Soldados
ucranianos na base militar de Bakchisaray
PÚBLICO
e AGÊNCIAS 03/03/2014 - 08:06
(actualizado às 20:51)
Ianukovich escreveu
uma carta a Putin pedindo-lhe que intervenha militarmente na Ucrânia.
A Marinha russa tinha
dado um prazo para as forças ucranianas na Crimeia apresentarem a rendição
Tropas russas assumiram o
controlo da posto fronteiriço junto ao ferry que faz a ligação entre a Cimeia e
a Rússia e estão a trazer para o lado ucraniano camiões chieos de soldados
russos, alertou a polícia de fronteiras ucraniana, citada pela Reuters. O embaixador
da Rússia nas Nações Unidas anunciou no Conselho
de Segurança que o Presidente deposto da Ucrânia enviou uma
carta a Vladimir Putin pedindo-lhe que use a força militar no seu país.
Vitaly Churkin fez o
anúncio numa reunião do Conselho de
Segurança, em Nova Iorque, convocada a pedido da Rússia. É de notar que Viktor Ianukovich. na conferência de imprensa que
deu já Rússia a 28 de Fevereiro, em Rostov-on-Don, garantiu que "nunca teve intenção de pedir uma intervencão
militar à Rússia" e também que não iria aceitar “qualquer tentativa para
uma intervenção que quebre a integridade territorial do país”. Mas também se
mostrava "surpreendido" por ainda não se ter encontrado pessoalmente
com o Presidente russo.
Agora, na carta que terá
enviado a Putin e que Churkin revelou nas Nações Unidas, Ianukovich apela à
intervenção russa para restaurar a lei e a ordem. "Como representante legitimamente eleito,
considero que os acontecimentos em Kiev deixaram a Ucrânia à beira de uma
guerra civil. Os direitos dos habitantes da Crimeia estão a ser postos em
causa.
Há actos de violência
e de terrorismo, cometidos sob a influência de países Ocidentais".
A Marinha russa tinha
dado um prazo para as forças ucranianas na Crimeia apresentarem a rendição.
Naquela que é a declaração mais frontal até agora, o comandante da Frota Russa
no Mar Negro exigiu a obediência das forças
que ainda são fiéis a Kiev até às 5 horas da manhã (3I1 em Portugal). Se tal
não acontecer, "será lançado um assalto real contra às unidades e secções
das forças armadas ucranianas em toda a Crimeia", segundo Aleksandr Vitko,
citado pela Interfax-Ucrânia.
O Ministério da
Defesa veio negar que tenha lançado o ultimato, através do porta-voz que, em
declarações ao jornal russo Vedomosti, considerou a notícia "um absurdo
total". No entanto, vários correspondentes têm referido que, nos últimos
dias, as forças russas já tinham lançado ultimatos às bases por onde passaram,
e mesmo quando os prazos não foram respeitados nada aconteceu. Jornalistas que
estiveram perto dos navios ucranianos esta segunda-feira afirmam terem ouvido o
ultimato através de megafones.
O site da estação britânica noticiou que
duas grandes bases militares ucranianas estão cercadas por tropas russas e
grupos militarizados locais, que exigem aos soldados ucranianos que cortem com
as autoridades de Kiev e passem a obedecer ao governo local, pró-russo.
As forças militares russas recém-chegadas à Crimeia são em
número muito superior ao dispositivo armado ucraniano, segundo a estação.
Guardas fronteiriços ucranianos acusaram na manhã desta segunda-feira a Rússia
de bloquear as telecomunicações em partes da Crimeia e denunciaram movimentos
navais no Mar Negro, junto a Sebastopol. Alertaram também para a presença de
veículos armados no canal de Kerc, no leste. Mais tarde, o ministro da Defesa
acusou aviões russos de terem violado o espaço aéreo ucraniano sobre Mar Negro,
durante a noite de domingo.
"A situação na
Crimeia continua tensa e a presença militar russa está a aumentar",
afirmou o Presidente interino ucraniano, Oleksander Turchinov. "Peço à
liderança da Rússia: parem as acções provocatórias, a agressão e a pirataria.
Isto é um crime e irão pagar por ele", disse Turchinov, que confirmou que
a situação noutras regiões do Leste e
Sul do país está
"difícil".
O primeiro-ministro
ucraniano Arseny Yatseniuk disse entretanto que o seu país não desistirá da
Crimeia. “Ninguém vai dar a Crimeia a ninguém”, disse. Um conflito na Ucrânia
destruirá - acrescentou - a estabilidade regional. No domingo, o Presidente
interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov, pôs o exército em alerta máximo e
ordenou a mobilização de reservistas.
Pelo mesmo tom
alinhou Iulia Timochenko, uma das principais líderes da oposição que depôs
Viktor Ianukovich e provável candidata presidencial. Em entrevista à CNN,
Timochenko apelou "aos líderes mundiais para usar todas as possibilidades
para impedir a Ucrânia de perder a Crimeia". "Se os instrumentos da
diplomacia não funcionam, se todas os instrumentos negociais não funcionam, e
se as relações pessoais com Putin não funcionam, então o mundo tem de aplicar
vias mais fortes", afirmou.
A BBC noticiou que
não foram disparados tiros mas que a Crimeia está, de facto, sob controlo
russo. O chefe da diplomacia do Governo de Londres, William Hague, disse também
que tropas russas têm já o controlo operacional da região e qualificou a
situação na Ucrânia como a maior crise já vivida pela Europa no século XXI.
Centenas de
pró-russos tomaram de assalto o edifício da administração
regional de Donetsk, no Leste da Ucrânia, segundo a AFP. Antes, manifestantes
concentrados no local tinham apelado aos funcionários para ignorarem a nomeação
do novo governador nomeado pelo poder interino de Kiev, noticiou a agência
Itar-Tass. No edifício está há três dias hasteada a bandeira russa.
A Rússia e a China
estão de acordo sobre a situação na Ucrânia - informou o Governo de Moscovo,
numa altura em há informações de que forças russas assumiram o controlo da
Crimeia.
O acordo de pontos de
vista entre a Rússia e a China foi anunciado num comunicado do ministério russo
dos Negócios Estrangeiros, segundo o qual, numa conversa telefónica entre os
ministros Serguei Lavrov e Wang Yi foi sublinhada a “grande concordância de
pontos de vista da Rússia e da China sobre a situação”.
O primeiro-ministro
russo, Dmitri Medvedev, reafirmou entretanto a defesa da legitimidade do
destituído Presidente Viktor Ianukovich e o não reconhecimento das novas autoridades
de Kiev. E o ministro das Finanças, Anton Siluanov, disse que o governo de
Moscovo tomará uma decisão sobre ajuda financeira à Crimeia até ao fim desta
segunda-feira.
Numa entrevista à
BBC, William Hague manifestou preocupação pela “possibilidade de movimentações
russas noutras partes da Ucrânia”. O responsável pelos Negócios Estrangeiros do
Reino Unido disse que apesar da Rússia ter legalmente direito a manter tropas
na região, o governo de Moscovo deve ordenar o seu regresso às casernas.
Moscovo
considera declaração de Kerry "inadmissíveis"
Fontes governamentais
dos Estados Unidos, que têm mantido contactos com os seus aliados, fizeram
saber que Washington privilegia o recurso a pressões económicas a eventuais medidas de carácter
militar. Mas as palavras que o secretário de Estado de Washington, John Kerry,
proferiu no domingo suscitaram reacções de Lavrov, que vê nelas ameaças à
Rússia que são "inadmissíveis". Kerry qualificou o que está a
acontecer na Ucrânia e a autorização do Parlamento de Moscovo ao Presidente, Vladimir
Putin, para enviar tropas
para a Ucrânia como um “incrível acto de agressão”.
"Para além de
não ter a cimeira do G8, o Presidente Vladimir Putin pode não ficar sequer no
seio do G8", avisou John Kerry. "Se quer ser um país do G8, tem de se
comportar como um país do G8". O secretário de Estado vai a Kiev na
terça-feira para se encontrar com o novo governo interino.
O Presidente Barack
Obama falou no domingo com os chefes de governo do Reino Unido, David Cameron,
e da Alemanha, Angela Merkel, e com o Presidente da Polónia, Bronislaw
Komorowski. Todos concordaram que o "diálogo entre a Rússia e a Ucrânia
deve começar de imediato, se necessário com mediação internacional". Os
aliados manifestaram "grave preocupação" pelo que está a acontecer na
Ucrânia e expressaram o seu apoio às autoridades interinas de Kiev e aos seus
esforços para realizarem eleições em Maio - anunciou a Casa Branca. Prometerem
igualmente apoio financeiro à estabilização económica do país.
Serguei Lavrov
refeitou também esta segunda-feira, uma reunião sobre direitos humanos em
Genebra, as acusações de que a Rússia está a agredir a Ucrânia e acusou o
Ocidente de colocar o seu “calculismo geopolítico” acima do destino do povo
ucraniano.
O secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon, decidiu enviar à Ucrânia o seu número dois, Jan Eliasson,
para avaliar a situação no terreno. E declarou que vai pedir a Lavrov para a
Rússia se abster de actos ou retórica que contribuam para aumentar a escalada
da crise e procurar o diálogo com as novas autoridades de Kiev.
O primeiro-ministro
português, Pedro Passos Coelho, apelou a uma solução política e diplomática que
salvaguarde a soberania e a integridade territorial do país e condenou a
escalada militar na Crimeia. A posição do chefe do executivo português foi
transmitida aos jornalistas no final de uma reunião com o primeiro-ministro
luxemburguês, Xavier Bettel. "A situação na Ucrânia merece a maior
atenção. Os acontecimentos recentes na Crimeia colocam em causa a manutenção da
paz e segurança internacional. Portugal continua a acreditar na necessidade de
se encontrar uma solução política e diplomática que preserve a unidade da
integridade territorial e da soberania da Ucrânia", declarou.
Uma equipa do Fundo
Monetário Internacional (FMI) deve chegar terça-feira à Ucrânia para discutir
um plano de ajuda às novas autoridades que pediram assistência financeira à instituição.
A missão deve fica no país até dia 14 de Março e "discutirá as reformas
que possam servir de base a um programa de ajuda".
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