“Lutem e
triunfarão", disse Khodorkovski aos manifestantes
PÚBLICO 10/03/2014- 13:07 (actualizado às 14:43)
Libertado em
Dezembro, antigo oligarca russo foi à Ucrânia para falar de liberdades e direitos e dizer que a Rússia de Putin não
é a única.
Libertado após dez
anos na prisão, Mikhaü Khodorkovski anunciou em Dezembro que não iria fazer
política, antes defender os direitos dos prisioneiros. Mas a escolha para a sua
primeira intervenção pública, no Instituto Politécnico
de Kiev, numa
conferência intitulada Liberdades e
Direitos Humanos, grita política e é
assim que será interpretada em Moscovo.
O antigo oligarca, ex-inimigo “número um” de Vladimir
Putin, já está em Kiev desde sábado.
Durante o fim-de-semana, confraternizou com os
manifestantes que permanecem na Maidan, a praça central da capital ucraniana,
epicentro da contestação que, em Fevereiro, se transformou numa batalha com
dezenas de mortos.
Khodorkovski,
acompanhado por Iuri Lutsenko, um dos líderes da contestação, passou parte da
noite de domingo à conversa com manifestantes à volta das
fogueiras acesas na praça. Falou com homens que combateram pela União Soviética
no Afeganistão, deu-lhes autógrafos, comeu com os voluntários que ainda distribuem
refeições, visitou feridos nos hospitais.
Domingo, milhares de
ucranianos juntaram-se na Maidan para
celebrar o 200.° aniversário
do poeta nacional
Taras Shevtchenko, símbolo da luta pela independência da Ucrânia face ao
império russo. “Viva o povo de uma nova Ucrânia democrática”, gritou
Khodorkovski à multidão.
À beira das lágrimas,
Khodorkovski descreveu algumas das conversas que tivera na praça. “Contaram-me
o que as autoridades fizeram aqui, o que fizeram com o acordo do poder russo.
Mais de 100 pessoas foram mortas, 5000 feridas”, disse. “Vergonha! Vergonha!”,
gritaram os manifestantes.
A Rússia do
Presidente Putin não é a única Rússia, garantiu o antigo prisioneiro, libertado
nas vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sotchi,
num gesto apaziguador de Moscovo. “Aquele não é o meu poder. Há toda uma outra
Rússia”, afirmou.
Na Rússia, garantiu
Khodorkovski, há quem não apoie Putin e participe em protestos não autorizados
contra o que se passa na Ucrânia, enfrentando o risco da prisão. “Para estas
pessoas, a amizade entre os povos russo e ucraniano é mais importante do que a
sua própria liberdade”, disse.
Depois, terminou com
uma frase muito conhecida do poeta que se celebrava, uma frase que se tornou numa
palavra de ordem das manifestações na Ucrânia e
que Khodorkovski pronunciou em ucraniano: “Lutem e triunfarão. Deus vos ajude”.
O jornal Le Monde lembra as libertações de Khodorkovski, a 20 de Dezembro,
e dos membros das Pussy Riot, calculadas para não perturbar os Jogos de Sotchi.
E o “brilhante estratagema” posto em marcha depois da fuga
do Presidente Viktor
Ianukovich, com o envio para a Crimeia de soldados que dizem não ser soldados,
o pedido de ajuda do governo regional a Moscovo, a carta de Ianukovich a pedir
uma intervenção, um dia depois de recusar qualquer acção militar.
O que Putin não
antecipou, nos seus cálculos, sustenta o diário francês, “foram as pessoas”,
como Khodorkovski, que interrompeu o seu exílio entre a Alemanha e a Suíça,
para uns dias da Ucrânia. “É o pior pesadelo de Putin: o apoio dos democratas
russos aos revolucionários ucranianos”, escreve o Monde. Putin pode não ter percebido, mas são estes “grãos de
areia que podem gripar a máquina”.
Correcção: Falou com homens que combateram
pela União Soviética no Afeganistão, e não combateram a União Soviética no
Afeganistão
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