Líderes europeus receberam Putin em Bruxelas
ISABEL ARRIAGA E CUNHA 28/02/2014
- 19:20
Cimeira euro-russa em Bruxelas foi reduzida a apenas três horas. A crise política em Kiev dominou os trabalhos
A tensão das últimas semanas
entre a União Europeia (UE) e a Rússia por causa da situação na
Ucrânia dominou uma mini-cimeira entre os dirigentes dos dois blocos que
decorreu nesta terça-feira, em Bruxelas, com cada lado a acusar o outro de
interferência nas questões internas de Kiev.
A provar o estado
particularmente delicado das relações entre os dirigentes da Comissão Europeia
e do Conselho Europeu, Durão Barroso e Herman Van Rompuy, de um lado, e o
Presidente russo Vladimir Putin, do outro, esteve a redução da duração das
conversações a apenas três horas, com almoço incluído, em vez dos habituais
dois dias das cimeiras semestrais euro-russas. Mesmo assim, o encontro permitiu
aos intervenientes "dizer coisas que às vezes não dizemos", afirmou
Barroso no final da cimeira, citando Dostoievski.
Embora a cimeira
tivesse na agenda sobretudo os habituais temas bilaterais de discórdia, como as
regras energéticas da UE que Moscovo considera discriminatórias para o seu
conglomerado Gazprom, ou as taxas exigidas por Moscovo para o sobrevoo da
Sibéria, foi a Ucrânia que dominou os trabalhos.
A tensão entre os
dois blocos tem vindo a crescer desde que Moscovo pressionou o presidente da
Ucrânia, Viktor Ianukovich, a denunciar, em Novembro passado, um acordo de
associação política e comercial com a UE e virar-se para a Rússia, um gesto que
os europeus interpretaram como uma tentativa dos russos de preservar a sua zona
de influência.
Putin acusou sem
rodeios a UE de estar a complicar a situação na Ucrânia ao interferir no
conflito que separa o Governo e a oposição. "Tenho a certeza de que o povo
ucraniano vai resolver (a crise) por si mesmo" e "não creio que a
Ucrânia precise de intermediários, quando mais intermediários houver, maiores
problemas haverá”, afirmou.
0 Presidente russo garantiu
igualmente que não há interferências do seu lado, de tal forma que, segundo
disse, não vai alterar os acordos já concluídos com Kiev, nomeadamente para um
empréstimo de 15 mil milhões de dólares e a venda de gás a preço reduzido,
mesmo que o poder mude de mãos.
Os europeus
insistiram por seu lado no direito à soberania dos povos da fronteira leste da
UE - que "deverão poder decidir o seu próprio caminho", segundo
Barroso - e garantiram que o acordo de associação com Kiev, incluído na
"parceria oriental" de boas relações com os países vizinhos, não
constitui um ataque à Rússia mas uma forma de promover a prosperidade económica
e a democracia.
"A parceria não
é contra alguém, é algo que só pode beneficiar os nossos parceiros e obviamente
que não prejudicará a Rússia", afirmou Barroso. De acordo com o presidente
da Comissão, europeus e russos decidiram desenvolver consultas bilaterais ao
nível técnico sobre os acordos de associação ligados à parceria oriental para
analisar as suas possíveis consequências económicas para os dois lados. "A
UE é contra a mentalidade de bloco contra bloco" e acreditamos que "a
UE e a Rússia têm tudo a ganhar com uma atitude de cooperação", disse
ainda Barroso.
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