Rebeldes pró-russos prometem resistir ao Exército
ucraniano
RITA SIZA 13/04/2014 - 20:04
Moscovo responde dizendo que a mobilização da tropa contra os manifestantes
é "criminosa". Nações Unidas vão reunir de emergência o Conselho de Segurança.
A “operação anti-terrorista de larga escala” lançada pelo Governo de Kiev
contra os militantes armados que ocuparam quartéis da polícia e outros edifícios
públicos em vários pontos do Leste da Ucrânia, deu origem a violentos
confrontos em cidades como Slaviansk, Donetsk ou Kharkov - por
onde alastra a rebelião separatista pró-russa. As trocas de tiros entre as
forças especiais ucranianas e as milícias separatistas provocaram baixas em
ambos os lados da contenda. Além de um número indeterminado de feridos, estão
confirmadas as mortes de um oficial das forças especiais ucranianas e de um
elemento das milícias pró-Rússia.
Numa declaração ao país transmitida a partir do parlamento, o Presidente
interino da Ucrânia, Olexander Turchinov, explicou que a ordem do
Exército era “resistir à agressão da Rússia”, e evitar a “repetição do cenário
da Crimeia”, a península do Sul do país que votou em referendo a anexação na
Federação Russa. O Presidente estabeleceu um prazo até às seis horas da manhã
de segunda-feira para a deposição das armas pelos rebeldes, e prometeu que
aqueles que desistissem da luta não seriam alvo de acusação.
Ao fim do dia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da
Rússia emitiu uma nota em que classificava a mobilização da tropa contra os
rebeldes separatistas como uma “ordem criminal” e dizia que era o Ocidente que
tinha agora “a responsabilidade de evitar uma guerra civil na Ucrânia”.
Numa ofensiva concertada que as autoridades ucranianas, os Estados
Unidos e a Nato dizem “ter todos os sinais do envolvimento de Moscovo”,
grupos rebeldes separatistas ocuparam esquadras de polícia, câmaras municipais,
quartéis das forças de segurança, escritórios do Ministério
Público e outros edifícios associados ao poder nacional e regional em várias
localidades do leste do país - Slaviansk, Kramatorsk, Druzhkivka,
Ienakievo, Mariupol, Kharkov, Zaporizhia, Makiyvka, Kostriantinivka, Ilovaisk,
Horlivka, Dobropillia, Artemivsk, além de Lubansk e Donetsk, o centro da
cintura industrial do país.
A resposta do Exército de Kiev foi desencadeada pela ocupação do quartel da
polícia da cidade de Slaviansk por um
grupo de homens vestidos com fardas russas, que se apoderaram de centenas de
armas. Os soldados ucranianos cercaram o local, que estava também a ser “defendido”
por centenas de residentes locais, mas não forçaram a entrada.
A Al-Jazira dizia que o Exército decidiu retirar por causa do elevado risco
para a segurança da população. Confrontado com os efectivos da Guarda Nacional
ucraniana, um dos residentes que participava num bloqueio de estrada com pneus
lançava um apelo ao “camarada Putin". "Ele prometeu proteger-nos:
Precisamos de apoios”, dizia.
Num relato no Facebook, o jornalista ucraniano Dmitri Timchuk escreveu que
as forças pró-russas barricadas em Slaviansk eram compostas por
“cerca de 600 pessoas”, cem das quais tinham sido identificadas como agentes
russos. Os restantes, prosseguiu, são elementos conhecidos localmente como
membros de um gang criminoso e outros são funcionários de um conhecido
oligarca da região.
Movimentações semelhantes foram sendo reportadas ao longo do dia em várias
localidades. A agência Interfax ucraniana descreveu um cerco de militantes
pró-russos à câmara municipal de Kharkov, onde o autarca Gennadi Kernes se encontrava refugiado. Segundo a
BBC, a câmara da cidade de Makiyivka também foi ocupada por um grupo de
rebeldes, que se apressaram a içar a bandeira da Rússia no edifício, enquanto
uma multidão de mais de mil pessoas erigia uma barreira de pneus para proteger
a porta.
Em Kramatorsk, os manifestantes diziam-se “dispostos a tudo” para garantir
a realização de um referendo de auto-determinação idêntico ao da Crimeia. “A
situação no sudeste da Ucrânia está a assumir proporções extremamente
perigosas. As autoridades de Kiev que tomaram o poder num golpe de Estado
pretendem usar a força para travar os protestos. Condenamos veementemente
qualquer tentativa de repressão contra manifestantes e activistas”, dizia o
comunicado do Kremlin, que desde a revolução popular contra o Presidente Viktor
Ianukovich reclama autoridade para intervir no país vizinho para proteger a
população russófona ucraniana.
Nas Nações Unidas, em Nova Iorque, a embaixadora norte-americana Samantha Power disse que os Estados Unidos estavam prontos para “carregar”
as sanções contra a Rússia em resposta aos últimos desenvolvimentos. Em
declarações à cadeia ABC, Power responsabilizou Moscovo pelas manobras
separatistas deste fim-de-semana e lembrou que o
Presidente Barack Obama tinha tornado muito claro que os Estados Unidos
poderiam aprovar novas sanções sectoriais (penalizando a banca, ou as empresas
de minas e energia) “em função do comportamento da Rússia”.
“Já vimos como as sanções económicas doem”, frisou a representante dos
Estados Unidos na ONU, referindo-se à queda da cotação do
rublo para o mínimo histórico, à desvalorização de cerca de 20% do mercado de
capitais russo ou a fuga maciça de capitais do
país. “Se as acções no terreno [no Leste da Ucrânia] não pararem, vamos
seguramente assistir a um reforço do pacote de sanções”, antecipou.
Ecoando as suspeições de Samantha Power, o secretário-geral da Nato, Anders Fogh Rasmussen, confirmou a presença no terreno
de combatentes apetrechados com armas e uniformes militares idênticos aos que
são usados pelo Exército russo, embora sem a insígnia oficial, que se comportam
de forma “profissional”.
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