Putin acusa a Ucrânia
de ter violado os contratos para o abastecimento de gás
PÚBLICO 11/04/2014 -
09:28
Presidente russo propõe reunião ministerial para discutir
"estabilização da economia" ucraniana.
Os Estados Unidos acusaram a Rússia de usar o gás como “instrumento de
coerção”, depois de o Presidente Vladimir Putin ter avisado que a
Gazprom vai cortar os abastecimentos à Ucrânia se o país não pagar as dívidas
em atraso, o que irá afectar o fornecimento aos países da União Europeia.
O aviso foi feito numa carta enviada, quinta-feira, pelo Presidente russo
aos líderes de 18 países da UE que importam gás a Moscovo e na qual deixa claro
que a sua paciência com Kiev está a esgotar-se. Segunda-feira terminou o
prazo para o Governo interino pagar a factura de gás relativa ao mês de Março,
aumentando o montante da dívida, que Moscovo diz ser já superior a 2200 milhões
de dólares (1600 milhões de euros)
Por causa destes atrasos, Putin diz que a Gazprom vai passar a exigir
pagamento avançado pelo gás que fornece à Ucrânia “e, no caso de novas
violações das condicões de pagamento, cessará completa ou parcialmente o
fornecimento”. “Trata-se, sem dúvida, de uma
medida extrema. Compreendemos perfeitamente que isto aumenta o risco de [a
Ucrânia] desviar o gás que passa pelo território ucraniano destinado aos
consumidores europeus.”
A empresa estatal russa fornece 30% do gás consumido na UE e quase metade
dele chega aos consumidores graças aos gasodutos que atravessam a Ucrânia. Por causa de disputas sobre o preço do gás,
a Rússia cortou o abastecimento ao país vizinho em dois invernos recentes
(2005-2006 e 2008- 2009), reduzindo e chegando mesmo a interromper o
fornecimento a vários países da Europa ocidental.
Para evitar males maiores, o Presidente russo desafia os ministros europeus
a negociarem com Moscovo “acções concertadas para estabilizar a economia
ucraniana”, que diz estar à beira do colapso. “A situação é urgente”, avisa, na
mesma carta em que acusa a UE de ter contribuído para os desequilíbrios macroeconómicos do país vizinho, ao passo que Moscovo,
afirma, foi o único país que, desde o início da crise, colocou dinheiro na
economia ucraniana.
A ajuda a que Putin se refere foi acordada em Dezembro, quando
o Presidente Viktor Ianukovich enfrentava nas ruas a contestação à decisão de
não avançar com um acordo de parceria com a UE. Em troca da aproximação
a Moscovo, o Kremlin reduziu num terço o preço do gás vendido à Ucrânia e
anunciou a compra de títulos da dívida do país no valor de 11 mil
milhões de euros. Só uma parte desse montante foi desembolsado antes de, em
Fevereiro, Ianukovich fugir de Kiev e, no início deste mês, a
Gazprom anulou quase totalmente o desconto acordado meses antes —
dos 268,5 dólares por cada mil metros cúbicos de gás, a Ucrânia passou a pagar
385,5 dólares, acima da média cobrada aos países da UE.
O Departamento de Estado norte-americano
lamentou o conteúdo da carta — a ameaça mais clara de que as torneiras do
gás poderão fechar-se em breve —, condenando o que diz serem “os esforços da
Rússia para usar a energia como um instrumento de coerção contra a Ucrânia”. A
Casa Branca revelou também que, num telefonema para a chanceler alemã, Angela
Merkel, o Presidente Barack Obama “sublinhou a necessidade de os Estados
Unidos, a União Europeia e os outros parceiros globais estarem preparados para
reagir a uma nova escalada da Rússia com sanções adicionais”.
Ameaças, de um e outro lado, que fazem baixar as expectativas para as
negociações, anunciadas para a próxima semana, entre os chefes da diplomacia da
Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e UE. A reunião foi marcada depois de, no
último fim-de-semana, manifestantes pró-russos terem invadido
edifícios públicos em três cidades do Leste do país, tentando mimetizar o
cenário que levou comandos russos a entrar na Crimeia, naquele que foi o
primeiro passo para a anexação da península de maioria russa, após um referendo
em que a esmagadora maioria dos votantes se disseram favoráveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário