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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Países emergentes ameaçam crescimento da economia mundial


China pode começar a comprar menos aos países da América Latina

MARGARIDA BONDE SOUSA
Margarida.bondesousa@ionline.pt 

Arrefecimento da China e quebra do preço das matérias primas podem provocar nova tempestade alargada

É possível que muito em breve a economia mundial volte a ser assolada por uma nova tempestade, desta vez por via dos países emergentes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera que estas economias, em particular as da América Latina, podem trazer uma nova incógnita ao crescimento mundial. Ainda não se fala abertamente em crise mas
os alertas multiplicam-se, em particular aos investidores no sentido de se protegerem a tempo de modo a não se tornarem vulneráveis à nova onda de incerteza.

Alejandro Werner, director do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI defende que a volatilidade será um dos factores mais relevantes na América Latina nos próximos 12 meses. O ano começou com tensões e situações surpreendentes e o panorama continua duvidoso. O crescimento de toda a região deverá ser menor, comparativamente com as tendências recentes.

As previsões de crescimento do FMI para a América Latina são de 3% para 2014, contra os 2,6% do ano passado. A razão, que já levou a uma redução de uma décima relativamente às previsões de Outubro, prende-se com a performance
do México. Para 2015, o crescimento do PIB mexicano deverá ser de 3,3%, duas décimas a menos do que o inicialmente
estimado. “Se bem que o crescimento aumente”, defendeu o responsável do FMI, “haverá mais turbulências que podem afectar estas previsões. O rendimento é inferior à média global, que passou de 3,7% para 3,9%, e a economia deste país deverá crescer cerca de metade quando comparada com as restantes economias emergentes”. O FMI considera que estas últimas deverão crescer 5,1% em 2014 e 5,4% em 2015.

MENOS ESTÍMULOS DOS EUA
O primeiro impacto importante no crescimento destes países prende-se com a redução dos estímulos à economia norte-americana, num contexto da normalização da política monetária naquele país. À medida que a Reserva Federal norte-americana (FED) deixa de injectar tantos dólares, a divisa norte-americana torna-se mais atractiva para os investidores, o que leva à saída de capital das economias emergentes, principalmente se estas não respondem com subidas agressivas das taxas de juro.

Mas o factor mais preocupante é a descida dos preços das matérias-primas. O FMI está muito atento a este último ponto, agravado pelo facto de não ser evidente como vai ser a evolução da economia chinesa durante os próximos dois
anos, a braços com uma quebra nas exportações que poderá prolongar-se em 2015. Isto porque qualquer oscilação no crescimento do país terá reflexos no preço das matérias primas mundiais, o que também joga contra alguns destes países produtores. “As perspectivas de crescimento da China são particularmente importantes para os países exportadores da América Latina”, disse Werner.

Para o Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai, os grandes exportadores de commodities, as perspectivas dependem, em grande parte, das condições domésticas. A situação é muito menos favorável para a Argentina e para a Venezuela
onde as pressões sobre a inflação, a balança de pagamentos e os mercados cambiais afectam negativamente a confiança dos investidores.

A procura mundial em matérias primas será pois determinante para a evolução dos emergentes latino-americanos. Outro risco tem a ver com o financiamento das dívidas externas, uma vez que as condições nos mercados financeiros
mundiais serão mais restritivas.

Cada uma das mudanças neste puzzle de factores pode gerar mais volatilidade. O FMI insiste que a prioridade passa por reformas estruturais que consigam atenuar os riscos das condicionantes externas.

Para já, os maiores impactos fizeram-se sentir na Argentina e na Turquia, onde as respectivas moedas registaram quebras acentuadas, criando o risco dos investidores estrangeiros, dos consumidores e das empresas perderem ainda mais a confiança nestas duas economias. Nos restantes mercados emergentes, os sinais também não são positivos, com fortes quedas nas bolsas.

FMI alerta para a necessidade dos países continuarem com as reformas estruturais

BOAS NOTÍCIAS
A diferença mais palpável relativamente ao que aconteceu em 1997 prende-se com o facto de, actualmente, haver países mais bem preparados do que outros para responder às mudanças da conjuntura externa. A consultora Capital Economics defendeu recentemente num estudo que, contrariamente ao final da década de 90, a situação dos países emergentes está longe de ser homogénea, pelo que o efeito de contágio é, desta vez, menos provável.

O estudo classifica as diversas economias em grupos separados, cada um deles com um nível de risco diferente. No grupo de maior perigo estão a Argentina, a Ucrânia e a Venezuela, os três em que as políticas económicas e a instabilidade política mais assusta os investidores.


Num segundo grupo estão sobretudo países como a África do Sul, Turquia, alguns Estados do Sudoeste Asiático e países da América Latina, como o Peru e o Chile, que acumularam desequilíbrios acentuados nas suas economias nos últimos anos e que agora podem sentir maiores dificuldades. Finalmente, um terceiro grupo integra países do Leste europeu como a Hungria e a Roménia, que continuam a ter um sector financeiro debilitado em consequência da crise recente que afectou a Europa e os Estados Unidos.

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