O “rei do chocolate”, Petro
Poroshenko, é o favorito à presidência da Ucrânia
AFP 25/04/2014- 18:13
Cruciais para os
norte-americanos, “destrutivas” para Moscovo: as autoridades pró-ocidentais
de Ucrânia esforçam-se por organizar umas eleições presidenciais antecipadas, no dia 25 de Maio, para reforçar a sua legitimidade em plena
insurreição separatista pró-russa no Leste do país.
A um mês do escrutínio, convocado em Fevereiro após a
destituição de Presidente pró-russo, Viktor Ianukovitch, os candidatos que saíram
das fileiras da contestação são os grandes favoritos: o "rei do
chocolate" e milionário que apoiou abertamente a revolução da Maidan,
Petro Poroshenko, seguido da ex-primeira-ministra Iulia Timoshenko, libertada da prisão após a fuga
do anterior Presidente.
Mas para que um ou outro vença é preciso que as eleições
se realizem, o que está longe de ser um dado adquirido.
Depois de ter perdido em Março a península da Crimeia,
que foi anexada pela Rússia, Kiev combate agora os insurrectos pró-russos no Leste do país, onde o
Kremlin ameaça intervir. Os separatistas,
que controlam total ou parcialmente, mais de uma dúzia de cidades ucranianas,
reclamam a realização de um referendo no dia 11 de Maio sobre a “federalização”
do país, com o objectivo futuro de algumas regiões virem a ser também elas
anexadas pela Rússia.
Neste contexto, Moscovo que é acusado por Kiev e o
Ocidente de ter fomentado os confrontos na Ucrânia, já avisou que não vai
reconhecer as eleições presidenciais. “Organizar umas eleições sem encontrar um
terreno de entendimento com o Leste e o Sul [regiões com largas fatias de
populações russófonas] da Ucrânia é muito destrutivo para o país”, repetiu esta
semana o ministro dos Negócios
Estrangeiros russo, Serguei
Lavrov.
Para Kiev, o raciocínio é outro: o sucesso das
presidenciais é considerado condição essencial
para repelir a “agressão
russa”. A votação
poderá ser “a mais importante da história da Ucrânia”, disse o vice-Presidente norte-americano, Joe Biden. que esta semana foi a Kiev para
demonstrar o apoio dos EUA às novas autoridades ucranianas.
“É preciso que esta eleição se realize, custe o que custar.
A desestabilização deve-se ao facto do país não ter um Presidente legítimo”,
considera o analista político ucraniano, Volodimir Fessenko.
Na região rebelde de Donbass (leste), mais de 70% dos
habitantes consideram ilegítimas as autoridades de Kiev que chegaram ao poder
depois da contestação a Ianukovitch.
“Se as eleições se realizarem, será muito difícil
organizá-las normalmente na região de Donetsk”, considera o politólogo local
Kirill Tcherkachine, estimando que as cidades controladas pelos insurrectos
pró-russos não vão poder estabelecer comissões eleitorais e que os habitantes
estariam inclinados a boicotar a votação, sabendo à partida que os candidatos
pró-russos não teriam nenhuma hipótese.
Para Olexandre Tchernenko, que dirige uma organização
não-governamental que faz vigilância eleitoral na Ucrânia, a situação não é
assim tão dramática. “A mobilização será grande, à volta dos 70% em todo o país.
E no Leste mais de 50% dos eleitores dizem-se dispostos a participar na
votação”, sublinha, considerando que os 23 candidatos que concorrem às
presidenciais, incluindo pelo menos dois pró-russos, “representam todo o
espectro” político, tanto no Leste russófono como no Ocidente nacionalista.
“Destruir estas eleições faz parte dos planos da Rússia.
É por isso que é tão importante fazer tudo para que se realizem”, diz Olexii
Garan, da academia Kiev-Moguila, em Kiev. Mesmo que as autoridades não consigam
organizar a votação em todas as localidades, “a comunidade internacional vai
reconhecer as eleições”, considerou.
O líder da comissão eleitoral central da Ucrânia, Mikháílo
Okhendovski, garantiu na quinta-feira que a agitação militar no Leste não vai
ter “nenhum impacto” no escrutínio que se vai realizar “seja qual for a
meteorologia política”.
A própria realização das eleições irá marcar uma vitória
da Ucrânia sobre Vladimir Putin, que joga na
“fraca legitimidade do poder de Kiev no Leste para manipular as pessoas”,
escreveu no seu blogue Vassil Gatsko, líder do movimento Aliança Democrática,
que esteve muito activo durante a revolução da Maidan.
Quanto ao referendo reclamado pelos separatistas antes
das presidenciais, os analistas e peritos consideram que, ao contrário da
Crimeia, os pró-russos do Leste não têm condições para o organizar, já que não
contam com o apoio das autoridades locais e não têm recursos financeiros para
tal. “Eles podem convocar um pseudo-referendo para desestabilizar a situação,
mas não podem realizá-lo em Donetsk ou em
Lugansk”, as duas grandes cidades industriais do Leste, considera Olexii Garan.
“As suas exigências têm um efeito mediático mas não
representam uma ameaça política”, remata Vadim Karassev, do Instituto de
Estratégias Globais, em Kiev.
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