Foi dia de agitar alto
bandeiras na Crimeia
PÚBLICO 01/03/2014 – 15:01 (actualizado às 20:27)
Embaixador da Ucrânia na ONU diz que estão
15 mil soldados russos na Crimeia. Sectores mais radicais apelam à “mobilização
geral”
O Presidente ucraniano interino, Oleksander Turchinov, anunciou ao
início da noite de Sábado que colocou o exército em estado de alerta, esperando
uma possível intervenção militar russa.
"Dei ordem para colocar o exército em estado de alerta, de reforçar a
protecção das centrais nucleares, dos aeroportos e dos locais
estratégicos", afirmou Turchinov, após uma reunião extraordinária do
Conselho de Ministros.
O primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, acredita que "a Rússia não irá
lançar uma intervenção porque isso significaria a guerra e o fim de todas as
relações entre os dois países".
A câmara alta do Parlamento russo, o Conselho da Federação, aprovou este
sábado o envio de forcas armadas para a Crimeia, na Ucrânia, após
um pedido do Presidente Vladimir Putin.
A possibilidade de uma intervenção armada russa já levou a apelos à
mobilização popular na Ucrânia.
Vitali Klitschko, um dos líderes da oposição ucraniana que
depôs Ianukovich, apelou à "mobilização geral" contra aquilo que
designou como "agressão russa".
A mesma ideia de mobilização foi partilhada pelas franjas mais extremistas
que apoiaram os protestos dos últimos meses. "É a guerra! A sociedade
ucraniana deve mobilizar-se ao máximo", afirmou
o partido de extrema-direita Svoboda, através de um comunicado de imprensa em
que pedia ao Presidente interino que declarasse o "estado de guerra"
no país.
O Sector Direito, um grupo paramilitar nacionalista, também apelou aos seus
apoiantes para se "mobilizarem e se armarem
urgentemente", segundo a AFP. O seu líder, Dmitro Iarosh, terá mesmo
dirigido palavras a Dokka Umarov, o líder separatista checheno, a juntar-se a
si contra Moscovo, segundo a televisão russa RT.
Após uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da
ONU, o embaixador ucraniano nas Nações Unidas afirmou que se encontram 15 mil
soldados russos na Crimeia e apelou àquele órgão para que impeça a
"agressão da Federação Russa à Ucrânia".
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Sergei
Deshchiritsia, pediu à NATO que estude a utilização "de todas as
possibilidades para proteger a integridade territorial e a soberania da
Ucrânia, o povo ucraniano e as instalações nucleares no território
ucraniano". A NATO deverá reunir este domingo depois de a Polónia ter
pedido uma reunião de emergência, invocando o artigo 40, apenas pela
quarta vez na história da aliança.
O Presidente polaco, Bronislaw Komorowski, justificou o pedido por receio
para o próprio país causado por "uma intervenção militar russa potencial
sobre o território da vizinha Ucrânia".
Acção para proteger cidadãos russos
A declaração de Putin responde a uma moção também este sábado pela Duma, a
câmara baixa do Parlamento russo, apelando ao Presidente para que agisse para
garantir “estabilidade da Crimeia e usar todos os meios disponíveis para
proteger o povo da Crimeia da tirania e da violência”.
“Devido à situação extraordinária na Ucrânia, a ameaça à vida de cidadãos
da Federação Russa, nossos compatriotas, e ao pessoal das Forças Armadas da
Federação Russa em território ucraniano (na República Autónoma da Crimeia),
submeto uma proposta sobre o uso de forças armadas no território da Ucrânia até
à normalização da situação socio-política desse país", lia-se no texto que Putin enviou para o Conselho
da Federação Russa.
A declaração que autorizou o Presidente a usar as Forças Armadas para
proteger "cidadãos russos" na Crimeia foi aprovada no Conselho da
Federação Russa por unanimidade. Mas os deputados querem também responder ao
aviso do Presidente norte-americano, Barack Obama, que na
véspera afirmou que “qualquer violação da integridade territorial e
soberania da Ucrânia seria profundamente desestabilizadora”.
"É preciso responder ao Presidente [Obama]", "mostrar-lhe que atravessou uma linha vermelha e
humilhou o povo russo", defendeu o vice-presidente do Conselho da Federação Russa, Iuri Vorobev, citado pela AFP.
Agora, cabe a Putin dar a ordem para as tropas avançarem. Mas, "de
momento, não há qualquer decisão nesse sentido", clarificou à agência RIA
Novosti o porta-voz da presidência, Dmitri Peskov.
A resolução aprovada "é o ponto de vista do Conselho da Federação. É o
Presidente que toma a decisão", afirmou.
A interpretação da resolução do Kremlin tem despertado alguma ambiguidade.
Alguns observadores dividem-se quanto ao alcance da intervenção russa, não
sendo ainda claro se se aplica a todo o território ucraniano ou apenas à região
da Crimeia.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se neste sábado em Nova Iorque, à porta fechada, para discutir a situação na
Crimeia. No espaço de dois dias esta será a segunda reunião do órgão da ONU
sobre a crise ucraniana.
A Rússia já tem militares no local. E mesmo antes do pedido de Putin ao
Senado, já era claro que forças aliadas de Moscovo controlavam em grande parte
a Crimeia.
Novo líder regional pediu intervenção
O primeiro-ministro pró-russo da Crimeia, Sergei Aksionov, disse que as
forças russas estão a guardar alguns edifícios públicos na Crimeia, com o
consentimento das novas autoridades da região, onde a maioria dos habitantes é
étnica e culturalmente russa, segundo a Reuters.
Aksionov, que foi empossado na quinta-feira - num processo declarado
irregular já neste sábado pelo Presidente interino da Ucrânia, Oleksander
Turchinov - tinha também pedido ajuda a Putin “para garantir a paz na Crimeia”.
O primeiro-ministro interino da Ucrânia acusou a Rússia de
estar tentar provocar uma escalada. A Rússia acusou pelo seu lado “homens
armados de Kiev” de terem tentado tomar o ministério do Interior da Crimeia
durante a madrugada, e o “círculo político de Kiev” de tentar “manobras de
desestabilização”. A polícia da Crimeia negou entretanto que tivesse havido
confrontos no edifício ou qualquer tentativa de o tomar.
O correspondente da BBC em Sebastopol, Mark Lowen, diz que apesar de não
haver confirmação de quem são os homens armados que estão a posicionar-se em zonas-chave do território, não parece
haver provas do que a Ucrânia diz ser a “ocupação e invasão militar da
Crimeia”. “Não parece ter chegado tão longe - ainda”, comenta Lowen. “As
cidades estão relativamente clamas e não há sinais de uma revolta armada, só o
controlo que continua de locais-chave como aeroportos e edifícios de
comunicações.”
Mas o enviado da estação britânica privada ITV, James Mates, dizia no
Twitter que as tropas russas estão assumir acções de policiamento em
Simferopol.”A ocupação está agora abertamente visível”, comentou.
Durante o dia de sábado houve por outro lado manifestações em Donetsk e
outras cidades do Leste da Ucrânia, onde também a maioria da população se
define como de origem russa, e onde se localiza o bastião do Presidente deposto
Victor Ianukovich.
Em Kharkiv, houve mesmo confrontos com feridos.
Homens armados em veículos militares russos na cidade da Crimeia de Balaclava
Protesto em Kiev contra a decisão da Duma russa de autorizar entrada de tropas na Ucrânia
Manifestante na praça Maidan, em Kiev
Mulheres vestidas com fatos tradicionais cantam o hino no centro de Kiev
Homens armados guardam o aeroporto de Belbek, na Crimeia
Funeral de um manifestante morto pela polícia nos confrontos da praça Maidan, em Kiev
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