Militante pró-russo guarda um dos edifícios ocupados em Slavyansk
JOÃO MANUEL ROCHA 23/04/2014 -
17:59
Lavrov reagiu a anúncio por Kiev de recomeço de operação
"antiterrorista" no Leste da Ucrânia, lembrando conflito armado
de 2008. “Não vejo outra maneira que não seja responder”, disse.
A Rússia admitiu esta quarta-feira, claramente, a
possibilidade de uma intervenção militar directa na Ucrânia, tal como fez
na Geórgia, em 2008, se entender
que os seus interesses estão a ser atacados.
“Se os nossos interesses,
legítimos, os interesses dos russos forem directamente atacados, como foram por
exemplo na Ossétia do Sul [território separatista da Geórgia],
não vejo outra
maneira que não seja responder, no respeito pelo direito
internacional”, disse o ministro dos Negócios
Estrangeiros. Serguei Lavrov, numa entrevista
à estação televisiva Russia Today. “Um ataque contra os cidadãos russos é um
ataque contra a Rússia”, acrescentou.
Em 2008, a Rússia e a Ucrânia envolveram-se numa breve guerra,
após a qual o Governo de Moscovo reconheceu a independência dos territórios
separatistas pró-russos da Ossétia do Sul e da Abkhazia.
Pouco depois das declarações de
Lavrov, um porta-voz militar russo informou que tropas de Moscovo realizaram
exercícios no sudeste da região de Rostov, que faz fronteira
com a Ucrânia. Imagens da
Reuters mostraram movimentações de veículos militares, incluindo jipes,
blindados e rampas móveis de lançamento de
mísseis, num aeródromo.
As palavras de Lavrov seguiram-se ao anúncio pelo
governo interino da Ucrânia do recomeço da operação “antiterrorista” contra
separatistas pró-russos que, há semanas, ocupam edifícios governamentais e
controlam cidades do leste. O reinício da acção, divulgado horas depois do fim
da visita a Kiev do vice-Presidente dos EUA, Joe
Biden, levou o ministro
russo a estabelecer uma relação entre os factos. “Não tenho qualquer razão para
não acreditar que os americanos dirigem este espectáculo de forma directa”,
disse.
Mais tarde, o ministério dos
Negócios Estrangeiros russo insistiu numa retirada dos militares deslocados pelo
governo de Kiev para o Leste da Ucrânia como condição para um diálogo que
acredita ser o desejo dos países ocidentais. A diplomacia de Moscovo
manifestou-se também surpreendida por Ucrânia e EUA “distorcerem” a
interpretação do acordo alcançado na semana passada em Genebra, o qual previa o
desarmamento de “todos os grupos ilegais” e a desocupação de edifícios
públicos ucranianos tomados
por pró-russos.
Moscovo entende que Kiev e os EUA
“fecham os olhos” a acções provocadoras de nacionalistas ucranianos e - apesar
de repetidas alegações de sentido contrário - garante que não controla os pró-russos
da Ucrânia. Ficou por isso sem resposta um apelo feito pela União Europeia para
que a Rússia use a sua influência para acabar com raptos e mortes atribuídos a
separatistas no Leste da Ucrânia.
O Departamento de Estado norte-americano declarou-se esta quarta-feira preocupado com notícias do rapto por
pró-russos, em Slaviansk, de um jornalista norte-americano
do site Vice News. O auto-proclamado
presidente da câmara da cidade, Viatcheslav Ponomarev, confirmou na terça-feira
à noite que o repórter Simon Ostrovsky estava nas instalações locais dos
serviços de segurança, controladas por separatistas, e se encontrava bem.
Os EUA têm repetido que está fora de causa uma intervenção militar na
Ucrânia, mas a NATO, Organização do Tratado do Atlântico Norte, anunciou nos
últimos dias o reforço da presença militar nos países membros geograficamente
situados mais a Leste. O aumento da tensão pode levar a um reforço das sanções
económicas impostas à Rússia após a anexação da Crimeia - o secretário de
Estado norte-americano, John Kerry, repetiu-o na terça-feira, numa conversa telefónica com Lavrov
- e a uma eventual resposta de Moscovo que poderia passar pela corte do
fornecimento de gás à Europa. O ministério da Energia de Moscovo anunciou esta
quarta-feira ter proposto ao comissário europeu Guenther Oettinger um encontro
sobre o gás entre Rússia, Ucrânia e comissão
europeia, que se realizaria em Moscovo, na próxima segunda-feira.
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