Powered By Blogger

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Países emergentes fazem regressar receios vividos em 1997

Mercados estão preocupados com sinais de crise
SÉRGIO ANIBAL 27/01/2014 - 20:17
Crise está neste momento focada em países como a Argentina ou a Turquia. O resto dos países emergentes está agora melhor preparado ou o efeito de contágio é possível?

Quando os sinais de retoma nas economias europeia e norte-americana pareciam colocar definitivamente para trás o ambiente de insegurança que se vivia nos mercados desde a crise financeira internacional de 2008, outra ameaça de crise surge agora para ensombrar as expectativas.

Na última semana, todas as atenções viraram-se para os sinais de instabilidade provenientes dos mercados emergentes e a pergunta que mais vezes se repete é se o Mundo está perante a ameaça de uma crise semelhante à vivida pela Ásia em 1997. Para já, o resultado desta incerteza está a ser uma queda das bolsas, não só nos mercados emergentes, mas também nos EUA e na Europa.

Esta segunda-feira, prolongando a tendência negativa da semana passada, as bolsas europeias caíram 0,8%, com os analistas a serem unânimes em relacionar a perda de cotações com um ambiente de incerteza que se vive em relação à evolução das economias emergentes.

O problema está em saber o que é que irá acontecer aos cerca de quatro biliões de dólares de fundos estrangeiros que entraram desde 2008 nos mercados emergentes num momento em que a economia mundial dá um sinal de viragem. Irão continuar a ser investidos nas economias que mais têm crescido no Planeta, irão regressar às grandes potências mundiais de forma moderada e ordenada ou sairão de forma brusca e desorganizada, provocando uma turbulência idêntica à do final do século passado?

Nos últimos dias, com quedas acentuadas de divisas de mercados emergentes como a Argentina ou a Turquia e com um aumento da pressão noutros países como o Brasil ou a África do Sul, os receios de que possa haver um contágio dos actuais focos da crise aumentaram bastante.

Os mercados emergentes foram colocados sob pressão devido a uma combinação de dois factores fundamentais. Por um lado, a retirada dos estímulos monetários por parte dos maiores bancos centrais do mundo, em particular a Reserva Federal norte-americana. À medida que a Fed deixa de injectar tantos dólares na economia, a divisa norte-americana volta a ser um destino atractivo para o investimento, levando à saída de capital das economias emergentes, principalmente se estas não responderem com subidas agressivas de taxas.

Por outro lado, os recentes receios de que a China possa vir a entrar num período de crescimento mais fraco ou mesmo numa crise grave de liquidez no seu sistema bancário fazem aumentar as expectativas de perda de procura de muitas outras economias emergentes na Ásia, que têm vindo a aumentar a sua dependência em relação à China.

Para já, os impactos apenas se fizeram sentir de forma realmente grave em algumas economias. Na Argentina e na Turquia, as divisas registaram quedas acentuadas, criando o risco de uma ainda maior perda de confiança quer dos investidores estrangeiros quer dos consumidores e empresas locais, que vêem o seu dinheiro a perder valor de um dia para o outro. Nos outros mercados emergentes, os sinais também não são positivos, com quedas fortes nas bolsas, mas para já ainda não se assiste a uma queda abrupta das divisas ou a uma fuga massiva de capitais.

Num estudo publicado no final da semana passada, a consultora Capital Economics defendia que, ao contrário do que aconteceu em 1997, a situação dos países emergentes está longe de ser homogénea, pelo que o efeito de contágio é desta vez menos provável.
O estudo colocava as diversas economias em grupos separados, cada um deles com um nível de risco diferente. No grupo de maior risco, estão a Argentina, a Ucrânia e a Venezuela, os três em que as políticas económicas e a instabilidade política mais assusta os investidores.

Num segundo grupo estão países que acumularam desequilíbrios acentuados nas suas economias nos últimos anos agora podem sentir dificuldades: África do Sul, Turquia, partes do Sudueste Asiático e países da América Latina como o Perú e o Chile.

Um terceiro grupo é composto essencialmente com países do Leste europeu como a Hungria e a Roménia, que apresentam ainda um sector financeiro debilitado por causa de crises recentes anteriores.

Por fim, no último grupo, os problemas económicos têm a ver com desequilíbrios estruturais internos e não tanto com o impacto que vier da Fed, já que são economias de grande dimensão como a China ou o Brasil. Fora de risco, entre os emergentes, a consultora coloca apenas o México e a Coreia do Sul.


Para o mundo mais desenvolvido, os riscos também existem, especialmente devido ao elevado nível de interconectividade que existe nos mercados financeiros mundiais. Ainda assim, para já, entre os líderes europeus assiste-se a uma tentativa de tranquilizar os mercados. O Governador do Banco Central francês, Christian Noyer, defendeu esta segunda-feira que “não há nenhuma razão especial para que a Europa possa vir a ser afectada pelos problemas encontrados por alguns pequenos países”.

Sem comentários:

Enviar um comentário