O secretário-geral da NATO afirma que 40.000
soldados russos estão "prontos a combater"
ALEXANDRE MARTINS 10/04/2014 - 18:03
Moscovo responde ao secretário-geral da Aliança Atlântica, que pediu um
reforço dos gastos militares e voltou a exigir a retirada das
tropas russas da fronteira com a Ucrânia.
Os alertas da NATO
sobre a acumulação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia não passam de uma
estratégia para garantir a sua própria sobrevivência, acusa o Ministério dos
Negócios Estrangeiros da Rússia. Numa declaração proferida nesta quinta-feira
na República Checa, o secretário-geral da Aliança Atlântica, Anders Fogh Rasmussen,
afirmou que Moscovo tem 40.000 soldados "preparados para combater, e não
em exercícios".
"As constantes
acusações do secretário-geral convencem-nos de que a Aliança está a tentar usar
esta crise na Ucrânia para cerrar as suas fileiras contra uma ameaça externa
imaginária, e para aumentar a procura pela Aliança no século XXI", lê-se num comunicado do
ministério russo chefiado por Sergei Lavrov.
Depois de a chanceler
alemã, Angela Merkel, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerrv, terem comparado a estratégia do
Presidente Vladimir Putin para anexar a Crimeia às tácticas usadas no século
XIX (e das várias referências a um regresso aos tempos da Guerra Fria, no
século XX), a Rússia surge agora a questionar a legitimidade da existência da
NATO no século XXI - a fundação da Aliança Atlântica, em 1949, motivou a
criação do Pacto de Varsóvia, que viria a ser desmembrado em 1991, com o
colapso da União Soviética.
As críticas de
Moscovo são uma resposta ao secretário-geral da NATO, que voltou a exigir nesta
quinta-feira que a Rússia retire as suas tropas da fronteira com a Ucrânia, em
declarações no final de uma reunião com o primeiro-ministro checo, Boshulav Sobotka, em
Praga.
"Pela primeira
vez desde que países como a República Checa conquistaram a liberdade, e
desde o fim da Guerra Fria, vemos um Estado a tentar apoderar-se
de parte do
território de outro Estado à mão armada", afirmou Anders
Fogh Rasmussen.
O líder da NATO - que
vai ser substituído em Outubro pelo antigo primeiro-ministro
norueguês Jens Stoltenberg - acusou também a Rússia de "agitar as tensões
étnicas" no Leste da Ucrânia. "Neste preciso momento, cerca de 40.000
soldados russos estão colocados ao longo das fronteiras da Ucrânia. Preparados
para combater, e não em exercícios. Temos visto as imagens
de satélite todos os dias. A
Rússia está a agitar as tensões étnicas no Leste da Ucrânia e a provocar a
desordem. E está a usar o seu poderio militar para ditar que a Ucrânia se
transforme num Estado Federal e neutral. Só a Ucrânia, como Estado soberano,
pode tomar essa decisão. Mais ninguém", disse o secretário-geral da NATO.
O Ministério dos Negócios
Estrangeiros russo interpretou
estas palavras como uma "confrontação" e acusou a NATO de não ter
avançado "qualquer agenda construtiva" para a Ucrânia.
No início de Abril, a
NATO suspendeu todas as linhas de cooperação
militar com a Rússia, mas salientou que os canais políticos continuam abertos. No mesmo dia -
numa reunião em que esteve presente o ministro dos Negócios Estrangeiros da
Ucrânia -, os países-membros da Aliança Atlântica
decidiram reforçar os seus meios nos países mais próximos da Rússia, como a
Polónia, a Estónia, a Letónia e a Lituânia.
Em causa está também
o acordo de cooperação entre a NATO e a Rússia, assinado
em 2002 em Roma, que travou a
instalação de novas bases militares permanentes no centro e no Leste da Europa.
Não há ainda indicações de que a Aliança esteja a preparar-se
para criar novas
bases - por enquanto, a aposta é no reforço dos seus meios no âmbito dos
exercícios conjuntos com os países em causa.
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