Rebeldes proclamaram
independência de Donetsk e içaram bandeiras russas no edifício do governo
regional
RITA SIZA 07/04/2014
- 17:04
Presidente interino da Ucrânia
responsabiliza a Rússia pelas manobras secessionistas e promete mão dura contra
“aqueles que pegarem em armas” contra Kiev
Rebeldes separatistas pró-russos tomaram o quartel-general da polícia e
ocuparam o edifício do governo regional de Donetsk, no Leste da Ucrânia, a
partir do qual proclamaram a existência de uma nova “república popular”
independente da capital Kiev e anunciaram a data para a realização de um
referendo para “a criação de um novo Estado soberano”: o próximo dia 11 de
Maio.
“A república popular de Donetsk será criada dentro dos limites administrativos
da região. A decisão entrará em vigor depois da celebração do referendo”,
anunciou, em russo, um dos líderes do autoproclamado Conselho Popular de
Donetsk, dando como certo um desfecho semelhante ao da Crimeia, após o voto
pela auto-determinação da cidade que é o coração industrial da Ucrânia - e onde
uma parcela significativa da população defende a “Ucrânia unida”, segundo
apontam as sondagens.
É a “segunda vaga” da ofensiva russa na Ucrânia, alertou o Presidente
interino, Olexander Turchinov, referindo-se às manobras separatistas
em Donetsk e ainda em Lugansk e Kharkov, na fronteira com a Rússia. Nas três
cidades, as forças de segurança foram incapazes de conter os rebeldes e
activistas que assaltaram as sedes do poder de Kiev, apossando-se do arsenal
disponível e içando a bandeira da Rússia, entre vivas ao Presidente Vladimir
Putin.
Turchinov cancelou uma deslocação oficial à Lituânia para poder vigiar
pessoalmente a “campanha” de resposta ao secessionismo e desmembramento da Ucrânia.
“As leis antiterrorismo serão adoptadas contra todos aqueles que pegarem em
armas”, avisou o Presidente, acrescentando que na terça-feira o Parlamento vai
debater penalizações mais duras para os indivíduos e as organizações políticas
envolvidas em acções separatistas.
Antecipando a reacção de Kiev, o “novo órgão de poder” de Donetsk pediu
apoio a Moscovo para resistir à “junta” que tomou conta do Governo ucraniano.
“Em Kiev houve uma revolução e aqui também haverá. Não há qualquer
possibilidade de marcha atrás”, previu o líder da “república” de Donetsk,
Andrei Purgin, ao jornal espanhol El País.
Mas contrariando as expectativas dos activistas pró-russos, as forças do
regime não reagiram à ofensiva sobre os edifícios da administração local: a
ordem vinda de Kiev foi para não recorrer à força e muito menos à violência
contra os rebeldes. “Há um plano de desestabilização em marcha, para criar uma
situação em que as tropas estrangeiras atravessem a fronteira e invadam o país.
Este cenário foi escrito pela Federação da Rússia, mas não o vamos permitir”,
explicou o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Iatseniuk, que convocou uma
reunião de emergência do executivo perante a escalada da tensão no Leste.
Moscovo mantém cerca de 40 mil soldados russos
estacionados a 30 quilómetros da fronteira, disponíveis para “defender por
todos os meios” as populações russófilas das antigas repúblicas soviéticas que
sejam alvo de agressão, reafirmou Vladimir Putin.
Em declarações à agência RIA Novosti, o vice-presidente da câmara alta do parlamento russo, Ilias Ukhmanov, distinguiu os
acontecimentos em Donetsk dos eventos na Crimeia, anexada pela Rússia no mês
passado. “A presente situação exige outro tipo de avaliação, que tenha em conta
o contexto histórico, político e jurídico. Não podemos dizer automaticamente
que é um reflexo do que se passou na Crimeia e em Sebastopol”, considerou. Para
Ukhmanov, o desejo de autodeterminação da população de Donetsk é uma “reacção
natural” à política de Kiev que “não autoriza o desenvolvimento de línguas ou
minorias nacionais ou outras religiões” e também um “sinal de que o actual
regime deve promover uma reforma constitucional, se quer preservar a
integridade territorial da Ucrânia”.
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