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segunda-feira, 31 de março de 2014

Um mundo de trevas?


OPINIÃO
ANTÓNIO CORREIA DE CAMPOS  (http:// www.publico.pt/autor/antonio-correia-de-campos)  31/03/2014-03:12

Os Ucranianos sentirão na pele, além do frio do próximo inverno, a penúria por perda do equilíbrio precário em que viviam.

A pata do urso. Em um escasso mês, a Europa e talvez o mundo, mudaram muito. A crise da Ucrânia, não se sabe ainda bem quem a provocou, expulsou o anterior Europeu        presidente, instalou um novo, provisório, e pode fazer regressar a anterior primeira-ministra de quem poucos tinham saudades.

Estimulada por Bruxelas e mais discretamente pela Alemanha a carne para canhão que animava as manifestações venceu as forças instaladas, mas sofreu perdas humanas consideráveis, não se sabendo ainda quem deu ordens aos atiradores furtivos, se o antigo ditador, se uma parte dos que o pretendiam substituir. Ao que parece, oligarcas reconhecidos foram,recompensados com lugares de governação. Os europeus mais generosos vibraram com uma nova revolução de veludo, que talvez seja de estopa. Como se esperava, Putin aproveitou a ocasião para acertar as fronteiras que Khrushchov havia generosamente concedido aos seus dilectos compatriotas, em 1954, isto é, englobou a Crimeia no perímetro russo.

O Ocidente - de novo estamos perante esta terminologia - tossiu, protestou e encaixou. Os EUA vieram lá de longe ameaçar os conquistadores com sanções individuais. Por enquanto só as concretizaram a alguns milionários, de quem se conhece a crónica de maus costumes. Putin promoveu um referendo que não deixa dúvidas sobre a real vontade dos habitantes da Crimeia em serem de novo russos. Mudou as leis internas para acolher o novo território, desafiou o Ocidente e levou a que três antigos chanceleres da Alemanha recomendassem cautelas e caldos de galinha. Obama andou por ai, tentou explicar aos europeus que lhes falta força militar, visitou o Papa, abençoou o novo presidente do conselho de Itália. Acicatou-nos a assinarmos o tratado de comércio e investimento com os EUA, a ele condicionando a promessa de vender à Europa, baratinho, o gás de xisto que a Europa recusa explorar, em nome de sacrossantos princípios de defesa do ambiente.

A Ucrânia recebeu a promessa de 13 mil milhões de euros do FMI, aos quais se seguirá mais um milhar de milhões dos próprios Americanos, se o Congresso concordar, e mais algum da União Europeia. As condições são ferozes, mas estão em linha com a gravidade do despautério em que a Ucrânia tem vivido. O preço do gás vai duplicar e o da gasolina quintuplicar. As pensões virão para metade e a frota de viaturas do estado vai ser leiloada. Provavelmente os preços administrados passarão a preços de mercado o que significa que transportes públicos, habitação, aquecimento, água e electricidade, educação e saúde passarão a ser pagas por valores reais. Ou seja, com vinte anos de atraso em relação às restantes repúblicas da antiga URSS, o país fará a sua entrada abrasiva na órbita do capitalismo. Duvido que queira aderir à União Europeia. Os Ucranianos sentirão na pele, além do frio do próximo inverno, a penúria por perda do equilíbrio precário em que viviam. Passarão anos a braços com o FMI e o Banco Mundial.


A crise para nós teve a vantagem de chamar a atenção da Europa para a importância dos corredores energéticos, tanto de electricidade como de gás natural. O Conselho Europeu dedicou ao tema uma parte importante da sua última reunião. A Península Ibérica fez já quase todo o trabalho de casa para que o mercado único de energia seja uma realidade; entrou a sério nas renováveis, modernizou as redes, acordou entre os países peninsulares o funcionamento de um mercado ibérico a caminho de se tornar competitivo, fez esforços denodados para abrir os Pirinéus às comunicações transfronteiriças e em matéria de gás equipou sete terminais, um deles em Sines, criou armazenamento faltando apenas concluir a ligação entre Mangualde e Zamora, já aprovada em Bruxelas, para que a rede de gás seja reversível, flexível e redundante, logo inteiramente segura. A inclusão do gás de xisto na agenda das conversas com Obama, agudiza a importância de Sines, um bom porto para acolher o gás americano se ele vier até à Europa. O que se liga com o uso do mesmo porto para o comércio marítimo com a China, quando o novo Canal do Panamá estiver operacional, evitando a dispendiosa rota do canal de Suez. Razão para, com urgência, se aprovar a linha de comboio até Badajoz.

A balança

 
OPINIÃO
VASCO PULIDO VALENTE (http://www.publico.pt/autor/vasco-pulido-valente21/03/2014 - 02:14


O que devia suceder, sucedeu: não o regresso à guerra fria, o regresso à velha balança das potências do século XIX

Como império continental, o império russo sempre teve o problema de estabelecer para si, e sob seu domínio, uma saída para o mar. Pedro, o Grande, construiu Petersburgo, julgando que ficava mais perto da Europa. Mas só parcialmente conseguiu o que queria; durante muitos meses por ano o Báltico oriental gelava e não permitia qualquer espécie de navegação. O verdadeiro ministro dos Negócios Estrangeiros do império, por exemplo, acabava por ser o embaixador em Londres. Catarina, a Grande, resolveu parcialmente o problema quando conquistou a Crimeia e construiu Sebastopol. Agora, sim, adquirira um porto de águas quentes, que estava aberto o ano inteiro e, por isso mesmo, se tornou a via principal da influência russa no Ocidente. Militar e comercialmente, era insubstituível.

Não foi por acaso que a única invasão triunfante da Rússia nos tempos modernos  (1853-1856), pela Inglaterra e a França de Napoleão III, se pôs como objectivo principal conquistar a Crimeia. Toda a gente sabia que, sem Sebastopol, a Rússia voltaria ao seu isolamento e pouco a pouco perderia o seu peso na Europa. Como não foi por acaso que na I Guerra a Alemanha trouxe a Turquia para o seu lado e na II Hitler aturou (com dificuldade) a sua neutralidade e tomou Sebastopol logo que pôde (von Manstein). A ajuda dada veio pelo Pacífico, com o prejuízo que implicava transportar o material para a frente de combate, e pelo mar Branco, transitável poucas semanas por ano e sujeito ao ataque dos submarinos da Alemanha. Sem Sebastopol, o império enfraquecia.


Claro que com o advento do comboio, e a seguir do avião de carga, as coisas mudaram. Sucede que tanto o comboio como o avião custavam muito mais do que o navio de mercadorias. E, além disso, a Rússia continuava impedida de construir no Ocidente uma marinha de guerra, capaz de agir a qualquer momento (supondo que a Turquia a deixava passar para o Mediterrâneo). Não admira que Sebastopol se tornasse num emblema do nacionalismo russo e da sua “porta aberta” para a Europa e para o Atlântico. A UE e a América não perceberam a tempo que o renascimento do império, com Putin ou sem ele, iria levar ao programa primário de recuperar a Crimeia. E encorajaram a Ucrânia, a que a Crimeia pertencia por uma extravagância de Khrutchov, a criar uma dependência, se não uma “aliança”, com a Europa. O que devia suceder, sucedeu: não o regresso à guerra fria, o regresso à velha balança das potências do século XIX.

Rússia quer atrair investidores estrangeiros para a Crimeia

“Estou em Simferopol”, escreveu Medvedev no Twitter
ALEXANDRE MARTINS (http//www.publico.pt/autor/alexandre-martins)    31/03/2014 - 09:12
O chefe do Governo russo, Dmitri Medvedev, aterrou na pensínsula do mar Negro com vários membros do seu Governo.

O primeiro-ministro russo chegou nesta segunda-feira à Crimeia, para uma visita que tem como objectivo consolidar o processo de anexação da península. O futuro já começou a ser preparado, anunciou Dmitri Medvedev: Moscovo vai transformar a Crimeia numa zona económica especial, para atrair investidores, e apostar nas perspectivas colossais" do turismo, para tornar a região auto-sustentável a curto prazo e aligeirar a carga financeira da integração na Rússia.

“O nosso objectivo é tornar a península o mais atrativa possível para os investidores, para que consiga gerar receitas suficientes para o seu próprio desenvolvimento", disse o chefe do Governo russo em Simferopol, capital da Crimeia.

A ideia é aplicar "regimes de impostos e alfandegários especiais, e também minimizar os procedimentos administrativos", avançou - por outras palavras, impostos mais baixos e menos papéis para preencher para as empresas estrangeiras que queiram ter uma representação na Crimeia. A Rússia tem 28 zonas económicas especiais (http://www.ved.gov.ru/eng/investing/sez/) espalhadas pelo seu território, de que beneficiam empresas como as norte-americanas Ford, 3M e Cisco; a francesa Air Liquide: a japonesa Yokohama; a dinamarquesa Rockwool; e a farmacêutica suíça Novartis.

Estas são algumas das medidas preparadas pelo Kremlin para fazer face aos custos imediatos com a anexação, depois de os responsáveis russos terem anunciado que as reformas dos habitantes da região vão ser aumentadas gradualmente até chegarem aos valores nacionais e que será feito um investimento na melhoria das infra-estruturas locais.

"Há oportunidades, e nós levámos tudo em consideração", afirmou Dmitri Medvedev.

Também nesta segunda-feira, o presidente executivo do maior banco russo, o Sberbank, disse ao Presidente Vladimir Putin que nos próximos seis meses o país poderá cortar o cordão umbilical que o une aos sistemas de pagamento Visa e MasterCard, que decidiram limitar as suas ligações aos bancos russos na sequência das sanções impostas (http://www.publico.pt/mundo/noticia/sançoes-comecam-a-deixar-marcas-na-economia-russa-1620234) pelos Estados Unidos e pela União Europeia a dezenas de políticos e alguns empresários.

O objectivo é criar um sistema russo de pagamentos por cartão de crédito, disse German Gref, ministro da Economia da Rússia entre 2000 e 2007. "Discutimos o assunto numa reunião com o banco central. É preciso fazer uma série de alterações legislativas, o que pode acontecer rapidamente. Depois da introdução das emendas à lei, penso que precisaremos de dois a seis meses de trabalho técnico para lançar o sistema nacional de pagamentos", explicou o presidente do Sberbank, num comunicado publicado no site do Kremlin.

Rússia insiste na federalização da Ucrânia
No terreno e nos corredores da diplomacia, a situação continua mais incerta do que as certezas económicas e financeiras da Rússia.

Um porta-voz do Governo interino de Kiev, identificado pela agência AFP como Olexi Dmitrachkivski, fez saber nesta segunda-feira que "as forças russas estão a retirar-se progressivamente da fronteira" com a Ucrânia, embora tenha salientado que não sabe se essas alegadas movimentações configuram apenas uma "substituição" ou algo mais elaborado, como "uma consequência das negociações entre a Rússia e os Estados Unidos".

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, reuniu-se com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, em Paris, num encontro que só terminou na madrugada de segunda-feira. Não houve nenhum acordo, mas o responsável russo disse que as conversações foram muito positivas e o seu homólogo norte-americano prometeu debater as propostas de Moscovo na Casa Branca.

Numa posição que já tinha sido transmitida por Vladimir Putin ao Presidente norte-americano, Barack Obama, numa  conversa telefónica no Sábado (http://www.publico.pt/mumdo/noticia/telefonema-entre-putin-e-obama-pode-ter-sido-primeiro-passo-para-o-degelo-1630238), a Rússia propõe que a Ucrânia seja transformada num conjunto de estados federados. “[Só uma estrura federal] protegerá os direitos da popolação russa, que é quem nos preocupa”, disse no domingo Sergei Lavrov.

Os Estados Unidos, por seu lado, continuam a insistir na retirada imediata das tropas russas da fronteira
com a Ucrânia e querem que as autoridades de Moscovo comecem a falar com o governo interino de Kiev, antes de negociarem seja o que for.

Achamos que essas forças estão a criar um clima de medo e de intimidação na Ucrânia. De certeza que não de que precisamos", afirmou John Kerry. Apesar dos esforços diplomáticos, até agora só foi possível concordar que é preciso chegar a um acordo:
"Os EUA e a Rússia têm diferentes opiniões sobre os acontecimentos que provocaram esta crise, mas ambos temos consciência da importância de encontrarmos uma solução diplomática e de, ao mesmo tempo, irmos ao encontro das necessidades do povo ucraniano", disse ainda o responsável norte-americano.

A resposta das autoridades ucranianas não deixou dúvidas quanto à receptividade que a proposta russa terá em Washington e Bruxelas, pelo menos por enquanto: "Gostaríamos que a Rússia parasse de ditar ultimatos a um país soberano e independente e centrasse a sua atenção na situação catastrófica e na total ausência de direitos das suas próprias minorias, incluindo a ucraniana", reagiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, em comunicado.

Os Estados Unidos, os países-membros da União Europeia e o comandante supremo da NATO na Europa acusam a Rússia de ter deslocado tropas para a fronteira com a Ucrânia, com dois objectivos possíveis: ou intimidar os ucranianos, ou invadir o seu território. Moscovo desmentiu sempre qualquer intenção de anexar outras regiões de maioria russófonas, mas os discursos sobre a "protecção" de russos em relação aos "ataques da extrema-direita" ucraniana, nomeadamente dos neonazis do Sector Direito (que desempenharam um papel importante no derrube do Presidente Viktor Ianukovich, em Fevereiro) não deixam os países ocidentais descansados.

A presença militar russa tem sido objecto de múltiplas interpretações. Na semana passada, o presidente do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, Andri Parubi, disse que a Rússia colocou 100.000 tropas ao longo da fronteira; o Departamento de Defesa norte-americano falou em 20.000; outras fontes nos Estados Unidos estimam que são até 40.000; e o Ministério da Defesa russo garante que não estão em curso quaisquer movimentações que violem as normais internacionais.

Numa reportagem publicada no site da estacão norte-americana NBC News, o jornalista Jim Maceda relata uma viagem de 1600 quilómetros (http://www.nbcnews.com/storyline/ukraine-crisis/tour-ukrainwe-russia-border-finds-no-signs-military-buildup-n67336) por território russo, ao longo da fronteira da Ucrânia, concluindo que não encontrou sinais de escalada militar.


domingo, 30 de março de 2014

Lavrov insiste que solução para a Ucrânia passa por uma federação

Serguei Lavrov e John Kerry já estão a falar sobre o futuro da Ucrânia
PÚBLICO 30/03/2014- 17:36 (actualizado às 18:17)
 Kiev rejeita a ideia, aconselhando Moscovo a "parar de ditar ultimatos a um país soberano e independente". Ministro russo e Jonh Kerry já estão a falar, em Paris.

Horas antes do encontro com o secretário de Estado norte-americano, em Paris, o ministro dos Negócios
Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, voltou a insistir que uma solução diplomática para a crise na Ucrânia - e para a tensão militar na fronteira com a Rússia – terá de passar pelo reconhecimento da autonomia das regiões do Sul e do Leste, no quadro de um Estado federal. Kiev veio já rejeitar liminarmente a proposta.

A “Federalização” da Ucrânia assume-se, de forma cada vez mais clara, como peça central do plano de Moscovo para o desanuviamento da crise que fez renascer na Europa o clima da Guerra Fria. “[Só uma estrutura federal] protegerá os direitos dos que vivem na Ucrânia e principalmente da população russa, que é quem nos preocupa”, disse o chefe da diplomacia de Moscovo, pouco antes de partir para Paris.

Sábado, no rescaldo do telefonema entre os presidentes Vladimir Putin e Barack Obama, Lavrov tinha já dito que a Rússia “não vê, francamente, outro caminho para o desenvolvimento sustentável do Estado ucraniano que
não seja a federalização”, em que as regiões possam decidir sobre “as ligações económicas e culturais com as regiões e os países vizinhos. ”Agora, o ministro russo propõe que americanos e europeus adiram à ideia para, em conjunto, formularem uma proposta aos que estão agora no poder”. Um convite ao diálogo feito “a todas as forças  políticas ucranianas, à excepção naturalmente dos radicais armados”.

Vários diplomatas reconhecem que é vital a concessão de maior autonomia às regiões de maioria russófona, onde são muitos os que não se revêem no rumo tomado pelo Governo interino ucraniano, dominado pela oposição pró-ocidental, e temem um afastamento da esfera de influência russa.

Mas a ideia não consta do plano apresentado pelos Estados Unidos (centrada no recuo das tropas russas e no envio de monitores internacionais para as regiões russófonas) que está em cima da mesa no encontro deste domingo entre Lavrov e John Kerry - os dois responsáveis já chegaram à residência do embaixador americano em Paris. E, mais importante do que isso, é liminarmente rejeitada por Kiev. “Gostaríamos que a Rússia parasse de ditar ultimatos a um país soberano e independente e centrasse a sua atenção na situação catastrófica e na total ausência de direitos das suas próprias minorias, incluindo a ucraniana”, reagiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em comunicado.


Evocando também a proposta feita por Lavrov para que Kiev voltasse a reconhecer o russo como segunda língua oficial do país, a nota questiona por que não faz Moscovo o mesmo como as outras línguas faladas no seu país. “O ucraniano é a língua de milhões de cidadãos russos”, afirma o comunicado, convidando o Governo russo para a “deixar de pregar para os outros” e a “olhar para o que se passa no seu próprio país”.

sábado, 29 de março de 2014

Acções da Rússia revelam “mágoa muito profunda” pelo fim da União Soviética, diz Obama

ALEXANDRE MARTINS  28/03/2014  -  13:38  (actualizado às 18:22)
Presidente norte-americano insta Vladimir Putin a retirar tropas da fronteira com a Ucrânia

Com a questão da Crimeia aparentemente arrumada na prateleira dos factos consumados, as atenções dos Estados Unidos e da União Europeia voltam-se para o sudeste da Ucrânia, em particular para os planos que a Rússia tem sobre o que está para lá da sua fronteira.

Moscovo diz que não tem planos nenhuns que envolvam a força militar e Washington está dividida entre a certeza da intimidação e as suspeitas de uma invasão. No meio de tantas dúvidas, a NATO volta a assumir o protagonismo perdido nos últimos anos, procurando agora reforçar a sua presença no Leste da Europa.

Nesta sexta-feira, numa entrevista à estacão de televisão CBS, gravada em Roma, o Presidente dos Estados Unidos, Baraek Obama, condenou mais uma vez as movimentações de tropas ao longo da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, que estão em curso "sob a aparência de exercícios militares".

"Pode simplesmente ser um esforço para intimidar a Ucrânia, ou eles podem ter outros planos", disse o Presidente norte-americano, na linha do que já tinha sido dito pelo vice-conselheiro nacional de Segurança dos Estados Unidos, Tony Blinken, numa entrevista à CNN, no domingo passado. Nesse mesmo dia, o supremo comandante da NATO na Europa, o general norte-americano Philip Breedlove, alertou para os receios de que a Rússia possa estar a preparar-se para invadir outras regiões no Leste da Ucrânia, ou até mesmo a república separatista da Transnístria, na Moldova, na fronteira sudoeste ucraniana - uma hipótese que o general classificou como "muito preocupante", porque esse cenário exigiria que as tropas russas atravessassem o território da Ucrânia.

Na entrevista à CBS, o Presidente dos Estados Unidos instou Moscovo a retirar as suas tropas da fronteira e a sentar-se à mesma mesa com representantes do Governo interino de Kiev, para ultrapassar o que descreveu como uma "mágoa muito profunda” em relação ao fim da União Soviética.

"Seria de esperar que, ao fim de duas décadas, um líder russo estivesse ciente de que o caminho certo não é voltar atrás e agir de uma forma característica da Guerra Fria, mas sim seguir em frente para uma maior integração na economia mundial e uma maior responsabilidade como actor internacional", disse o Presidente norte-americano.

As recentes acções de Moscovo - prosseguiu Barack Obama - revelam "um sentimento nacionalista russo muito forte e um sentimento de que o Ocidente se aproveitou da Rússia no passado".

"[Vladimir Putin] pode estar a errar na sua leitura sobre o Ocidente. Não há dúvidas de que está a errar na leitura sobre a política externa americana. Nós não temos qualquer interesse em cercar a Rússia e não temos quaisquer interesses na Ucrânia, para além de querermos que os ucranianos tomem as suas próprias decisões sobre as suas vidas", disse Barack Obama.

Reafirmando o reconhecimento de que a Rússia tem interesses legítimos na Ucrânia, o Presidente norte-americano rejeitou totalmente a forma que Moscovo escolheu para demonstrar esse facto ao mundo. "Eles têm influência na Ucrânia por causa do comércio, da tradição e da língua. Toda a gente reconhece isso. Mas há uma diferença entre isso e enviar tropas e anexar uma parte do país só porque se é maior e mais forte. Não é desta forma que a lei e as normas internacionais são cumpridas no século XXI."

Quanto à resposta da NATO a uma eventual invasão russa da Ucrânia, o Presidente norte-americano foi vago, preferindo insistir na eficácia das sanções económicas. Sobre o peso da aliança atlântica, sublinhou que a sua força será o que todos os seus membros quiseram que seja, em mais um recado aos países mais importantes da União Europeia, como a Alemanha e o Reino Unido, que têm reduzido as suas despesas militares.

É neste contexto de contenção orçamental na Europa – mas também de redução de gastos e alteração estratégica nos Estados Unidos, com as atenções viradas para a Ásia - que a NATO procura responder ao que alguns líderes ocidentais consideram ser o risco de uma invasão de novas regiões ucranianas pela Rússia.

Moscovo tem reafirmado que os seus planos - quaisquer que eles sejam - não passam pela entrada em força no território da Ucrânia. Nesta sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo tentou tranquilizar os receios do Ocidente, ao avançar que as movimentações militares na fronteira foram observadas por um grupo de inspectores de oito países, que concluiu não existir qualquer violação das normas internacionais.

"Representantes da Letónia, Alemanha, Suíça, Finlândia, Estónia, Bélgica, França e Ucrânia inspeccionaram a parte europeia da Rússia, no âmbito do tratado de Viena de 2011 sobre medidas de segurança, e não encontraram preparações agressivas nem actividades militares para além das que já tinham sido reportadas", citou a agência ITAR-TASS. Não é conhecida a composição dessas equipas de inspecção, mas o ministério russo afirmou que todas elas vão enviar relatórios à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.

No meio da retórica inflamada e da tensão militar, o economista e jornalista Anatole Kaletski - nascido em Moscovo em 1952, mas que tem repartido a sua vida entre o Reino Unido e os Estados Unidos desde os 14 anos de idade -, aconselhou o mundo a "pôr de lado o dramatismo", numa análise escrita para a agência Reuters, baseada nas premissas de que Vladimir Putin já alcançou tudo o que queria (a anexação da Crimeia "de forma espectacular") e que o Ocidente não está disposto a lutar militarmente pela reintegração da península na Ucrânia.


“Os discursos políticos e as notícias ignoram os cenários mais prováveis, porque são considerados aborrecidos de mais. Em vez disso, os políticos e os comentadores centram-se em hipóteses excitantes e dramáticas que poderiam ocorrer num qualquer cenário improvável, como uma guerra aberta entre a Rússia e a Ucrânia, e ignoram a baixa probabilidade de isso acontecer", escreveu Anatole Kaletski, colaborador de publicações como a The Economist e o Financial Times, e duas vezes distinguido com o British Press Awards.

Klitschko desiste da candidatura às presidenciais ucranianas

O líder do Udar (Murro) pede a união das forças democráticas nas presidenciais de Maio
PUBLICO 29/03/2014 - 14:24
 Antigo pugilista anuncia apoio ao milionário Petro Poroshenko, o "rei do chocolate" pró-ocidental.

Vitali Klitschko, antigo campeão mundial de pugilismo e um dos líderes da oposição durante os protestos populares em Kiev, retirou a sua candidatura às eleições presidenciais ucranianas e anunciou o seu apoio a Petro Portoshenko, um dos homens mais ricos do país.

“As forças democráticas devem apresentar um candidato único. Esse candidato deve ser quem tem
mais apoio. Hoje, a meu ver, ele é
Petro Porochenko”, disse Klitschko, que depois de pendurar     as luvas formou o Udar (Murro), um partido populista pró-europeu, que fez da denúncia da corrupção a sua bandeira.

Os protestos contra a recusa do ex-Presidente Viktor Ianukovich em assinar um acordo de associação com a União Europeia deram-lhe protagonismo, mas não o suficiente para aparecer como o mais bem colocado nas sondagens para vencer as eleições de 25 de Maio. Um estudo do Instituto de Sociologia de Kiev, divulgado quarta-feira, atribuía ao antigo pugilista 9% das intenções de voto, bem atrás dos 25% conseguidos por Poroshenko.

Figura de consenso (foi ministro dos Negócios Estrangeiros do Presidente pró-europeu Viktor Iushenko, entre 2009 e 2010, e ministro da Economia de Ianukovich, em 2012), Poroshenko esteve desde o início ao lado dos manifestantes da Maidan. É também o sexto homem mais rico da Ucrânia, com uma fortuna avaliada em 1100 milhões de dólares, resultado de negócios nos media e no fabrico de chocolate - actividade que lhe vale na Ucrânia o cognome do “rei do chocolate”.

A saída de cena de Klitschko, que anunciou em alternativa a intenção de se candidatar à câmara de Kiev, coloca sob pressão a ex-primeira-ministra Iulia Timochenko, que confirmou quinta-feira a intenção de candidatar-se à presidência. Apesar de ser a dirigente mais conhecida, dentro e fora do país, e do tempo que passou na prisão, as sondagens atribuem-lhe menos de 10% das intenções de voto, ainda assim o suficiente para forçar Poroshenko a uma segunda volta, numa votação em que se espera a fragmentação dos votos entre quase uma dezena de candidatos.


“A situação pede uma consolidação e uma união de esforços”, afirmou Klitschko num discurso aos militantes do seu partido, sublinhando que “isto só pode ser conseguido se não dividirmos os votos entre os candidatos democráticos”.

Telefonema entre Putin e Obama terá sido primeiro passo para o degelo sobre a crise na Ucrânia.

Foi Putin quem tomou a iniciativa de telefonar ao homólogo americano
ANA FONSECA PEREIRA   29/03/2014  -  12:50
 Os dois Presidentes concordaram que os seus chefes da diplomacia devem reunir-se em breve para discutir “parâmetros comuns” para a resolução do diferendo

Foi a primeira conversa entre os dois Presidentes desde a anexação formal da Crimeia. Com as atenções centradas na fronteira Leste da Ucrânia, onde a Rússia estará a reforçar a sua presença militar, Vladimir Putin telefonou sexta-feira à noite a Barack Obama para discutir uma solução diplomática para uma crise que ressuscitou palavras e gestos da Guerra Fria.

Os relatos de Washington e Moscovo sobre a conversa não são exactamente coincidentes, mas das duas versões resulta a ideia de que, depois de semanas em que os acontecimentos no terreno se sobrepuseram à política dos gabinetes, há agora uma tentativa de dar novo protagonismo à diplomacia, reparando alguns dos fossos cavados. Sinal disso, é o acordo alcançado para um encontro, o mais breve possível, entre os chefes da diplomacia dos dois países para discutir “parâmetros concretos de um trabalho em comum”.

A Casa Branca sublinha que foi Putin quem telefonou a Obama, que atendeu a chamada pouco depois de sair de um encontro com o rei Abdullah da Arábia Saudita, na última etapa de uma viagem internacional que ficou marcada pela situação no Leste da Europa e onde multiplicou críticas à actuação de Moscovo.

Segundo a versão de Washington, o Presidente russo quis discutir a proposta norte-americana para a resolução da crise na Ucrânia, uma iniciativa apresentada antes da anexação da Crimeia e que Moscovo ignorou até agora. Previa o regresso dos militares russos às bases que mantêm na península desde o fim da União Soviética e o início de conversações directas entre a Rússia e o Governo interino da Ucrânia, bem como o envio de monitores internacionais para o Leste do país, a fim de garantir o respeito pelos direitos da minoria russófona - a justificação usada por Moscovo para anexar a Crimeia, formalizada depois de um referendo em que a opção foi votada pela esmagadora maioria dos votantes, mas que não obteve reconhecimento internacional.

Obama, adianta a Presidência americana, garantiu a Putin que “continua a apoiar uma solução diplomática”, mas “deixou claro que isso só será possível se a Rússia retirar as suas tropas [da zona de fronteira] e não adoptar mais passos que violem a integridade e a soberania da Ucrânia”. Obama convidou Putin a “colocar por escrito” a sua resposta à iniciativa americana.

Já neste sábado, o Kremlin veio dizer que o Presidente russo tomou a iniciativa de telefonar ao homólogo norte-americano para, em conjunto, “examinarem medidas que a comunidade internacional possa dar para ajudar a estabilizar a situação”.

A desestabilização a que o comunicado se refere nada tem a ver com um eventual confronto entre as forças russas e ucranianas - perigo que Moscovo desvaloriza, insistindo que não tem planos de invadir o país vizinho -, mas “às acções dos extremistas [ucranianos] que, com toda a impunidade, cometem actos de intimidação contra habitantes pacíficos, estruturas de poder e forças da ordem em várias regiões e em Kiev”. Para a Rússia, as manifestações que levaram à fuga do Presidente eleito da Ucrânia, o pró-russo Viktor Ianukovich, não passaram de um golpe de Estado, acusando a oposição, agora no poder, de estar refém das forças de extrema-direita que lideraram a contestação nas ruas.


Num sinal de um, para já tímido, desanuviamento, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, telefonou neste sábado ao ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, para concertar agendas, revelou o Kremlin. E em entrevista à televisão russa, Lavrov afirmou que os pontos de vista “estão a aproximar-se”. “O meu último encontro com Kerry, em Haia, e os meus contactos com a Alemanha, a França e outros países mostram que se desenha a possibilidade de uma iniciativa comum que poderá ser proposta à Ucrânia”, afirmou o chefe da diplomacia russa, dizendo uma vez mais que Moscovo “não tem intenção nem interesse em atravessar a fronteira da Ucrânia”. A questão da Crimeia, que levou os EUA e a União Europeia a aprovar sanções contra dirigentes próximos de Putin, parece já fora deste debate, sendo a sua anexação dada como um facto consumado por todos.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Desta vez é diferente

OPINIÃO
TERESA DE SOUSA  23/03/2014  -  09:50
 
               1.  Estamos tão habituados a criticar a eterna indecisão da União Europeia quando se trata de questões de segurança internacional que, por vezes, não conseguimos detectar a mudança. Podemos talvez agradecer a Vladimir Putin o facto de, desta vez, as coisas não serem assim.
           
          Podemos dizer que a União Europeia não prestou a devida atenção à sua estratégia brutal para regressar ao estatuto de grande potência a quem os EUA têm de fazer a devida vénia. É verdade. Imagina-se facilmente que, durante as negociações do Acordo de Associação com a Ucrânia, a eurocracia não deve ter prestado a mínima atenção à realidade política envolvente. Os líderes europeus andam há tanto tempo mergulhados na crise do euro, que pouca atenção devem ter prestado à “parceria oriental”, uma daquelas coisas que a Europa faz quase automaticamente e que já pouco tem a ver com a realidade europeia. Em Dezembro, Putin forçou o “seu” Presidente ucraniano a não assinar o acordo. No dia seguinte, foi o que se viu em Kiev. A velocidade dos acontecimentos deve ter surpreendido tanto a Europa como o próprio Presidente russo. A surpresa não o impediu de reagir aos acontecimentos de forma a ocupar a Crimeia e a demonstrar aos países europeus que fazem fronteira com a Rússia que mais vale portarem-se bem.

            Putin calculou mal alguns aspectos da sua estratégia. Ocupou a Crimeia e integrou-a na Rússia em menos de oito dias, com um referendo que foi uma farsa e que, até agora, ninguém reconheceu como legítimo. Continua a ameaçar o território oriental da Ucrânia, alegando a protecção da minoria russa. Como escrevia Jim Hoagland, colunista do Washington Post, cometeu o erro de proclamar a sua nova doutrina: “Moscovo intervirá para proteger os russos étnicos noutros países contra perigos imaginários”. Esta doutrina não é apenas um desafio à União Europeia e à NATO, é também a mensagem errada para obrigar as antigas repúblicas soviéticas a integrar-se na sua União Euroasiática. Tudo isto já é conhecido. Mas Putin falhou na avaliação que fez da resposta europeia, cuja fraqueza olha com um enorme desprezo, contando com a suas eternas divisões, muitas delas ditadas pelos negócios, incluindo a energia.

            Para que a sua avaliação tivesse sido correta, era preciso que a Europa não tivesse percebido o óbvio: que a ocupação da Ucrânia e a ameaça a outros países foi aquilo que em língua inglesa se chama de “game changer”. Por mais distraída que viva em relação ao mundo que a cerca, há coisas que não pode ignorar. Foi o que aconteceu. “A conduta da Rússia é interpretada erradamente como o início de nova guerra fria com a América”, escreve a Economist. “Coloca uma ameaça mais ampla porque Putin conduziu um carro de combate contra a ordem existente”. Para Obama é um momento fundamental: “tem de liderar, não apenas cooperar”. Para a Europa, o reforço da NATO e o fim da dependência energética passam a ser cruciais.

2         2. A grande novidade é a Alemanha. Enquanto David Cameron ainda lia memorandos sobre como preservar a City do eventual congelamento dos bens dos oligarcas e a França se punha a fazer contas aos “Mirages” que queria vender à Rússia, Angela Merkel já tentava coordenar a sua resposta com Obama. Em todas as suas declarações, no Bundestag ou fora dele, a chanceler deixou claro que esta não era uma crise como as outras e que a resposta não poderia ser a mesma de sempre. Com o seu peso político, contribuiu decisivamente para que a Europa não se dividisse. Foi a principal interlocutora de Obama, mostrando que a Alemanha não se preocupa apenas com a economia. A partir daqui, o caminho vai ser mais difícil. No Conselho Europeu da semana passada, Cameron e Hollande já tinham deixado para trás a City e os Mirages, defendendo a quase inevitável “fase três” das sanções económicas, enquanto Merkel se mantinha mais prudente (não tanto sobre a sua inevitabilidade, mas quanto ao ritmo a que devem ser anunciadas). As relações económicas entre a Alemanha e a Rússia são enormes. Pode dizer-se que as sanções políticas aplicadas pelos EUA são muito mais duras do que as europeias. O comércio entre a União e a Rússia é 10 vezes maior do que o dos Estados Unidos e a dependência energética necessita de uma forma qualquer de encontrar alternativas.

            A Europa será diferente quando esta crise acabar. Por agora, tem de prestar atenção aos seus membros que estão na fronteira com a Rússia e onde vivem amplas minorias russas (como é o caso dos Bálticos) e, mais do que tudo, tem de investir a fundo, politica e economicamente, no fortalecimento do Governo transitório de Kiev que, sem a Crimeia e com as provocações russas, se vê agora mais livre para receber a ajuda ocidental. Muita coisa vai passar por aí. A assinatura da parte política do Acordo de Associação durante o Conselho Europeu é a prova mais evidente de que a música que a Europa está a aprender a tocar é outra. Mesmo que seja preciso não fechar todas as portas para uma solução diplomática que estabilize o novo status quo europeu.

            O próprio Obama não descura este aspecto. Chegará a Haia na segunda-feira para presidir à cimeira sobre a segurança nuclear que ele próprio convocou e que é um dos dossiers mais importantes da sua política externa. A Rússia mandará uma delegação chefiada pelo chefe da diplomacia Sergei Lavrov. O Presidente chinês Xi Jiping estará lá, na sua primeira visita à Europa, incluindo às sedes das instituições europeias. Absteve-se no Conselho de Segurança e mantém vão debater a estratégia face a Putin e à Ucrânia. Por enquanto, a Rússia está isolada na sua aventura bélica. O Ocidente não pode baixar a guarda. Mesmo que conte com a “racionalidade” de Putin (algo duvidosa), o Presidente russo matou qualquer possibilidade de um regresso ao passado, afirmando-se abertamente como uma potência antiocidental e agressiva.

3        3. Com tudo isto a acontecer, muito do que se tem dito em Portugal sobre esta crise é um pouco preocupante. Entre diplomatas, militares, analistas e comentadores parece prevalecer a ideia de que, vendo bens as coisas. Putin até tem alguma razão.


          Os paralelismos históricos surgem em catadupa, encontrando nos Pedros e nas Catarinas a justificação de Putin, percebendo a “humilhação” da Rússia pelo Ocidente, que teve a peregrina ideia de vencer a Guerra Fria. Ouve-se e não se acredita. A História é muito importante, mas o mundo de hoje é muito diferente, graças às democracias que venceram o fascismo e o comunismo e que estabeleceram uma ordem assente na regra, e à globalização, que ligou a economia e as pessoas de uma forma nunca antes experimentada. Ainda não estamos de regresso ao século XIX, com a sua balança de poder. E, como escreveu Toqueville, as democracias, apesar de parecerem fracas e viverem numa aparente confusão, são extraordinariamente resistentes.