SÉRGIO ANÍBAL 20/02/2014
- 19:52
Autoridade monetária norte-americana mantém rumo traçado. Nos mercados emergentes, o clima continua a ser de apreensão
Na última reunião presidida por Ben Bernanke antes de
este passar a pasta a Janet Yellen, a Reserva Federal norte-americana
não surpreendeu e
manteve esta quarta-feira o ritmo de retirada dos estímulos à economia que
tinha iniciado no mês passado.
Cumprindo aquilo que era a expectativa generalizada dos
mercados, a Fed reduziu as suas compras mensais
nos mercados obrigacionistas de 75 mil milhões para 65 mil milhões de dólares. A redução de 10 mil milhões é igual à anunciada em Dezembro
nos mercados obrigacionistas de 75 mil milhões para 65 mil milhões de dólares. A redução de 10 mil milhões é igual à anunciada em Dezembro
O programa de compra de obrigações por parte da Reserva Federal foi a forma encontrada pela autoridade monetária norte-americana para, no auge da crise e com as taxas de juro já a zero, criar mais estímulos à concessão de crédito na economia dos Estados Unidos. Agora, contudo, à medida que a economia dá sinais de retoma, a Fed pretende retirar de forma progressiva esses estúmulos para evitar pressões inflacionistas, um processo que é conhecido como tapering.
Quando decidiu iniciar, em Dezembro, este processo, a Fed
criou a expectativa nos mercados de que se iriam continuar a realizar reduções
progressivas de 10 mil milhões de dólares ao mês no volume de compras de obrigações. Uma expectativa que
não foi defraudada em Janeiro.
No entanto, a decisão desta quarta-feira foi tomada numa
conjuntura diferente da de Dezembro. Durante os últimos dias, acentuaram-se os
sintomas de pressão em diversos mercados emergentes. Esta pressão é em grande
parte uma consequência do tapering realizado pela Fed, já que com uma menor
injecção de dólares nos mercados, a divisa norte-
americana valoriza-se,
desencadeando uma inversão dos fluxos de capitais entre as grandes potências e
as economias emergentes. Quedas das divisas na Argentina e na Turquia e
descidas dos índices bolsistas um pouco por todo o Mundo vieram confirmar que o
tapering norte-americano continua a fazer soar
alarmes junto dos investidores.
A Fed optou nesta reunião por “passar ao lado” das
convulsões nos mercados e manter a rota traçada em Dezembro. Diversos analistas
defenderam durante os últimos dias que esta era a única opção em cima da mesa
se a Fed quisesse evitar uma perda de credibilidade. Ainda assim, ficou claro -
para quem ainda tivesse dúvidas - que Janet Yellen herda de Ben Bernanke uma
tarefa extremamente delicada: colocar um ponto final na sua política
expansionista sem desencadear uma nova crise grave na economia e sistema
financeiro mundiais.
Turquia sobe taxas
O ambiente de ansiedade que se vive nos mercados
emergentes foi esta quarta-feira evidente com a decisão do banco central turco de
aumentar as suas taxas e juro de forma drástica.
A taxa overnight passou de 7,75% para 12% e a
taxa repo a uma semana passou de 4% para 10%. O banco central disse ainda que esta última taxa deve
passar a ser considerada como a taxa de referência,em substituição da overnight.
taxa repo a uma semana passou de 4% para 10%. O banco central disse ainda que esta última taxa deve
passar a ser considerada como a taxa de referência,em substituição da overnight.
Esta é a forma encontrada pelas autoridades turcas de
contrariar o declínio a que se vinha assistindo no valor da sua divisa face às
principais moedas internacionais. Outros países, como o Brasil ou a índia têm
seguido a mesma estratégia.
Os mercados, que já estavam à espera de uma subida de
taxas na Turquia, foram ainda assim apanhados de surpresa pela dimensão do
movimento. Na manhã desta quarta-feira, essa surpresa pareceu surtir o efeito
desejado. A lira turca apreciou-se cerca de 3% face ao dólar (a maior subida
dos últimos cinco anos) e as bolsas mundiais registaram subidas nos seus
índices.
No entanto, durante a tarde, à medida que se esperava
pela decisão da Fed, o entusiasmo desvaneceu-se.
Cerca de dois terços
da subida de 3% da lira acabou por ser anulada e a bolsa turca regressou às
quedas. Neste momento, entre os investidores, vai crescendo a convicção de que
uma escalada da crise nos mercados emergentes não possa ser evitada com medidas
avulsas de política monetária. “Se isto não resulta para travar o declínio da
lira turca, que outras medidas é que o banco central pode tomar? Volta a subir
as taxas de juro?”, questionava-se um investidor de uma corretora norte-americana citado pela Bloomberg, antecipando já um desfecho igual
àquele que acabou por começar a resolver a crise asiática do final dos anos 90:
“O meu grande medo é que comecem a falar de controlos de capital”.
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