O ministro dos Negócios
Estrangeiros ucraniano, Andri Deshchitsia, com o
secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen
ALEXANDRE MARTINS
01/04/2014 - 17:34
Países-membros da aliança atlântica
implementam "medidas imediatas e de longo prazo com o objectivo de reforçar a capacidade da Ucrânia para garantir a sua
própria segurança".
Os países-membros da NATO anunciaram nesta
terça-feira o reforço da cooperação militar com a Ucrânia, através de
"medidas imediatas e de longo prazo para aumentar a capacidade" do
país na área da segurança. Reunidos em Bruxelas, os ministros dos Negócios
Estrangeiros da aliança decidiram também suspender todas as relações com a
Rússia.
"A NATO e a
Ucrânia decidiram hoje [terça-feira], tal como está estipulado na declaração da
Comissão NATO-Ucrânia, implementar medidas imediatas e de longo prazo com o
objectivo de reforçar a capacidade da Ucrânia para garantir a sua própria segurança",
lê-se
no
comunicado conjunto
dos 28 países da aliança. Para além da Ucrânia, o reforço
das relações vai estender-se também a "outros parceiros na Europa de Leste, em
colaboração com eles e no âmbito dos programas bilaterais existentes".
O corte das relações
com a Rússia chega ao fim de 23 anos, motivado pela anexação da península da
Crimeia, que a NATO descreve como uma "violação da lei internacional e em
contradição com os princípios e os compromissos" assumidos entre as duas partes.
"Decidimos
suspender toda a colaboração militar e civil entre a NATO e a Rússia. O nosso
diálogo político no Conselho NATO-Rússia pode continuar ao nível das
embaixadas, para continuarmos a trocar pontos de vista, sobretudo em relação a
esta crise", anunciaram os membros da organização. Esta suspensão será
revista na próxima reunião da NATO, marcada para Junho.
O objectivo da NATO é
acalmar os receios manifestados por países como a Polónia, a Estónia, a Letónia
ou a Lituânia - todos membros da NATO, que a organização tem a obrigação de
proteger, ao contrário da Ucrânia.
A Rússia tem alertado
várias vezes contra a possibilidade de a Ucrânia vir a integrar a NATO, mas o
primeiro-ministro ucraniano, Arseni Iatseniuk, já disse que o seu país não tem
essa intenção.
O alargamento da NATO
nos últimos 15 anos à quase totalidade dos países que fizeram parte do Pacto de
Varsóvia (Albânia, Bulgária, Hungria, Polónia, República Checa e Roménia), bem
como aos Estados bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) foi interpretado pela
Rússia como uma tentativa de limitar a sua esfera de influência na Europa de
Leste.
Ao dizer que
"todas as opções" estão em aberto para o reforço da presença da NATO
nesses países, o secretário-geral da organização admitiu, implicitamente, a
hipótese de instalar novas bases permanentes, o que Moscovo iria interpretar
como uma provocação. Outras hipóteses passam pelo reforço dos exercícios
militares na região, algo que os Estados Unidos já fizeram, com o envio de um
número suplementar de caças F-16 para a Polónia.
NATO desmente Putin
Antes da declaração
conjunta, o secretário-geral da organização, Anders
Fogh Rasmussen,
desmentira o Presidente russo, Vladimir Putin, que anunciou na segunda-feira
uma retirada parcial das suas tropas dispostas ao longo da fronteira com a
Ucrânia.
"Infelizmente,
não posso confirmar que a Rússia esteja a retirar as suas tropas. Não é isso
que estamos a verificar", disse Rasmussen.
A notícia da retirada
de tropas foi avançada por Vladimir Putin à chanceler alemã, Angela Merkel,
numa conversa telefónica na segunda-feira. "O Presidente russo informou a
chanceler de que ordenou uma retirada parcial das tropas russas da fronteira
oriental da Ucrânia", disse o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert.
Em Kiev, o Parlamento
deu mostras de querer desmantelar as milícias criadas durante os protestos
contra o Presidente Viktor Ianukovich - como os neonazis do Sector Direito -,
mas também grupos "constituídos por estrangeiros", que levam a cabo
"provocações sistemáticas no Sudeste da Ucrânia e em Kiev".
Na segunda-feira, um
membro do Sector Direito envolveu-se num tiroteio com elementos de
outras milícias paramilitares, e acabou por se refugiar no quartel-general do
grupo. Segundo os ledia locais, após negociações com a polícia, vários membros do
Sector Direito saíram do seu quartel-general e entraram em autocarros, em
direcção a "campos de treino" nos arredores da cidade.
Também nesta
terça-feira, a empresa russa Gazprom anunciou um aumento superior a 40% no
preço do gás vendido à Ucrânia, pondo fim a uma redução que aplicou em
Dezembro, antes da saída do Presidente Viktor Ianukovich.do poder em Kiev.
A Ucrânia vai agora
pagar 385,5 dólares (280 euros) por mil metros cúbicos de gás, contra os 268,5
dólares (195 euros) acordados em Dezembro. Segundo a empresa, este novo preço
reflecte a dívida acumulada por Kiev, que chega aos 1,7 mil milhões de dólares
(1,2 mil milhões de euros).
Em
Dezembro a Ucrânia beneficiou de um desconto no gás da Gazprom depois de ter
rejeitado assinar um acordo com a União Europeia e de se ter associado à união
aduaneira planeada pela Rússia.
Esse
desconto estava sujeito a uma revisão trimestral, o que ocorreu agora.
O
novo preço, de 385,5 dólares, é superior à média cobrada pela Gazprom aos
países da União Europeia, que é de 370 dólares (269 euros). Ainda assim, fica
muito abaixo do que o esperado pelo primeiro-ministro ucraniano, Arseni
Iatseniuk – na semana passada, perante o Parlamento, o chefe do Governo disse
que a Ucrânia estava a preparar-se para um aumento de 79%, para 400 dólares
(349 euros)
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