EDITORIAL
DIRECÇÃO EDITORIAL 09/02/2014 - 20:52
O
sim que trava a imigração ganhou. A
direita nacionalista ganhou. A
Europa perdeu.
Na Suíça bastam 100 mil assinaturas para se convocar um referendo. E neste
sistema de democracia directa fazem-se referendos sobre tudo:
desde o uso de armas e a proibição de fumar até às coisas aparentemente mais
ridículas, como a de saber se um animal alvo de abuso ou de maus tratos deve ou
não ter direito a um advogado. Só no ano passado foram 11 os referendos a nível
nacional.
Ontem foram a votos três novas perguntas: uma sobre a expansão da rede
rodoviária, outra sobre o aborto (saber se deve ser o seguro de saúde ou a
própria mulher a arcar com as despesas de um aborto) e, a mais mediática, sobre
a possibilidade de se colocar ou não um travão e um sistema de quotas à
imigração europeia.
A iniciativa - Contra a
Imigração de Massas - foi do Partido do Povo Suíço, que nunca escondeu ao que vinha. Foram os
mesmos que propuseram, em 2010, um referendo para a expulsão de estrangeiros
que tivessem cometido uma qualquer infracção (por exemplo, trabalhar para além
do horário de trabalho) ou que no ano anterior conseguiram proibir a construção
de minaretes (as torres das mesquitas) em território suíço. Mas não só de
tiques islamófobos é feita esta direita nacionalista. Olham para o projecto da
construção europeia com algum desdém, mas os seus argumentos convenceram a
maioria dos suíços que foram, votar. Responsabilizaram os estrangeiros pelo
aumento da criminalidade, pela subida das rendas de casa, pela descida dos
salários e por transportes públicos apinhados de gente. A culpa há-de ser de
alguém: neste caso, dizem, é dos “outros”.
Este sim da Suíça também foi mais um não ao projecto europeu. Por duas
vezes os suíços, em referendo como não podia deixar de ser, recusaram a adesão
à União Europeia. Mas em 2002 estabeleceram com a União uma série de
compromissos para a livre circulação de pessoas como contrapartida de terem
acesso ao mercado único.
E foi aqui que os suíços votaram num "logo se vê", porque as
consequências deste referendo são imprevisíveis para a própria economia
helvética. Como diz Viviane Reding, “a Suíça não pode ficar só com o que
gosta”. E o que gosta é que à União, além dos imigrantes indesejados, também
vai buscar mão-de-obra qualificada (os gestores de empresas como
a Roche, Novartis, UBS ou Credit Suisse estarão em pânico com o sim). É para
onde vende 55% das suas exportações (e importa 80%) e, segundo a OCDE, é o país
que mais beneficia da livre circulação.
O saldo entre a receita fiscal obtida com os imigrantes e os custos
administrativos, sociais e de infra-estruturas
que lhes podem ser imputados é positivo em 6,5 mil milhões de francos.
A Europa deve ter uma resposta firme para a Suíça e olhar para o resultado
do referendo como um aviso para as eleições de Maio, já que os partidos da direita
nacionalista vão aproveitar a onda para tentar semear e colher o voto baseado
num sentimento anti-imigração.
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