Lavrov diz que Kiev
não quer controlar os “extremistas”
JOÃO MANUEL ROCHA
21/04/2014 - 14:24 (actualizado às 18:36)
Ministro russo acusa governo de Kiev de “não fazer nada”
para controlar extremistas. Vice-presidente dos EUA está em Kiev para enviar “mensagem clara de apoio” à
Ucrânia.
O tiroteio da madrugada de
domingo perto
da cidade de Slaviansk e a continuada
ocupação de edifícios públicos em várias cidades do Leste da Ucrânia, por pró-russos, mostram
a fragilidade do acordo sobre a crise ucraniana assinado na mesma passada em Genebra.
O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, acusou a
Ucrânia de estar a violar o compromisso assinado na quinta-feira, que prevê o
desarmamento de “todos os grupos ilegais” e a desocupação de edifícios
governamentais tomados por separatistas pró-russos nas últimas semanas.
“Não só o acordo de Genebra não está a ser respeitado, como estão a ser
tomadas medidas, por aqueles que tomaram o poder em Kiev, que o violam
grosseiramente”, disse Lavrov, numa conferência de imprensa. O
entendimento alcançado pelas diplomacias dos EUA, União Europeia, Ucrânia e
Moscovo prevê o fim da violência, o desarmamento de “todos os grupos ilegais” e
a desocupação dos edifícios públicos.
O chefe da diplomacia de Moscovo disse que o tiroteio de domingo, num posto
de controlo montado por pró-russos - que provocou a morte de quatro pessoas, três
segundo algumas versões - prova que o governo de Kiev não quer controlar os
“extremistas”, designadamente o grupo nacionalista Sector Direito. “Não estão a
fazer nada, nem sequer a levantar um dedo para enfrentar as causas que estão
por trás desta profunda crise interna na Ucrânia”, acrescentou, segundo o
relato das agências noticiosas.
As circunstâncias do incidente de Slaviank não são claras e têm motivado trocas de acusações. Os pró-russos
afirmam que o ataque foi feito pelo Sector Direito e Lavrov reforçou essa
versão, ao declarar que o mostra a falta de vontade das novas autoridades de
Kiev para controlarem os extremistas. Os serviços de segurança
ucranianos afirmam que se tratou de uma operação “encenada” pelos serviços
secretos de Moscovo. O ministério ucraniano da Defesa denunciou um segundo
incidente, na noite de domingo: um ataque, por motociclistas armados, a um
posto de controlo do exército entre Donetsk – onde foi declarada uma “república
popular” pró-russa – e Slaviansk, tendo um dos atacantes sido ferido e dois capturados.
Até ao fim da tarde desta
segunda-feira não havia no terreno alterações significativas. Cerca de uma
centena de elementos da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na
Europa) têm vindo a informar os pró-russos do conteúdo do acordo alcançado em Genebra
e têm-se deparado com reacções
muito diferentes. “Há uma atitude mais dura em Donetsk ou Slaviansk, mas
noutras áreas há maior compreensão”, disse, citado pela Reuters, um porta-voz
da organização, Michael Bociurkiw.
Os separatistas pró-russos - alguns
dos quais se demarcaram desde logo do acordo da semana passada - mantinham,
esta segunda-feira à tarde, o controlo de edifícios
públicos que foram ocupando
desde o início do mês em pelo menos nove cidades do Leste da Ucrânia.
O Presidente derrubado, Viktor
Ianukovich, que em Fevereiro se refugiou na Rússia, voltou esta segunda-feira a
pronunciar-se sobre a situação na Ucrânia, ao apelar
às novas autoridades de Kiev para “a retirada imediata de todas as suas forças
armadas” do Leste da Ucrânia de modo a evitar “um banho de sangue”. Não houve,
no imediato, reacções à sua declaração.
Naquela que é também uma guerra
de informação, o jornal New York Times divulgou entretanto fotografias que o
governo da Ucrânia entregou na semana passada à OSCE e que, em seu entender,
provam o envolvimento das autoridades de Moscovo na
desestabilização do Leste da Ucrânia. As fotos, que o Departamento de Estado
norte-americano considera convincentes, sugerem que alguns dos homens fotografados nas últimas
semanas nas regiões russófonas da Ucrânia serão militares e membros dos
serviços russos. Nalguns casos, fotos recentes são comparadas com imagens
obtidas noutros lugares, como na Crimeia, nos últimos meses, ou na Geórgia, há seis anos.
Rússia “sabe o que quer”
Com a possibilidade de
agravamento das sanções norte-americanas e europeias em pano de fundo - na
sequência da anexação da Crimeia foram congelados bens e proibida a concessão
de vistos a um pequeno número de dirigentes russos - o vice-Presidente dos EUA
chegou esta segunda-feira a Kiev para uma vista de dois dias, que começa esta
terça-feira. Ainda a bordo do avião, um porta-voz anunciou que será
oficializado um pacote de ajuda centrado na energia mas a viagem tem um alcance
mais vasto: “quer enviar uma mensagem clara de apoio
dos Estados Unidos à
democracia, unidade, soberania e integridade territorial da Ucrânia”, disse,
citado pela Reuters.
Joe Biden, afirmou também o
assessor não identificado, “vai apelar à urgente aplicação do acordo da semana
passada em Genebra e deixar claro... que haverá custos para a Rússia se
escolherem a desestabilização em vez da abordagem construtiva”.
Num comentário, feito antes desta
declaração, à possibilidade de novas sanções, Lavrov disse que as tentativas de
isolamento da Rússia falharão porque ela é uma “grande e independente potência,
que sabe o que quer”. “Em vez de nos fazerem ultimatos, exigindo que cumpramos
exigências em dois ou três dias com ameaça de sanções, os nossos parceiros
americanos deviam assumir a responsabilidade por aqueles que levaram ao poder”.
Disse.
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