Pró-russos em Slaviansk,
no domingo
PÚBLICO 14/04/2014 – 08:59 (actualizado às 11:21)
Presidente ucraniano em exercício,
Oleksander Turchinov, fala pela primeira vez em possibilidade de referendo
sobre estatuto do país. Novas autoridades de Kiev têm recusado qualquer
ideia de “federalização”
Um ultimato que o Governo da Ucrânia deu aos separatistas pró-russos para
deporem as armas e acabarem com a ocupação de edifícios públicos
chegou ao fim na manhã desta segunda-feira sem que, pelo menos na cidade de Slaviansk, tivesse sido cumprido. Ao contrário, há
notícias de acções de pró-russos onde ainda não tinham ocorrido. Ao mesmo
tempo, pela primeira vez, as novas autoridades de Moscovo admitem um referendo
ao estatuto do país.
Em Horlivka, a última grande cidade da região de Donetsk onde
pró-russos ainda não tinham saído à rua, manifestantes invadiram na manhã desta
segunda-feira o edifício da câmara e a sede da polícia. Foram
lançados cocktais-molotov e ouviram-se explosões.
Mas em Slaviansk, onde no domingo ocorreram confrontos, apesar do ultimato
que o Presidente ucraniano em exercício, Oleksander Turchinov, tinha fixado, um
correspondente da Reuters disse que a bandeira da Rússia flutuava na sede da
polícia, um dos três edifícios tomados por pró-russos, e que homens armados
estavam a reforçar barricadas com sacos de areia levantadas em seu
redor. Um camião parecia estar a transportar pneus para reforçar essas
barreiras.
Turchinov estabeleceu um prazo até às 6h00 TMG desta segunda-feira (7h00 em Portugal Continental) para
que os edifícios fossem desocupados e os pró-russos depusessem as armas, sob
pena de uma acção de segurança em larga escala que envolveria o Exército.
Turchinov acusa a Rússia de inspirar e organizar as rebeliões no Leste do país.
“Não vamos permitir que a Rússia repita o cenário da Crimeia”, disse.
Já esta segunda-feira falou no Parlamento sobre a possibilidade de
organizar um “referendo nacional” sobre o estatuto do país. "Não somos
contra a realização de um referendo em todo o país que, se o Parlamento assim o
decidir, poderia decorrer ao mesmo tempo que a eleição presidencial",
a 25 de Maio, disse num reunião com líderes de grupos políticos.
"Estou certo de que a maioria dos ucranianos se pronunciariam por uma
Ucrânia indivisível, independente, democrática e unidade", declarou
também. Turchinov não explicou a questão do referendo. As novas autoridades de
Kiev tinham até agora recusado qualquer ideia de "federalização"
Separatistas do Leste do país, entre os quais grupos armados, reclamam
referendos locais sobre uma ligação à Rússia ou uma "federalização"
da Ucrânia.
A Rússia também defende uma "federalização" como forma de
garantir os "legítimos interesses dos russófonos do Leste e do Sul da
Ucrânia.
No domingo, o Governo de Kiev lançou uma “operação antiterrorista
de larga escala” contra os militantes armados que ocuparam quartéis da polícia
e outros edifícios públicos em vários pontos do Leste da Ucrânia, o que deu
origem a violentos confrontos em cidades como Slaviansk, Donetsk ou Kharkov — por onde alastra a rebelião separatista pró-russa.
As trocas de tiros entre as forças especiais ucranianas e as milícias
separatistas provocaram baixas de ambos os lados. Além de um número
indeterminado de feridos, estão confirmadas as mortes de um oficial das forças
especiais ucranianas e de um elemento das milícias pró-Rússia. A Rússia reagiu
dizendo ao Governo de Kiev para cessar "a guerra contra o seu próprio
povo” e pedindo a reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
AUMENTAM RECEIOS DE UM
CONFRONTO
As autoridades de Moscovo consideram “criminoso” o eventual recurso à força
contra os pró-russos. No domingo à noite, o Ministério dos Negócios
Estrangeiros da Rússia emitiu uma nota em que classificava a mobilização da
tropa contra os rebeldes separatistas como “ordem criminal” e dizia que era o
Ocidente que tinha agora “a responsabilidade de evitar uma guerra civil na
Ucrânia”.
No Conselho de Segurança, que se reuniu de emergência na noite de domingo,
a Rússia foi acusada de promover a instabilidade no Leste da Ucrânia. Na que
foi a décima reunião dedicada à crise na Ucrânia, desde que no final do ano
passado começaram os protestos que levaram à queda do Presidente Viktor
Ianukovich, ficou claro o isolamento da Rússia. Nem a China, que apelou "à
via diplomática", esteve ao seu lado.
Os países ocidentais acusaram as autoridades de Moscovo de promoverem a
desestabilização do Leste da Ucrânia com uma estratégia semelhante à usada na
Crimeia. O embaixador do Reino Unido nas Nações Unidas, Mark Lyall Grant, disse
que a Rússia concentrou entre 35 mil a 40 mil soldados junto à fronteira
ucraniana, a juntar aos 25 mil que diz estarem deslocados na Crimeia —
controlada pelas autoridades de Moscovo desde o mês passado. A Rússia anunciou,
nesta segunda-feira, o lançamento com êxito de um míssil balístico
intercontinental RS-24 equipado com uma ogiva múltipla.
O embaixador russo na ONU, Vitali Churkin, mostrou-se preocupado com o anúncio de Turchinov e pediu ao Ocidente para travar essa
ameaça, tal como fizera horas antes o ministro russo dos Negócios Estrangeiros,
Sergei Lavrov. Contestou também as acusações feitas pelo representante da
Ucrânia, Iuri Sergeiev, de acusações de terrorismo e conivência de Moscovo.
Numa reacção aos comentários ocidentais aos acontecimentos na Ucrânia, o
ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, disse que a
“hipocrisia ultrapassa os limites”. “Não podemos esquecer que a violência na
Maidan [praça de Kiev, onde decorreu a contestação que levou à queda de
Ianukovich], que se saldou por dezenas e dezenas de mortes foi qualificada de
democracia, e agora fala-se de terrorismo a
propósito de manifestações pacíficas que decorrem no sudeste do país”, disse,
numa conferência de imprensa.
O anúncio de Turchinov e a concentração de tropas russas fez aumentar os
receios de um confronto. Ainda antes da reunião do Conselho de Segurança, a
embaixadora norte-americana naquele órgão, Samantha Power, disse que o
Governo dos Estados Unidos está disposto a impor sanções adicionais a Moscovo
se a situação se mantiver no Leste da Rússia.
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