia – a necessidade de apoiar a comunidade russa
numa região instável.
A Rússia tem
insistido que uma incursão em território ucraniano está fora de questão e Vladimir
Putin disse-o expressamente no início da semana. Mas a bandeira da
instabilidade na Ucrânia e, sobretudo nas regiões do Leste russófono, tem sido
agitada por Moscovo sempre que possível. E com a anexação da Crimeia, o Kremlin
mostrou no terreno que pode efectivamente actuar se as circunstâncias se
colocarem.
A estratégia de Putin
pode traduzir-se agora por aumentar a pressão sobre o governo de Kiev para que
aceite “um modelo de federalização da Ucrânia, o que iria permitir que as
regiões do Leste desenvolvessem relações mais próximas da Rússia”, como afirmou
há dias ao PÚBLICO John Lough, especialista da Chatham House.
E é precisamente isso
que Moscovo já está a fazer. Esta quinta-feira, dirigindo-se à Duma, o ministro
dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, apresentou a proposta: “primeiro,
uma reforma constitucional deverá ser feita, para que os interesses de todos os
cidadãos ucranianos e das regiões sejam respeitados. E estamos convencidos de que
a situação no país só poderá ser estabilizada fazendo da Ucrânia um Estado
federal”.
Lavrov tinha já esta
semana sugerido a criação de um “grupo de apoio” para medir a crise na Ucrânia,
para o qual um dos pontos de partida seria a descentralização do poder e a
declaração da neutralidade política da Ucrânia.
Os desejos de Moscovo
encontraram apoio nas declarações do emissário da Organização para a Segurança
e Cooperação da Europa (OSCE) na Ucrânia, que avançou algumas conclusões esta
quinta-feira.
“Todos os nossos
interlocutores sublinharam a necessidade de tomar medidas imediatas tendo em
vista uma descentralização com o fim de estabilizar a situação política na
região”, disse Tim Guldimann, citado pela AFP.
A solução federal
recolhe simpatia mesmo no Ocidente.
No início do mês,
falando a propósito de um “grupo de contacto” para mediar a crise na Ucrânia, o
porta-voz da chanceler alemã, Angela Merquel, referiu-se à presença de membros
da OSCE “com grande experiência acerca de soluções federativas”. Steffen
Seibert disse ao Wall Street Journal que “é importante que todos os
grupos da população se sintam representados num país”. “Como alcançar isto fará
certamente parte da redirecção política da Ucrânia.”
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