Cidadãos erguendo
barricadas à volta da esquadra da polícia em Slaviansk
RITA SIZA
13/04/2014-00:00
Ministro do Interior promete "tolerância zero" contra
terroristas armados. Em Kramatorsk houve trocas de tiros. Ministro do Interior
fala em "agressão" da Rússia, que desmente estar por trás das
manobras.
Os rebeldes separatistas que reclamam a autodeterminação de Donetsk, no
Leste da Ucrânia, intensificaram a sua campanha contra o Governo de Kiev
e alargaram a sua área de "actuação" para além dos limites daquela
cidade que serve de capital à região industrial do país. Envergando uniformes
militares e armados com granadas e armas de fogo, cerca de 20
militantes pró-russos tomaram uma esquadra de polícia em Slaviansk, e subiram a
parada para a resposta do Ministério do Interior - que de imediato enviou
tropas especiais para a região.
O Presidente interino, Olexander Turchinov, convocou uma reunião urgente do
conselho de segurança nacional para discutir a resposta do Governo à escalada da
tensão, e o ministro do Interior, Arsen Avakov, prometeu uma acção rápida e
eficaz para "repelir os terroristas" que ameaçam a integridade
territorial da Ucrânia. Depois de uma semana acantonados no edifício do governo
regional de Donetsk, os "activistas" pró-Rússia - que as autoridades
ucranianas e aliados ocidentais dizem ser agentes desestabilizadores apoiados
por Moscovo - começaram a expandir as suas frentes de luta contra o novo
Governo ucraniano.
Avakov denunciou a existência de vários focos de confrontos e ataques dos
secessionistas no Leste do país, que classificou como uma "agressão"
fomentada pela Rússia - uma acusação desmentida pelo ministro dos Negócios
Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, num telefonema ao seu homólogo
ucraniano. O ministro do Interior indicou uma "reacção muito dura e
severa" das forças ucranianas às investidas dos "provocadores" e
"terroristas armados". "Para esses é tolerância zero",
escreveu numa mensagem de Facebook em que dava conta de troca de tiros entre os
grupos armados e a polícia na cidade de Kramatorsk.
No entanto, o Governo está fortemente condicionado pela ameaça de
intervenção da Rússia em caso de repressão ou violência contra a população
russófila. Esse foi o pretexto para a ofensiva de Moscovo na Crimeia, em
Fevereiro: com cerca de 40 mil soldados russos estacionados a duas horas da
fronteira, os dirigentes ucranianos não podem arriscar a repetição da História.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, procurou acalmar os
líderes do movimento secessionista com promessas de uma maior autonomia
regional. Em conversações em Donetsk, o líder interino garantiu que estava
disposto a promover uma reforma constitucional para transferir várias
competências de Kiev e a negociar uma solução pacífica para o impasse no Leste.
Mas a sua visita à região não parece ter surtido qualquer efeito. Os
rebeldes não desarmaram e este sábado forçaram a demissão do chefe da polícia
regional de Donetsk, abrindo mais uma brecha na autoridade do Estado. "Em
cumprimento das vossas exigências, afasto-me do cargo", cedeu Kostiantin
Pozhidaiev, perante uma multidão concentrada em frente do quartel-general da
cidade. No edifício, como em muitos outros imóveis regionais, já não se agita a
bandeira da Ucrânia: agora, são as cores da Rússia, vermelho, branco e azul, ou
as tarjas laranja e pretas adoptadas pelos separatistas, que se vêem nas
janelas.
Além dos grandes centros urbanos de Donetsk, Lugansk e Kharkov, e também de
Slaviansk (que fica a cerca de 150 quilómetros da
fronteira com a Rússia), os rebeldes pró-russos começam a avançar para outras
localidades, complicando a tarefa das forças destacadas pelo Governo. Em
declarações à BBC, Alexander Gnezdilov, o porta-voz dos activistas que declaram
a autonomia da "república popular" de Donetsk, esclareceu que os
militantes que se dirigiram para Slaviansk constituem um "grupo
independente" solidário com o protesto contra o Governo de Kiev.
Segundo dizia a Reuters, os rebeldes que ocuparam a esquadra de Slaviansk
recolheram todo o arsenal de mais de 400 armas ali disponível, distribuindo-o pelos seus apoiantes, e contaram também com a colaboração de residentes locais que ergueram
barricadas com pneus e organizaram checkpoints nas estradas para tentar travar o acesso do Exército à cidade.
Um militante entrevistado pela Associated Press, que se identificou apenas
como Serguei, explicou que a razão pela qual decidira pegar em armas era para
proteger a região dos "nacionalistas radicais e da junta que tomou o poder
em Kiev". "Só temos uma exigência, que é a realização de um referendo
para a anexação à Rússia. Não queremos ser escravos da América e do
Ocidente", afirmou.
Entretanto, em Kiev, o Governo interino informou que a empresa estatal
Naftogaz suspendeu os seus pagamentos à Rússia, e preveniu a Europa para
eventuais "problemas" de abastecimento de gás natural. A decisão
resulta da subida do preço praticado pela russa Gazprom: com a queda do
Presidente Viktor Ianukovich, a Rússia acabou com os subsídios que mantinham em
baixa as facturas dos consumidores ucranianos.
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