Tropas ucranianas
no Leste do país
JOÃO MANUEL ROCHA 25/04/2014 - 18:14
Com a Ucrânia a
traçar o pior dos cenários, o de uma guerra mundial, a Rússia mantém tropas coladas à fronteira
e Obama falou com os aliados europeus sobre sanções. “Não há muito mais tempo
para pôr fim a esta loucura”, desabafou o ministro alemão dos Negócios
Estrangeiros
Os países
ocidentais estão a discutir
possíveis sanções contra a Rússia, que acusam de nada fazer para reduzir a
tensão na Ucrânia, onde o primeiro-ministro interino atribuiu esta sexta-feira
ao governo de Moscovo a intenção de querer lançar “uma terceira guerra mundial”.
A possibilidade de
novas sanções contra a Russia - após a anexação da
Crimeia foram congelados bens e proibidos vistos a algumas dezenas de russos e
ucranianos - foi “evocada” numa conferência telefónica entre presidentes e
chefes de governo de EUA, França, Alemanha, Reino
Unido e Itália.
Num comunicado da
presidência francesa divulgado após a conversa entre Barack
Obama. François Hollande,
Angela Merkel, David Cameron e Matteo Renzi é dito que os dirigentes ocidentais
apelaram a uma “reacção rápida” do G7, grupo das economias consideradas mais avançadas,
e falaram sobre a "adopção de novas sanções”.
A chanceler alemã
anunciou que os ministros dos Negócios
Estrangeiros da União Europeia vão
reunir-se “o mais rapidamente
possível” para discutirem medidas cujo conteúdo está em aberto.
“Ainda estamos a
discutir o tipo de sanções”, admitiu o ministro francês dos Negócios
Estrangeiros, Laurent Fabius.
Merkel falou esta
sexta-feira telefonicamente com Putin a quem disse ter “claramente afirmado”
que a Ucrânia deu passos para aplicar o acordo de Genebra mas pouco viu a
Rússia fazer nesse sentido.
“Estou profundamente
convencida que a Rússia tem ou terá possibilidade de colocar os separatistas no
caminho pacífico.”
O acordo de Genebra,
assinado a 17 de Abril entre Rússia, EUA, União Europeia e Ucrânia prevê o
desarmamento de “todos os grupos ilegais” que actuam na Ucrânia e a desocupação
de edifícios tomados por pró-russos. As acusações recíprocas de não respeito pelo
acordo têm-se sucedido.O ministro alemão dos
Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, entende que “não há muito mais
tempo para pôr fim a esta loucura”. A Casa Branca fez um sublinhado às
declarações: “a Rússia pode ainda escolher uma resolução pacífica da crise,
incluindo através da
aplicação do acordo de Genebra”.
Para
já, os líderes ocidentais insistiram que “a integridade territorial e a
soberania da Ucrânia devem ser respeitadas” e apelaram a Moscovo para acabar
com “declarações provocatórias” e “manobras de intimidação” - alusões à
hipótese, admitida na quarta-feira pelo ministro dos Negócios Estrangeiros
russo, Serguei Lavrov, de uma intervenção militar na Ucrânia” se os interesses
dos russos forem directamente atacados”.
Antes
da conferência telefónica, Obama, em viagem na Ásia, disse que pretendia “assegurar-se de que [os europeus] partilham” a
sua avaliação sobre a Ucrânia. O Presidente dos EUA estaria, segundo
responsáveis norte-americanos, descontente com a relutância à
aplicação de sanções por alguns países, designadamente Alemanha e Itália. As
mesmas fontes disseram às agências noticiosas que as sanções que Obama terá em
mente não visariam sectores estratégicos da economia russa, como minas e
energia - os quais só seriam alvo de medidas punitivas em caso de intervenção
de forças regulares de Moscovo na Ucrânia.
“Rússia quer III Guerra Mundial”
A
escalada de retórica que tem caracterizado a crise ucraniana teve esta
sexta-feira como ponto alto uma declaração do chefe interino do governo de Kiev
no conselho de ministros. “As tentativas de agressão do exército russo sobre o
território ucraniano levarão a um conflito no território da Europa. O mundo não
esqueceu a II Guerra Mundial e a Rússia quer lançar uma terceira”, disse Arseni
Iatseniouk.
O
contraponto russo foi a afirmação do ministro dos Negócios Estrangeiros de que
“o Ocidente... quer controlar a Ucrânia
por assim dizer, sendo motivado apenas pelas suas ambições
geopolíticas”. Mais tarde, segundo a Reuters, o mesmo Lavrov disse a Steinmeier que toda a violência
na Ucrânia deve parar, principalmente a que envolve “o recurso ao exército e a
nacionalistas radicais”.
Depois de, na
quinta-feira, forças ucranianas terem avançado sobre posições de pró-russos que
ocupam cidades no Leste, e de a Rússia ter iniciado manobras junto à fronteira,
o ministério da Defesa de Kiev comunicou que os soldados russos se aproximaram
até um quilómetro da fronteira mas não a ultrapassaram. Um assessor do
Presidente interino, Oleksander Turchinov, afirmou mais tarde que qualquer
incursão russa será entendida como invasão. “Consideraremos qualquer
atravessamento da fronteira ucraniana por tropas russas no território de
Donetsk ou de qualquer outra região como uma invasão militar e destruiremos os
atacantes”, declarou Serguii Pachinski.
Na noite de
quinta-feira, um engenho explosivo feriu sete pessoas num posto pró-ucraniano
perto do porto de Odessa. Já esta sexta-feira, Kiev anunciou que um helicóptero
militar foi atingido no solo por disparos de um lança-foguetes e se incendiou,
provocando ferimentos no piloto, num aeródromo de Kramatorsk, perto de Slaviansk, cidade controlada por
pró-russos. Residentes na zona disseram ter ouvido tiros e três explosões. Ao
fim do dia foi anunciado que sete observadores da OSCE (Organização para a
Cooperação e Segurança na Europa) - juntamente com cinco militares ucranianos e
o condutor do autocarro em que seguiam - foram retidos em Slaviansk por
separatistas, que acusam um dos soldados do grupo de ser “um espião”. Serguii
Pachinski confirmou entretanto que o avanço ucranianos da véspera na área de
Slaviansk se destinou a tentar bloquear a cidade e impedir a chegada de
reforços.
O procurador do
Tribunal Penal Internacional anunciou esta sexta-feira a abertura de um
inquérito para apurar se estão reunidos os critérios de “jurisdição e
admissibilidade” necessários a uma investigação a alegados crimes contra a
humanidade cometidos no período anterior à queda do Presidente ucraniano Viktor
Ianukovich, no final de Fevereiro.
A abertura do
inquérito dá seguimento a um pedido das autoridades interinas de Kiev, que responsabilizam o anterior regime pela morte de mais de cem
manifestantes nos protestos que ocorreram na capital.
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