presidente russo fez um
espectáculo de comunicação
SOFIA LORENA
17/04/2014 - 11:01 (actualizado às 13:38)
Vladimir Putin reafirmou o seu direito de usar a
força no Leste da Ucrânia, ao mesmo tempo que admitia ter enviado tropas para a
Crimeia antes da anexação da península por parte de Moscovo e se referia às
regiões russófonas ucranianas como a “nova Rússia”, que “só Deus sabe” como se
tornou território ucraniano.
“Relembro que o
Conselho da Federação Russa [câmara alta do Parlamento] concedeu ao Presidente
o direito de usar as Forças Armadas na Ucrânia. Espero verdadeiramente não ser
obrigado a recorrer a este direito e que consigamos resolver todos os assuntos urgentes por meios
diplomáticos e políticos”, disse Putin num programa em directo na televisão em
que respondeu a perguntas do público previamente seleccionadas.
Depois da chegada ao
poder em Kiev de líderes hostis ao Kremlin, a Crimeia fez um referendo onde a
maioria dos habitantes que votaram escolheram integrar a Rússia. Após a
votação, que os Estados Unidos e a União Europeia não reconhecem, Moscovo anexou a península do mar Negro. Entretanto, o Kremlin mobilizou tropas ao longo da fronteira com a Ucrânia e, nos últimos dez dias, grupos pró-russos têm
ocupado sedes do poder local e esquadras em dezenas de cidades do Leste do
país.
Putin desmentiu que
tenha enviado forcas especiais para a Ucrânia, como acusa Kiev. “É tudo um disparate. Não há nenhum tipo de unidades russas
no Leste da Ucrânia. Nem forças especiais nem instrutores. São tudo cidadãos
locais”, assegurou. Isso não significa que o Governo russo tenha abdicado da
obrigação de defender as populações etnicamente russas da Ucrânia: “Temos de
fazer tudo para ajudar estas pessoas a proteger os seus direitos e a
determinarem independentemente o seu destino.” Os grupos que ocuparam os
edifícios governamentais exigem realizar referendos como o que aconteceu na
Crimeia.
Esta semana,
entretanto, o Governo interino ucraniano lançou uma operação para recuperar as
zonas ocupadas e já houve mortos dos dois lados. A culpa, diz Putin, é de Kiev,
que está a “arrastar o país para o abismo”. Apelando ao diálogo entre as
autoridades ucranianas e os separatistas (“Um compromisso só pode ser
encontrado na Ucrânia”), Putin acusou o Governo interino de “um crime grave” ao “lançar os tanques e a aviação contra a população
civil”.
“O que é preciso é
assegurar e defender os direitos do Sudeste russo”, defendeu o chefe de Estado,
antes de falar da região como mais russa do que ucraniana. “É a nova Rússia.
Kharkov, Lugansk, Donetsk, Odessa não eram parte da Ucrânia no tempo dos
czares, foram transferidos em 1920”, lembrou. “Porquê? Só Deus sabe.”
Admitindo pela
primeira vez que enviou tropas russas para a Crimeia, o Presidente russo justificou essa
decisão. “Era preciso proteger as pessoas”, disse. “Tivemos de dar passos
indispensáveis para que os acontecimentos não se desenvolvessem como acontece
actualmente no Sudeste da Ucrânia.”
A "nova
Rússia" - Crimeia - esteve em destaque neste programa de televisão, com
Putin a responder a perguntas de habitantes de Sebastopol, o porto da península
onde Moscovo tem estacionada a sua Frota do Mar Negro, e câmaras a mostrarem
uma multidão que agitava bandeiras russas e agradecia ao chefe de Estado. Putin
aproveitou para explicar melhor a anexação da Crimeia, reconhecendo que esta
também se deveu à expansão da NATO para leste e à necessidade de salvaguardar a
Ucrânia como parte do espaço de influência russo.
“Quando a infra-estrutura de um bloco militar
se move em direcção às nossas fronteiras, isso causa preocupações”, disse. “A
nossa decisão sobre a Crimeia deveu-se em parte a considerarmos que, se
não fizéssemos nada, a certa altura, guiada pelos mesmos princípios, a NATO
arrastaria a Ucrânia e depois diria. “Não tem nada a ver connosco”. Em resposta
à pergunta de um jornalista que descreveu a Aliança Atlântica como “um tumor
canceroso”, Putin disse que a NATO “não assusta” a Rússia.
Repetindo que a EU precisa
do gás russo, Putin avisou ainda a Ucrânia que se não saldar a sua dívida com a
Rússia no próximo mês vai começar a exigir pagamentos antecipados antes de
fornecer o gás que o país vende aos ucranianos.
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