ALEXANDRE MARTINS 07/03/2014 – 12:01
(actualizado às 18:11)
Observadores da Organização para a
Segurança e Cooperação na Europa continuam a ser impedidos de entrar na península
A diplomacia raramente produz
resultados de um dia para o outro, e poucos esperavam que a crise na Crimeia
fosse ultrapassada horas depois de a União Europeia e os Estados
Unidos terem apertado o
cerco económico à Rússia. Por agora, as primeiras sanções norte-americanas e a ameaça de “
graves consequências económicas ” por parte dos líderes europeus
não desviaram Moscovo do seu plano nem um milímetro: se o resultado do
referendo marcado para o próximo fim-de-semana na Crimeia for favorável à
integração na Rússia, a Rússia “respeitará a histórica decisão da Crimeia”.
A garantia foi dada olhos nos
olhos aos representantes do parlamento regional da Crimeia que se deslocaram
nesta sexta-feira a Moscovo, onde se reuniram com deputados de ambas as câmaras
do parlamento russo. O presidente da câmara baixa (Duma), Sergei Narishkin, e a
presidente da câmara alta (Conselho da Federação), Valentina Matvienko, fizeram
das palavras de cada um deles as palavras do outro. Depois de Narishkin
garantir que a Rússia respeitará o resultado do referendo, Matvienko garantiu
que a Rússia “apoiará a decisão do povo da Crimeia”.
No próximo dia 16, os cidadãos da
península que está no centro do conflito entre a Rússia e a Ucrânia - e que é,
mais do que isso, uma luta pela influência política e económica que opõe
Bruxelas e Washington a Moscovo - vão decidir se preferem manter-se integrados
no território ucraniano, com uma autonomia reforçada, ou se querem mudar-se para a Federação
Russa. O problema é que a consulta popular, que foi convocada por um parlamento
regional tomado de assalto por meia centena de homens
armados em finais de
Fevereiro, não tem qualquer validade legal aos olhos da União Europeia, dos
Estados Unidos e das novas autoridades da Ucrânia, que chegaram ao poder depois
dos confrontos sangrentos em Kiev e da deposição do Presidente
Viktor Ianukovich.
O Presidente
francês, François Hollande, repetiu ontem o que outros líderes europeus, e o
seu homólogo norte-americano, já tinham afirmado: “A integridade territorial e
a soberania da Ucrânia não são negociáveis.” Numa reunião no Palácio do Eliseu
com o líder do partido ucraniano UDAR, Vitali Klitschko, e com o deputado
independente Petro Poroshenko, Hollande declarou que a União Europeia só
aceitará um referendo na Crimeia se for o governo da Ucrânia a organizá-lo.
Enquanto
Hollande falava aos jornalistas ao lado de dois protagonistas da revolução no
poder da Ucrânia, a 2500 quilómetros de distância, no coração de Moscovo, mais de 65.000 pessoas
recebiam os deputados do parlamento regional da Crimeia com cartazes e palavras
de ordem de apoio à anexação da península pela Rússia.
Ao
som de músicas de teor nacionalista interpretadas pelo cantor pop russo Oleg
Gazmanov, milhares de manifestantes agitavam cartazes com frases como “Crimeia,
estamos contigo" e "A Crimeia é território russo".
As
manifestações a favor das políticas do Kremlin, escreve a agência AFP, “são
normalmente orquestradas pelas autoridades, que levam os funcionários para os
locais de protesto em autocarros”. O correspondente da BBC em Moscovo, Steve
Rosenberg, fez a mesma interpretação, ao partilhar uma fotografia no Twitter
com a frase “Eles cantam ‘Moscovo! Rússia! Crimeia!’ à passagem pelo Kremlin, nesta manifestação organizada
pelas autoridades”.
O
Kremlin continua a dizer que as forças russas na Crimeia limitam-se a proteger
as suas instalações militares, mas ontem foi o ministro dos Negócios
Estrangeiros, Sergei Lavrov, quem explicou por que é que os observadores da
Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) continuam a ser impedidos de
entrar na península ucraniana. O grupo de 43 representantes de 23 países da
OSCE foi barrado por duas vezes por homens armados e não identificados porque a
organização não esperou por um convite das autoridades pró-russas da Crimeia,
“sem levar em conta os conselhos e as recomendações da Rússia”. “As estruturas
executivas e vários Estados-membros da OSCE agiram de acordo com as piores
tradições de dois pesos e duas medidas em relação à situação na Ucrânia”,
acusou o ministro russo.
O poderio militar da Rússia e da Ucrânia
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