China pode começar a comprar menos aos países da América Latina
MARGARIDA
BONDE SOUSA
Margarida.bondesousa@ionline.pt
Arrefecimento da China e quebra do
preço das matérias primas podem provocar nova tempestade alargada
É
possível que muito em breve a economia mundial volte a ser assolada por uma
nova tempestade, desta vez por via dos países emergentes. O Fundo Monetário Internacional
(FMI) considera que estas economias, em particular as da América Latina, podem
trazer uma nova incógnita ao crescimento mundial. Ainda não se fala abertamente
em crise mas
os
alertas multiplicam-se, em particular aos investidores no sentido de se
protegerem a tempo de modo a não se tornarem vulneráveis à nova onda de
incerteza.
Alejandro
Werner, director do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI defende que a
volatilidade será um dos factores mais relevantes na América Latina nos próximos
12 meses. O ano começou com tensões e situações surpreendentes e o panorama
continua duvidoso. O crescimento de toda a região deverá ser menor,
comparativamente com as tendências recentes.
As
previsões de crescimento do FMI para a América Latina são de 3% para 2014,
contra os 2,6% do ano passado. A razão, que já levou a uma redução de uma
décima relativamente às previsões de Outubro, prende-se com a performance
do
México. Para 2015, o crescimento do PIB mexicano deverá ser de 3,3%, duas décimas
a menos do que o inicialmente
estimado.
“Se bem que o crescimento aumente”, defendeu o responsável do FMI, “haverá mais
turbulências que podem afectar estas previsões. O rendimento é inferior à média
global, que passou de 3,7% para 3,9%, e a economia deste país deverá crescer
cerca de metade quando comparada com as restantes economias emergentes”. O FMI
considera que estas últimas deverão crescer 5,1% em 2014 e 5,4% em 2015.
MENOS ESTÍMULOS DOS
EUA
O
primeiro impacto importante no crescimento destes países prende-se com a
redução dos estímulos à economia norte-americana, num contexto da normalização
da política monetária naquele país. À medida que a Reserva Federal
norte-americana (FED) deixa de injectar tantos dólares, a divisa
norte-americana torna-se mais atractiva para os investidores, o que leva à
saída de capital das economias emergentes, principalmente se estas não respondem
com subidas agressivas das taxas de juro.
Mas o factor mais
preocupante é a descida dos preços das matérias-primas. O FMI está muito atento
a este último ponto, agravado pelo facto de não ser evidente como vai ser a
evolução da economia chinesa durante os próximos dois
anos, a braços com
uma quebra nas exportações que poderá prolongar-se em 2015. Isto porque
qualquer oscilação no crescimento do país terá reflexos no preço das matérias
primas mundiais, o que também joga contra alguns destes países produtores. “As
perspectivas de crescimento da China são particularmente importantes para os
países exportadores da América Latina”, disse Werner.
Para o Brasil,
Chile, Colômbia, Peru e Uruguai, os grandes exportadores de commodities, as
perspectivas dependem, em grande parte, das condições domésticas. A situação é
muito menos favorável para a Argentina e para a Venezuela
onde as pressões
sobre a inflação, a balança de pagamentos e os mercados cambiais afectam
negativamente a confiança dos investidores.
A procura mundial em
matérias primas será pois determinante para a evolução dos emergentes
latino-americanos. Outro risco tem a ver com o financiamento das dívidas
externas, uma vez que as condições nos mercados financeiros
mundiais serão mais
restritivas.
Cada uma das
mudanças neste puzzle de factores pode gerar mais volatilidade. O FMI insiste
que a prioridade passa por reformas estruturais que consigam atenuar os riscos
das condicionantes externas.
Para já, os maiores
impactos fizeram-se sentir na Argentina e na Turquia, onde as respectivas
moedas registaram quebras acentuadas, criando o risco dos investidores
estrangeiros, dos consumidores e das empresas perderem ainda mais a confiança
nestas duas economias. Nos restantes mercados emergentes, os sinais também não
são positivos, com fortes quedas nas bolsas.
FMI
alerta para a necessidade dos países continuarem com as reformas estruturais
BOAS
NOTÍCIAS
A diferença mais
palpável relativamente ao que aconteceu em 1997 prende-se com o facto de,
actualmente, haver países mais bem preparados do que outros para responder às mudanças
da conjuntura externa. A consultora Capital Economics defendeu recentemente num
estudo que, contrariamente ao final da década de 90, a situação dos países
emergentes está longe de ser homogénea, pelo que o efeito de contágio é, desta
vez, menos provável.
O estudo classifica
as diversas economias em grupos separados, cada um deles com um nível de risco
diferente. No grupo de maior perigo estão a Argentina, a Ucrânia e a Venezuela,
os três em que as políticas económicas e a instabilidade política mais assusta
os investidores.
Num segundo grupo
estão sobretudo países como a África do Sul, Turquia, alguns Estados do
Sudoeste Asiático e países da América Latina, como o Peru e o Chile, que
acumularam desequilíbrios acentuados nas suas economias nos últimos anos e que
agora podem sentir maiores dificuldades. Finalmente, um terceiro grupo integra
países do Leste europeu como a Hungria e a Roménia, que continuam a ter um
sector financeiro debilitado em consequência da crise recente que afectou a
Europa e os Estados Unidos.
Sem comentários:
Enviar um comentário