Tropas ucranianas assumem posições junto à cidade de Izium, no Leste do país
RITA SIZA 15/0472014 – 20:16
Medvedev
fala em “guerra civil” e Vladimir Putin telefonou a Ban Ki-moon para exigir que a comunidade internacional reaja.
Casa Branca apoia o Governo de Kiev.
O Exército ucraniano avançou ontem com camiões, tanques, veículos
blindados, helicópteros e centenas de soldados até agora ausentes na região
Norte de Donetsk, para restabelecer a ordem e a autoridade do Estado naquela
que foi a “primeira fase” de uma operação antiterrorismo contra os rebeldes
separativas pró-russos que já tomaram edifícios governamentais em mais de dez
cidades do leste do país e proclamaram unilateralmente a sua independência de
Kiev.
Do outro lado da fronteira, cerca de 40 mil soldados russos, alegadamente
em exercícios militares de treino, aguardam as instruções de Moscovo. O
Presidente Vladimir Putin referiu-se às movimentações
militares no Leste da Ucrânia como” anti-constitucionais” e, num telefonema ao
secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exigiu uma “condenação clara e
imediata das acções de Kiev pela comunidade internacional”.
O Governo de Kiev sabe que um passo em falso pode ser o pretexto que o
Kremlin busca para uma invasão - talvez por isso, o Presidente interino,
Oleksander Turchinov pediu ao Conselho de Segurança da ONU o
envio de capacetes azuis para a fronteira.
As tropas ucranianas marcharam um dia depois de ter expirado o prazo dado
pelo Governo para o abandono dos edifícios ocupados e a deposição das armas
recolhidas pelos rebeldes. O ultimato, que foi acompanhado pela promessa de que
os “arrependidos” não sofreriam retaliações, não só foi ostensivamente ignorado
como até serviu para a mobilização de mais resistentes para as barricadas -
perante o tom de desafio dos rebeldes, o Presidente assinou o decreto que
autorizava a intervenção militar.
“O Governo ucraniano tem a responsabilidade de assegurar a ordem pública e
garantir o respeito pela lei. As provocações no Leste da Ucrânia criaram uma
situação em que o Governo foi obrigado a responder”, considerou o porta-voz da
Casa Branca, Jay Carney.
“O objectivo desta operação é proteger os cidadãos da Ucrânia, travar o
terror, travar a criminalidade e as tentativas de desmembrar o país”, explicou,
numa declaração a partir do parlamento. Para Turchinov, a Rússia tem “projectos
brutais” para desestabilizar o país: “Eles querem não só inflamar [a região
carbonífera de] Donbass, mas o Leste e Sul da Ucrânia, da região de Kharkov à
de Odessa”, observou.
O Conselho de Defesa e Segurança Nacional confirmou a saída
de um batalhão da Guarda Nacional, com 350 soldados, de Kiev para a
região de Donetsk. Ao fim das primeiras horas da ofensiva - uma operação que
será conduzida “por etapas, de modo gradual, responsável e com cautela”,
garantiu o Presidente - já havia relatos de tiroteios e de feridos.
“O pior dos cenários”
“Os relatos que estamos a receber são motivo para grave preocupação.
Aparentemente, os acontecimentos parecem corresponder ao pior dos cenários”,
reagiu o representante para os direitos humanos do ministério dos Negócios
Estrangeiros da Rússia, Konstantin Dolgov, citado pela RIA-Novosti. “O sangue
voltou a ser derramado hoje na Ucrânia.
A sensação é que uma guerra civil se prepara”, escreveu no Facebook o
primeiro-ministro, Dmitri Medvedev.
O Exército ucraniano reconquistou a base aérea de Kramatorsk, que estava
sob o controlo das forças paramilitares russófonas, depois de uma intensa troca
de tiros e perante os gritos de “vergonha” e “vão para casa” da população
local. Colunas militares avançaram desde Odessa até Donetsk, e vários meios
pareciam estar a assumir posições nas imediações de Slaviansk - que caiu nas mãos dos rebeldes no passado fim-de-semana. Não havia, contudo nenhuma indicação de que as tropas ucranianas tivessem
já avançado para o centro da cidade.
Os correspondentes estrangeiros em Slaviansk diziam que os militantes pró-russos mantinham a esquadra da polícia e a
câmara municipal debaixo de cerco, mas notavam que o ambiente era de maior
nervosismo e tensão no ar. No site Daily Beast, o repórter
David Patrikarakos descrevia os combatentes das chamadas unidades de
auto-defesa como “profissionais: apesar de não exibirem insígnias militares,
são inequivocamente soldados, artilhados com armas automáticas e uniformes
camuflados. São treinados, organizados e estão prontos para combater”.
Diplomacia em Genebra
Com a crise militar ao rubro, as atenções voltam-se agora para a diplomacia: uma reunião quadripartida entre a Rússia, os EUA,
a União Europeia e a Ucrânia, foi marcada para esta quinta-feira em Genebra.
Tanto Washington como Bruxelas manifestaram a sua confiança no processo
negociai.
“Antes de encarar novas sanções, devemos dar uma oportunidade à
diplomacia”, disse a porta-voz do departamento de Estado norte-americano.
Como assinalam vários analistas internacionais, as palavras duras
proferidas contra a Rússia pela suposta “agressão” na Ucrânia não correspondem
à resposta “suave” dos aliados ocidentais.
No início da semana, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União
Europeia concordaram um alargamento das suas medidas punitivas contra Moscovo,
acrescentando novos nomes à lista de 33 cidadãos russos que foram proibidos de
entrar no espaço europeu e viram os seus bens congelados na sequência da
anexação da Crimeia, em Março. No entanto, os parceiros europeus permanecem
divididos e renitentes em avançar com sanções mais “drásticas” – semelhantes àquelas
adoptadas pelos
Estados Unidos abrangendo os sectores da banca e energia e que poderiam pôr
em causa o actual relacionamento comercial com a Rússia.
“Sem a Rússia passar o risco vermelho da intervenção militar directa [em
território ucraniano], não espero que a União Europeia passe o risco vermelho
das sanções económicas”, disse à Reuters Stefan Lehne, do Carnegie Endowment for International Peace.
Uma intervenção militar aliada também foi totalmente descartada pelos
membros da Nato. O secretário-geral da aliança atlântica, Anders Fogh Rasmussen, que reuniu com os
ministros da Defesa da EU no Luxemburgo para discutir a crise na Ucrânia,
garantiu que “todos apoiam uma saída política e diplomática para a crise e
ninguém discute opções militares”.
Os Presidentes dos Estados Unidos e da Rússia discutiram a situação na
Ucrânia pelo telefone na segunda-feira à noite. De acordo com a Casa Branca,
Obama assinalou o “isolamento político e económico da Rússia” resultante da sua
interferência na Ucrânia, e apelou à retirada das tropas estacionadas na
fronteira. Segundo o Kremlin, Putin explicou ao seu homólogo que as
“especulações relativas às responsabilidades
russas [na crise ucraniana] se baseiam em informações incorrectas” e
sublinhou que os protestos em Donetsk “resultam da incapacidade das autoridades
de Kiev em garantir os direitos da população russófona”.
Em Donetsk, os activistas pró-russos reforçam barricadas
Na cidade de Lugansk, uma daquelas em que militantes pró-russos tomaram os edifícios governamentais, activistas ucranianos cantam o hino nacional
Soldados ucranianos fazem um checkpoint em Barvinkove
Manifestantes pró-russos em Slaviansk
Em Kiev, houve manifestações nacionalistas, a favor da unidade da Ucrânia
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