PÚBLICO 05/03/2014-08:31 (actualizado às 21:13)
Encontros sucederam-se em Paris. Ministro russo reuniu com chefes da diplomacia da França, Estados
Unidos. Reino Unido e Alemanha. Ucrânia acusou forças russas
de terem tomado controlo parcial de uma base de lançamento
de mísseis na Crimeia.
O secretário
de Estado norte-americano, John Kerrv. disse esta noite em Paris ter recebido indicações do interesse da Rússia em encontrar uma solução
diplomática para resolver a crise na Ucrânia. “Existem várias ideias em cima da
mesa”, notou Kerry, garantindo que as negociações estão em aberto e informando
de novos encontros nos próximos dias.
O governante
norte-americano falou aos jornalistas no fim de um dia de intensos contactos diplomáticos
em Paris, que juntaram os responsáveis dos Negócios Estrangeiros
dos EUA, Reino Unido, França, Alemanha e Rússia. O encontro foi promovido pelo Presidente
francês, François Hollande.
A reunião em
que participaram John Kerry, Sergei Lavrov, William Hague, Laurent Fabius e
Frank- Walter Steinmeier começou ao início da tarde, avançou a Reuters.
Repetindo
que os Estados Unidos consideram que a Rússia “errou” ao movimentar as suas
tropas na Crimeia, e observando a unidade da comunidade internacional na
condenação da decisão de Moscovo, o chefe da diplomacia norte-americana insistiu que “a violação da soberania da Ucrânia não ficará sem resposta”
- e que esta poderá passar pela aplicação de sanções. “Essa é uma possibilidade
que não está afastada” garantiu.
Sem produzir
nada de concreto, as discussões vão continuar esta quinta-feira em Bruxelas,
onde os ministros da União Europeia reunirão com os dirigentes ucranianos, e
também em Roma, onde John Kerry voltará a conversar com o seu homólogo russo,
Sergei Lavrov.
“Iniciámos
um processo que, segundo todos esperamos, nos poderá conduzir num sentido
contrário à da escalada dos últimos dias. Foi muito construtivo, mas temos de
ser realistas: estas são matérias duras e difíceis e o momento é muito sério.
Mas pelo menos hoje já nos encontramos numa situação mais favorável do que
ontem”, considerou John Kerry.
A AFP
noticiou que os chefes da diplomacia norte-americana e russa,
Kerry e Lavrov, conversaram directamente, na presença de François Hollande,
após um almoço do grupo de trabalho internacional sobre o Líbano, no momento do
café, no terraço do Eliseu. Um jornalista da AFP confirmou o encontro, em que,
afirmou, também estavam Fabius e Steinmeier.
Anteriormente
tinha sido anunciada a ausência do ministro russo Lavrov noutra reunião de
ministros dos Negócios Estrangeiros em que, com a presença do ministro interino
da Ucrânia, Andri Deshchitsia, foi discutida a crise. Essa ausência foi confirmada pelo
secretário de Estado norte-americano, John Kerry:
"Tinha zero expectativas que esse encontro pudesse acontecer. Mas também
não foi para isso que pedimos ao ministro para vir aqui", confessou.
O ministro
britânico, William Hague, esteve também reunido com Andri Deshchitsia, entre
outros, na residência do embaixador norte-americano em Paris. O
secretário de Estado norte-americano, John Kerry,
também esteve presente, segundo a BBC.
Os encontros
desta quarta-feira antecedem uma cimeira extraordinária da União Europeia sobre
a Ucrânia, marcada para quinta-feira. Durante a manhã, Kerry, que terça-feira
esteve na Ucrânia, esteve em contacto com Hague e com o ministro interino dos
Negócios Estrangeiros ucraniano.
Entretanto,
os ministros dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, dos EUA e da Ucrânia
concordaram quanto à necessidade de enviar observadores internacionais para a
Crimeia e para o Leste do país. A OSCE anunciou esta quarta-feira que pretende
enviar um grupo de monitores de 18 países para a Ucrânia. "Estamos concentrados
na situação urgente no terreno na Ucrânia neste momento", afirmou o
representante dos EUA na organização, Daniel Baer.
À chegada a
Paris, Andri Deshchitsia teve palavras de diálogo. "Queremos dizer algumas coisas
aos russos. Queremos manter um bom diálogo e boas relações com o povo russo.
Queremos resolver este conflito de forma pacífica e não queremos lutar contra
os russos", afirmou, citado pela Reuters.
Esta
quarta-feira de manhã, Lavrov afirmou, no final de uma visita a Madrid, que o
Ocidente deu um mau exemplo ao apoiar manifestantes que tomaram o poder na
Ucrânia, violando a Constituição do país. "Não permitiremos um banho de
sangue na Ucrânia. Não permitiremos qualquer atentado contra a vida e a saúde
dos que vivem na Ucrânia, nem contra os russos que vivem na Ucrânia",
afirmou.
Na linha das
declarações de Putin, que na terça-feira afirmou que não há tropas russas em
acção na Crimeia, Sergei Lavrov disse em Madrid que o Governo de Moscovo não
pode ordenar aos homens armados que actuam na região da Crimeia que regressem
às suas bases porque são “forças de autodefesa” e não soldados russos.
“Se se está
a referir às unidades de autodefesa criadas por residentes na Crimeia, não lhes
damos ordens, não recebem ordens nossas”, disse numa conferência de imprensa
com o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Jose Manuel Garcia-Margallo.
“Quanto ao pessoal militar da frota do Mar Negro, está nas suas bases.”
O ministro
dos Negócios Estrangeiros da França, Laurent Fabius, disse, esta quarta-feira,
que as potências internacionais devem procurar retomar o diálogo sobre a
Ucrânia. As autoridades de Kiev devem trabalhar tanto com a União Europeia como
com a Rússia, "não com uma ou com a outra", afirmou, citado pela
Reuters.
O secretário
do Conselho de Defesa e Segurança da Ucrânia, Andri Parubi, disse a jornalistas esperar que a crise na Crimeia possa ser
resolvida pelo diálogo, em breve. "A noite passada houve poucas situações
de emergência e poucos conflitos", declarou. "Espero que nos próximos
dias seja encontrada forma de resolver tudo através de negociações".
A rejeição
pela Ucrânia, ainda liderada por Viktor Ianukovich, de um acordo de associação
e comércio livre com a União Europeia, e a aproximação à Rússia, em Novembro,
deu origem aos protestos de rua que levaram à actual crise político-militar.
Os Estados
Unidos acusam os russos de terem deslocado tropas para a Crimeia, num
"acto de agressão". O Governo de Moscovo argumenta com a necessidade
de defesa dos habitantes de origem russa e declarou que no terreno estão apenas
"tropas de autodefesa". Na terça-feira, Kerrv manifestou surpresa pela
negação de Putin da presença de soldados de Moscovo na Crimeia.
A Rússia
assumiu nos últimos dias o controlo de facto daquela região ucraniana, onde a
tensão se mantém mas sem episódios de violência. Já nesta quarta-feira, o Governo interino
da Ucrânia acusou forças russas de terem tomado o controlo parcial de uma base
de lançamento de mísseis na Crimeia
Bandeira ucraniana em Donetsk
A bandeira
ucraniana voltou nesta quarta-feira a ser hasteada no edifício da administração
local de Donetsk, no Leste do país, substituindo a russa que ali tinha sido colocada no sábado. Testemunhas citadas pela Reuters informaram
que o edifício, que estava ocupado desde segunda-feira por manifestantes pró-russos, foi evacuado pela
polícia.
A operação
decorreu na sequência de informações de que as instalações estariam
armadilhadas com bombas.
Um alto
responsável da administração Obama citado pela Reuters disse, entretanto, que o
Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, propôs ao líder russo, Vladimir
Putin, que faça regressar as tropas que tem na Crimeia às suas bases, e que em
troca sejam enviados para a região observadores internacionais que garantam os
direitos da população russófona. O assunto, abordado na conversa que Obama e
Putin tiveram no sábado, foi também discutido com a chanceler alemã Angela
Merkel, com quem Obama falou na terça-feira sobre a situação na Ucrânia.
Os Estados
Unidos voltaram também a repetir que Obama não estará presente na cimeira do G8
marcada para Junho em Sochi, na Rússia, a menos que haja uma alteração na
posição do Governo de Moscovo sobre a Ucrânia.
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