Conversa entre Obama e
Putin foi tensa
PÚBLICO e AGÊNCIAS 15/04/2014 – 08:41 (actualizado às 10:36)
Numa conversa tensa, Putin disse que “pretensa
ingerência russa” é especulação baseada em “informações infundadas”
O Presidente dos EUA, Barack Obama, disse ao seu homólogo russo,
Vladimir Putin, que está “muito preocupado” com as acções das autoridades de
Moscovo na Ucrânia e pressionou-o a “usar a sua influência
juntos dos grupos armados pró-russos para os convencer a depor as armas”.
Na versão russa sobre uma conversa telefónica ocorrida na
segunda-feira, o Kremlin informou que em “resposta às preocupações expressas
pelo Presidente americano sobre a pretensa ingerência russa no sudeste da
Ucrânia, o Presidente russo observou que tais especulações eram baseadas em
informações infundadas”.
No contacto, realizado a pedido das autoridades de Moscovo e qualificado
como tenso pela Reuters, a partir de informações de fonte diplomática, Obama
“sublinhou a necessidade de todas as forças irregulares no país deporem as
armas”, segundo um comunicado da Casa Branca.
De acordo com o Kremlin, Putin disse a Obama que a Rússia não está a
interferir na Ucrânia e apelou ao Presidente norte-americano para usar a sua influência para evitar derramamento de sangue.
O Presidente dos Estados Unidos destacou “a importância de a Rússia retirar
as suas tropas da fronteira com a Ucrânia para fazer baixar as tensões”
e acrescentou que “o Governo da Ucrânia mostrou uma contenção notável” no
actual levantamento de grupos armados pró-russos contra a autoridade do Governo
de Kiev, no Leste do país.
Nos últimos dias, homens armados desencadearam acções contra edifícios
públicos do Leste da Ucrânia, designadamente na região de Donetsk, à
semelhança do que aconteceu em Fevereiro na Crimeia — república ucraniana agora
controlada por Moscovo.
Na segunda-feira, os pró-russos não só ignoraram um ultimato do Governo
de Kiev para desocuparem os edifícios como ocuparam outros.
Já esta terça-feira, o Presidente interino da Ucrânia disse que a Rússia
tem “projectos brutais” para desestabilizar o Sul e o Leste da Ucrânia. “Eles
querem não só inflamar [a região carbonífera de] Donbass, mas o Leste e
Sul da Ucrânia, da região de Kharkov à de Odessa”, disse Olexandre Turchinov.
“O Donbass enfrenta um perigo colossal. Para além dos spetsnaz
[unidades de elite] russas e terroristas, há centenas de milhares de ucranianos
enganados pela propaganda russa e centenas de milhares de ucranianos inocentes”,
acusou.
Turchinov anunciou na manhã desta terça-feira uma operação “antiterrorista
no Norte da região de Donetsk, que será feita de modo gradual, responsável e
reflectido”. “O objectivo desta operação é proteger os cidadãos da Ucrânia,
travar o terror, travar a criminalidade e as tentativas de desmembrar o país”.
O governo de Kiev tinha anunciado no domingo o lançamento de uma “operação
antiterrorista de grande envergadura” mas não há sinais de que algo de
semelhante tenha sido feito.
ONU nega ataques a
russófonos
No entender das Nações Unidas, é falsa a alegação de que os russófonos do
Leste da Ucrânia estão a ser atacados. “Apesar de ter havido alguns ataques
contra a comunidade etnicamente russa, esses ataques não foram sistemáticos nem
generalizados”, segundo um relatório divulgado esta terça-feira, e que se segue
a duas visitas feita no mês passado ao país pelo subsecretário geral da ONU
para os Direitos Humanos, Ivan Simonovic.
“As fotografias dos protestos da Maidan [praça de Kiev onde decorreram as
manifestações que levaram à queda de Viktor Ianukovich], histórias muito exageradas
de perseguição de russos étnicos por extremistas ucranianos, e relatórios mal
informados de que os extremistas iriam perseguir russos étnicos na Crimeia,
foram usados para criar um clima de medo e insegurança que se reflectiu num
apoio à integração da Crimeia na Federação Russa”.
Na Crimeia foram, ao contrário, segundo as Nações Unidas, recolhidas
“alegações credíveis” de perseguições, detenções arbitrárias e tortura de
activistas e jornalistas que não apoiaram o referendo em que, a 16 de Março,
foi votada a integração na Rússia.
No relatório, que analisa os acontecimentos ocorridos até 2 de Abril, considera-se necessário que a Ucrânia crie um mecanismo
para envolver as minorias na tomada de decisão a todos os níveis do Governo e
contrarie o “discurso do ódio”.
Novas sanções
Segundo a Casa Branca, na conversa telefónica com Putin, o Presidente dos
EUA afirmou que “o crescente isolamento da Rússia no plano político e económico
é o resultado das suas acções na Ucrânia e sublinhou que os custos que a Rússia
já sofreu aumentarão se prosseguir” na mesma linha.
Antes da conversa telefónica, responsáveis norte-americanos confirmaram que os EUA estão em contacto com dirigentes da União Europeia
sobre o alargamento da lista de pessoas sujeitas ao congelamento de bens e proibição de vistos de viagem.
A próxima fase das sanções norte-americanas
— que seria a quarta desde o início da crise ucraniana — deverá visar
pessoas próximas de Putin e entidades russas das áreas de serviços financeiros,
energia, metais, mineração, engenharia e defesa, segundo Jen Psaki, porta-voz
do Departamento de Estado.
Para a próxima quinta-feira está prevista uma reunião quadripartida entre a
Rússia, os EUA, a União Europeia e a Ucrânia, em Genebra.
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