Mercados estão preocupados com
sinais de crise
SÉRGIO ANIBAL 27/01/2014 - 20:17
Crise está neste momento
focada em
países como a Argentina ou a Turquia. O
resto dos países emergentes está agora
melhor preparado ou o efeito de contágio é possível?
Quando os sinais de
retoma nas economias europeia e norte-americana pareciam colocar definitivamente
para trás o ambiente de insegurança que se vivia nos mercados desde a crise
financeira internacional de 2008, outra ameaça de crise surge agora para ensombrar
as expectativas.
Na última semana,
todas as atenções viraram-se para os sinais de instabilidade provenientes dos
mercados emergentes e a pergunta que mais vezes se repete é se o Mundo está
perante a ameaça de uma crise semelhante à vivida pela Ásia em 1997. Para já, o
resultado desta incerteza está a ser uma queda das bolsas, não só nos mercados
emergentes, mas também nos EUA e na Europa.
Esta segunda-feira,
prolongando a tendência negativa da semana passada, as bolsas europeias caíram
0,8%, com os analistas a serem unânimes em relacionar a perda de cotações com
um ambiente de incerteza que se vive em relação à evolução das economias
emergentes.
O problema está em
saber o que é que irá acontecer aos cerca de quatro biliões de dólares de
fundos estrangeiros que entraram desde 2008 nos mercados emergentes num momento
em que a economia mundial dá um sinal de viragem. Irão continuar a ser
investidos nas economias que mais têm crescido no Planeta, irão regressar às
grandes potências mundiais de forma moderada e ordenada ou sairão de forma
brusca e desorganizada, provocando uma turbulência idêntica à do final do
século passado?
Nos últimos dias, com
quedas acentuadas de divisas de mercados emergentes como a Argentina ou a Turquia
e com um aumento da pressão noutros países como o Brasil ou a África do Sul, os
receios de que possa haver um contágio dos actuais focos da crise aumentaram
bastante.
Os mercados
emergentes foram colocados sob pressão devido a uma combinação de dois factores
fundamentais. Por um lado, a retirada dos estímulos monetários por parte dos
maiores bancos centrais do mundo, em particular a Reserva Federal norte-americana. À medida que a Fed
deixa de injectar tantos dólares na economia, a divisa norte-americana
volta a ser um
destino atractivo para o investimento, levando à saída de capital das economias
emergentes, principalmente se estas não responderem com subidas agressivas de
taxas.
Por outro lado, os
recentes receios de que a China possa vir a entrar num período de crescimento
mais fraco ou mesmo numa crise grave de liquidez no seu sistema bancário fazem
aumentar as expectativas de perda de procura de muitas outras economias
emergentes na Ásia, que têm vindo a aumentar a sua dependência em relação à
China.
Para já, os impactos
apenas se fizeram sentir de forma realmente grave em algumas economias. Na
Argentina e na Turquia, as divisas registaram quedas acentuadas, criando o
risco de uma ainda maior perda de confiança quer dos investidores estrangeiros
quer dos consumidores e empresas locais, que vêem o seu dinheiro a perder valor
de um dia para o outro. Nos outros mercados emergentes, os sinais também não
são positivos, com quedas fortes nas bolsas, mas para já ainda não se assiste a
uma queda abrupta das divisas ou a uma fuga
massiva de capitais.
Num estudo publicado
no final da semana passada, a consultora Capital Economics defendia que, ao
contrário do que aconteceu em 1997, a situação dos países emergentes está longe
de ser homogénea, pelo que o efeito de contágio é desta vez menos provável.
O estudo colocava as
diversas economias em grupos separados, cada um deles com um nível de risco
diferente. No grupo de maior risco, estão a Argentina, a Ucrânia e a Venezuela,
os três em que as políticas económicas e a instabilidade política mais assusta
os investidores.
Num segundo grupo
estão países que acumularam desequilíbrios acentuados nas suas economias nos
últimos anos agora podem sentir dificuldades: África do Sul, Turquia, partes do
Sudueste Asiático e países da América Latina como o Perú e o Chile.
Um terceiro grupo é
composto essencialmente com países do Leste europeu como a Hungria e a Roménia,
que apresentam ainda um sector financeiro debilitado por causa de crises
recentes anteriores.
Por fim, no último grupo,
os problemas económicos têm a ver com desequilíbrios estruturais internos e não
tanto com o impacto que vier da Fed, já que são economias de grande dimensão
como a China ou o Brasil. Fora de risco, entre os emergentes, a consultora
coloca apenas o México e a Coreia do Sul.
Para o mundo mais
desenvolvido, os riscos também existem, especialmente devido ao elevado nível
de interconectividade que existe nos mercados financeiros mundiais. Ainda
assim, para já, entre os líderes europeus assiste-se a uma tentativa de
tranquilizar os mercados. O Governador do Banco Central francês, Christian Noyer, defendeu esta
segunda-feira que “não há nenhuma razão especial para que a Europa possa vir a
ser afectada pelos problemas encontrados por alguns pequenos países”.
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