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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Separatistas avançam no Leste e Governo reúne conselho de segurança

Cidadãos erguendo barricadas à volta da esquadra da polícia em Slaviansk
RITA SIZA 13/04/2014-00:00
Ministro do Interior promete "tolerância zero" contra terroristas armados. Em Kramatorsk houve trocas de tiros. Ministro do Interior fala em "agressão" da Rússia, que desmente estar por trás das manobras.

Os rebeldes separatistas que reclamam a autodeterminação de Donetsk, no Leste da Ucrânia, intensificaram a sua campanha contra o Governo de Kiev e alargaram a sua área de "actuação" para além dos limites daquela cidade que serve de capital à região industrial do país. Envergando uniformes militares e armados com granadas e armas de fogo, cerca de 20 militantes pró-russos tomaram uma esquadra de polícia em Slaviansk, e subiram a parada para a resposta do Ministério do Interior - que de imediato enviou tropas especiais para a região.

O Presidente interino, Olexander Turchinov, convocou uma reunião urgente do conselho de segurança nacional para discutir a resposta do Governo à escalada da tensão, e o ministro do Interior, Arsen Avakov, prometeu uma acção rápida e eficaz para "repelir os terroristas" que ameaçam a integridade territorial da Ucrânia. Depois de uma semana acantonados no edifício do governo regional de Donetsk, os "activistas" pró-Rússia - que as autoridades ucranianas e aliados ocidentais dizem ser agentes desestabilizadores apoiados por Moscovo - começaram a expandir as suas frentes de luta contra o novo Governo ucraniano.

Avakov denunciou a existência de vários focos de confrontos e ataques dos secessionistas no Leste do país, que classificou como uma "agressão" fomentada pela Rússia - uma acusação desmentida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, num telefonema ao seu homólogo ucraniano. O ministro do Interior indicou uma "reacção muito dura e severa" das forças ucranianas às investidas dos "provocadores" e "terroristas armados". "Para esses é tolerância zero", escreveu numa mensagem de Facebook em que dava conta de troca de tiros entre os grupos armados e a polícia na cidade de Kramatorsk.

No entanto, o Governo está fortemente condicionado pela ameaça de intervenção da Rússia em caso de repressão ou violência contra a população russófila. Esse foi o pretexto para a ofensiva de Moscovo na Crimeia, em Fevereiro: com cerca de 40 mil soldados russos estacionados a duas horas da fronteira, os dirigentes ucranianos não podem arriscar a repetição da História.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, procurou acalmar os líderes do movimento secessionista com promessas de uma maior autonomia regional. Em conversações em Donetsk, o líder interino garantiu que estava disposto a promover uma reforma constitucional para transferir várias competências de Kiev e a negociar uma solução pacífica para o impasse no Leste.

Mas a sua visita à região não parece ter surtido qualquer efeito. Os rebeldes não desarmaram e este sábado forçaram a demissão do chefe da polícia regional de Donetsk, abrindo mais uma brecha na autoridade do Estado. "Em cumprimento das vossas exigências, afasto-me do cargo", cedeu Kostiantin Pozhidaiev, perante uma multidão concentrada em frente do quartel-general da cidade. No edifício, como em muitos outros imóveis regionais, já não se agita a bandeira da Ucrânia: agora, são as cores da Rússia, vermelho, branco e azul, ou as tarjas laranja e pretas adoptadas pelos separatistas, que se vêem nas janelas.

Além dos grandes centros urbanos de Donetsk, Lugansk e Kharkov, e também de Slaviansk (que fica a cerca de 150 quilómetros da fronteira com a Rússia), os rebeldes pró-russos começam a avançar para outras localidades, complicando a tarefa das forças destacadas pelo Governo. Em declarações à BBC, Alexander Gnezdilov, o porta-voz dos activistas que declaram a autonomia da "república popular" de Donetsk, esclareceu que os militantes que se dirigiram para Slaviansk constituem um "grupo independente" solidário com o protesto contra o Governo de Kiev.

Segundo dizia a Reuters, os rebeldes que ocuparam a esquadra de Slaviansk recolheram todo o arsenal de mais de 400 armas ali disponível, distribuindo-o pelos seus apoiantes, e contaram também com a colaboração de residentes locais que ergueram barricadas com pneus e organizaram checkpoints nas estradas para tentar travar o acesso do Exército à cidade.

Um militante entrevistado pela Associated Press, que se identificou apenas como Serguei, explicou que a razão pela qual decidira pegar em armas era para proteger a região dos "nacionalistas radicais e da junta que tomou o poder em Kiev". "Só temos uma exigência, que é a realização de um referendo para a anexação à Rússia. Não queremos ser escravos da América e do Ocidente", afirmou.


Entretanto, em Kiev, o Governo interino informou que a empresa estatal Naftogaz suspendeu os seus pagamentos à Rússia, e preveniu a Europa para eventuais "problemas" de abastecimento de gás natural. A decisão resulta da subida do preço praticado pela russa Gazprom: com a queda do Presidente Viktor Ianukovich, a Rússia acabou com os subsídios que mantinham em baixa as facturas dos consumidores ucranianos.

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