“Estou em
Simferopol”, escreveu Medvedev no Twitter
ALEXANDRE MARTINS (http//www.publico.pt/autor/alexandre-martins) 31/03/2014 - 09:12
O
chefe do Governo russo, Dmitri Medvedev, aterrou
na pensínsula do mar Negro com vários membros do seu Governo.
O primeiro-ministro
russo chegou nesta segunda-feira à Crimeia, para uma visita que tem como objectivo consolidar o processo de anexação da península. O futuro já começou a ser preparado, anunciou Dmitri Medvedev: Moscovo vai transformar a Crimeia numa zona económica especial, para atrair
investidores, e apostar nas perspectivas colossais"
do turismo, para tornar a região auto-sustentável a curto
prazo e
aligeirar
a carga financeira da integração na Rússia.
“O nosso objectivo é
tornar a península o mais atrativa possível para os investidores, para que
consiga gerar receitas suficientes para o seu próprio desenvolvimento",
disse o chefe do Governo russo em Simferopol, capital da Crimeia.
A ideia é aplicar "regimes de
impostos e alfandegários especiais, e também minimizar os procedimentos administrativos",
avançou - por outras palavras, impostos
mais baixos e menos papéis para
preencher para as empresas estrangeiras que queiram ter uma representação na
Crimeia. A Rússia tem
28 zonas económicas especiais (http://www.ved.gov.ru/eng/investing/sez/)
espalhadas pelo seu
território, de que beneficiam empresas como as norte-americanas
Ford, 3M e Cisco; a
francesa Air Liquide: a japonesa Yokohama; a
dinamarquesa Rockwool; e a farmacêutica suíça Novartis.
Estas são algumas das
medidas preparadas pelo Kremlin para fazer face aos custos imediatos com a
anexação, depois de os responsáveis russos terem anunciado que as reformas dos
habitantes da região vão ser aumentadas gradualmente até chegarem aos valores
nacionais e que será feito um investimento na melhoria das infra-estruturas locais.
"Há
oportunidades, e nós levámos tudo em consideração", afirmou Dmitri
Medvedev.
Também nesta
segunda-feira, o presidente executivo do maior banco
russo, o Sberbank, disse
ao Presidente Vladimir Putin que nos próximos seis meses o país poderá cortar o
cordão umbilical que o une aos sistemas
de pagamento Visa e MasterCard,
que decidiram limitar as suas ligações aos bancos russos na
sequência das sanções impostas (http://www.publico.pt/mundo/noticia/sançoes-comecam-a-deixar-marcas-na-economia-russa-1620234)
pelos Estados Unidos
e pela União Europeia a dezenas de políticos e alguns empresários.
O objectivo é criar
um sistema russo de pagamentos por cartão de crédito, disse German Gref,
ministro da Economia da Rússia entre 2000 e 2007. "Discutimos o assunto
numa reunião com o banco central. É preciso fazer
uma série de alterações legislativas, o que pode acontecer rapidamente. Depois
da introdução das emendas à lei, penso que precisaremos de dois a seis meses de
trabalho técnico para lançar o sistema nacional de pagamentos", explicou o
presidente do Sberbank, num comunicado publicado no site do Kremlin.
Rússia insiste na federalização da Ucrânia
No terreno e nos
corredores da diplomacia, a situação continua mais incerta do que as certezas
económicas e financeiras da Rússia.
Um porta-voz do
Governo interino de Kiev, identificado pela agência AFP como Olexi
Dmitrachkivski, fez saber nesta segunda-feira que "as forças russas estão
a retirar-se progressivamente da
fronteira" com a Ucrânia, embora tenha salientado que não sabe se essas
alegadas movimentações configuram apenas uma "substituição" ou algo
mais elaborado, como "uma consequência das negociações entre a Rússia e os
Estados Unidos".
O ministro russo dos
Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, reuniu-se com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, em Paris,
num encontro que só terminou na madrugada de segunda-feira. Não houve nenhum
acordo, mas o responsável russo disse que as conversações foram muito positivas
e o seu homólogo norte-americano prometeu debater as propostas de Moscovo na Casa Branca.
Numa posição que já
tinha sido transmitida por Vladimir Putin ao Presidente norte-americano, Barack
Obama, numa conversa telefónica no
Sábado (http://www.publico.pt/mumdo/noticia/telefonema-entre-putin-e-obama-pode-ter-sido-primeiro-passo-para-o-degelo-1630238),
a Rússia propõe que a Ucrânia seja transformada num conjunto de estados
federados. “[Só uma estrura federal] protegerá os direitos da popolação russa,
que é quem nos preocupa”, disse no domingo Sergei Lavrov.
Os Estados Unidos,
por seu lado, continuam a insistir na retirada imediata das tropas russas da fronteira
com a Ucrânia e querem que as autoridades de Moscovo comecem a falar com o governo interino de Kiev, antes de negociarem seja o que for.
com a Ucrânia e querem que as autoridades de Moscovo comecem a falar com o governo interino de Kiev, antes de negociarem seja o que for.
Achamos que essas
forças estão a criar um clima de medo e de intimidação na Ucrânia. De certeza
que não de que precisamos", afirmou John Kerry. Apesar dos esforços
diplomáticos, até agora só foi possível concordar que é preciso chegar a um
acordo:
"Os EUA e a
Rússia têm diferentes opiniões sobre os acontecimentos que provocaram esta
crise, mas ambos temos consciência da importância de encontrarmos uma solução
diplomática e de, ao mesmo tempo, irmos ao encontro das necessidades do povo
ucraniano", disse ainda o responsável norte-americano.
A resposta das
autoridades ucranianas não deixou dúvidas quanto à receptividade que a proposta
russa terá em Washington e Bruxelas, pelo menos por enquanto: "Gostaríamos
que a Rússia parasse de ditar ultimatos a um país soberano e independente e centrasse
a sua atenção na situação catastrófica e na total ausência de direitos das suas
próprias minorias, incluindo a ucraniana", reagiu o Ministério dos Negócios
Estrangeiros ucraniano, em
comunicado.
Os Estados Unidos, os
países-membros da União Europeia e o
comandante supremo da NATO na Europa acusam a Rússia de ter deslocado tropas
para a fronteira com a Ucrânia, com dois objectivos possíveis: ou intimidar os
ucranianos, ou invadir o seu território. Moscovo desmentiu sempre qualquer
intenção de anexar outras regiões de maioria russófonas, mas os discursos sobre
a "protecção" de russos em relação aos "ataques da
extrema-direita" ucraniana, nomeadamente dos neonazis do Sector Direito
(que desempenharam um papel importante no derrube do Presidente Viktor
Ianukovich, em Fevereiro) não deixam os países
ocidentais descansados.
A presença militar
russa tem sido objecto de múltiplas interpretações. Na semana passada, o
presidente do Conselho de
Segurança Nacional da Ucrânia,
Andri Parubi, disse que a
Rússia colocou 100.000 tropas ao longo da fronteira; o Departamento
de Defesa norte-americano falou em 20.000;
outras fontes nos Estados Unidos estimam que são até 40.000; e o Ministério da
Defesa russo garante que não estão em curso quaisquer movimentações que violem
as normais internacionais.
Numa reportagem
publicada no site da estacão
norte-americana NBC News,
o jornalista Jim Maceda relata uma
viagem de 1600 quilómetros (http://www.nbcnews.com/storyline/ukraine-crisis/tour-ukrainwe-russia-border-finds-no-signs-military-buildup-n67336)
por território russo, ao longo da fronteira da Ucrânia, concluindo que não
encontrou sinais de escalada militar.
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