Vladimir
Putin tem uma estratégia para influenciar a UE
CLARA
BARATA 16/04/2014 -
19:04
O Kremlin está a tentar
influenciar a política da União Europeia através dos partidos extremistas,
dizem cientistas
políticos.
Marine Le Pen, a
líder do partido de extrema-direita francês Frente Nacional, é uma política
europeia bem cotada na Rússia.
Ainda no último sábado, 12 de Abril, foi recebida de braços abertos no
Parlamento de Moscovo, onde de resto não poupou elogios, defendendo a
federalização da Ucrânia, tal como defende o Kremlin: “É o projecto mais
lógico. O mais respeitoso seria organizar uma federação, que permitiria uma
certa autonomia das regiões”.
Serguei Narichkin, o
presidente da Duma (a câmara
baixa do Parlamento), e um
dos 33 visados pelas sanções da União Europeia por causa do processo de
anexação da Crimeia na Rússia, foi quem convidou Le Pen, relatava a
correspondente em Moscovo do jornal Le Monde. “Temos muito em comum nas nossas posições sobre a forma
de resolver a crise da Ucrânia”, afirmou este ex-oficial
do KGB e depois do
FSB, e um próximo de Vladimir Putin.
A Frente Nacional
(FN) tem boas relações
com a Rússia Unida, o
partido que apoia Vladimir Putin - a prová-lo estão as frequentes deslocações a
Moscovo de líderes do partido de Marine Le Pen, diz o Le Monde. Mas Marine Le Pen não está sozinha entre os novos
dirigentes dos partidos de extrema-direita europeia a procurarem as boas graças
russas.
Acontece com o Jobbik
húngaro, o Aurora Dourada grego e as várias formações nacionalistas de
extrema-direita e racistas que surgiram nos países que formavam o Bloco de
Leste. Mas Moscovo está também a investir na Europa Ocidental, e nos partidos de extrema-direita
que se estão a juntar para fazer uma aliança nas eleições europeias de Maio. O
político holandês Geert Wilders, a Liga Norte italiana e o Vlaams
Belang na Bélgica têm-se associado ao discurso do Kremlin.
Putin, escreveu na
revista Foreign Affairs em Março Mitchell A. Orenstein,
professor na Northeastern Universitv
em Boston (EUA) e
especialista na Europa Central e de Leste, tem uma estratégia de intervenção na
política da União Europeia utilizando partidos de extrema-direita, com cujas
ideias o Kremlin encontra afinidades.
A primeira, e mais
importante afinidade é mesmo a do desejo de desconstruir a União Europeia, e acabar com o risco de esta se expandir cada
vez mais para Leste. Putin “espera que ao apoiar partidos marginais consiga desestabilizar
os seus inimigos e instalar em Bruxelas políticos que se concentrem em
desmantelar a UE, em vez de a alargar”, diz Orenstein.
“A Rússia gostaria de
desestabilizar a cena política europeia, e estes partidos são todos anti-União
Europeia”, comentou à revista alemã Der Spiegel Peter Kreko, do thintank húngaro Political Capital.
Pode ser
surpreendente a associação de Moscovo à extrema-direita europeia, quando
Moscovo não se cansa de martelar a ideia de que os “fascistas” estão em Kiev.
Mas por trás da insistência russa em não deixar a Ucrânia afastar-se
da sua influência
está o conceito da Eurásia como uma espécie de espaço vital de Moscovo. Por
trás deste conceito estão teóricos: homens como Aleksandr Dugin, um cientista
político que já liderou um partido neonazi e que faz parte do círculo mais
íntimo de Putin. De acordo com o Global Post, Dugin manteve correspondência com o líder do partido
neonazi grego Aurora Dourada, Nikolaos Michaloliakos, que foi preso no ano
passado.
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