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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Batalha de Kiev. Confrontos incendeiam capital da Ucrânia

03 As chamas começaram com os cocktaiks molotov e foram alimentadas ao longo da noite
O presidente Viktor Yanukovich convocou uma reunião de urgência com a oposição para a noite de ontem, quando já havia 14 mortos registados

SARA SANZ PINTO
sara.pinto@ionline.pt
 
Violentos confrontos entre manifestantes e autoridades provocaram ontem pelo menos 14 mortos (oito civis e seis polícias), e mais de 200 feridos, alguns deles em estado grave, na capital da Ucrânia, Kiev. Ontem à noite, à hora do fecho deste jor­nal, muitas das tendas na Praça da Inde­pendência que durante dias serviram de abrigo aos opositores estavam em chamas, enquanto as forças de segurança avança­vam lentamente no terreno.

Os manifestantes “não vão dar um úni­co passo atrás”, garantia o líder do partido Pátria, Arseni Iatseniuk. “Não temos para onde recuar. A Ucrânia está atrás de nós e o futuro da Ucrânia está à nos­sa frente. Sem medos, apenas fé na nos­sa força, apenas solidariedade e unida­de, apenas apoio mútuo”, disse, citado pela BBC.

De acordo com a AFP, o edifício da câma­ra municipal de Kiev, que serviu de quar­tel-general aos activistas durante as últi­mas semanas e tinha sido desocupado no domingo, ao abrigo do acordo para a amnistia dos detidos, foi ontem nova­mente invadido. Pelo menos 100 pessoas foram detidas, todas as estradas em direc­ção à capital foram bloqueadas para evitar que mais pessoas se juntassem aos protestos, o metro estava encerrado e várias fontes, incluindo o apresentador de televisão Artem Ovdiyenko, informa­ram que o Canal 5, anti-governo, tinha deixado de emitir.


Perante o cenário de guerra em Kiev, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, convocou, segundo o diário "Kyiv Post”, uma reunião de urgência com os líderes da oposição para a noite de ontem. A reunião já estava prevista para hoje. Apesar da escalada de violência, o gover­no assegurou ao comissário europeu Stefan Fuele que a polícia não iria utilizar armas para dominar os protestos: “Esti­ve ao telefone com o primeiro-ministro interino a dizer-lhe que ver a Berkut [polí­cia antimotim] com kalashnikovs é uma fonte de grande preocupação, e ele assegurou-me que ele próprio e as autorida­des vão fazer tudo para as armas perma­necerem silenciosas”, afirmou, durante um evento em Bruxelas. “Vou rezar para que esteja certo.”

Naquele que foi descrito como o pior dia de protestos no país desde o início do ano, a polícia recorreu a balas de borra­cha, canhões de água, gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento para disper­sar os milhares de pessoas que, marchan­do em direcção ao parlamento, iam ati­rando pedras e bombas de fumo contra os edifícios e as forças de segurança.

Embora sem resultado, o governo ucra­niano fez ontem um ultimato aos mani­festantes da oposição para saírem das ruas da cidade até às 18h (menos duas Lisboa), dando ordens à polícia de choque para avançar até ao seu principal ponto de concentração, a Praça da Independência. Numa mensagem publicada na internet assinada pelo chefe dos serviços de segurança, Alexandr Yakimenko, e pelo ministro do Interior, Vitali Zarjarchenko, os responsáveis alertaram que seriam usados “todos os meios previstos na lei” para acabar com os confrontos que ontem surgiram em Kiev, enquanto no parlamento se debatiam as alterações à Constituição, que podem passar por restaurar a de 2004 e ir os poderes de Yanukovich.

Mnifestantes antigovernamentais também ocuparam a sede do partido do chefe do Estado, perto do parlamento, depois de romperem o cordão policial que protegia o edifício da assembleia e de se envolverem em confrontos com a polícia. Um jornalista da agência France Press no local afirmou que várias centenas atacaram o edifício com “cocktails molotov” e partiram os vidros das janelas com pedras.

Segundo os médicos que estão a trabalhar no hospital de campanha, montado pela oposição ucraniana, a maioria das lesões foi provocada por granadas de atordoamento. Cerca de 30 pessoas sofreram ferimentos na cabeça, encontrando-se em estado grave, e será preciso amputar a mão a um dos manifestantes. Por seu turno, de acordo com a polícia, 139 agentes das forças de segurança também ficaram feridos nos confrontos, dos quais 39 apresentavam ferimentos de balas. Desde finais de Janeiro que não se registavam confrontos entre manifestantes e polícia. Na altura, também em fren­te ao parlamento, quatro pessoas morre­ram e mais de 500 ficaram feridas.

Moscovo reagiu a estes acontecimentos defendendo que o regresso da violência à Ucrânia é da responsabilidade do Oci­dente. “O que está a acontecer é o resul­tado directo da política de apaziguamen­to dos políticos ocidentais e das estrutu­ras europeias que, desde o início da crise, fecharam os olhos aos actos agressivos das forças radicais na Ucrânia, encora­jando a escalada e as provocações contra o poder legal”, criticou, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

O embaixador norte-americano na Ucrâ­nia, Geoffrey Pyatt, disse através do seu Twitter que, “após um fim-de-semana de progresso em Kiev”, era “triste assistir novamente à violência”. “A política devia acontecer no Rada [parlamento], não na rua.” A Casa Branca também se pronun­ciou ontem ao fim da tarde: “Estamos consternados pela violência que se desen­rola no centro de Kiev”, afirmou à AFP a porta-voz do Conselho de Segurança Nacio­nal, Laura Lucas Magnuson, e pediu a Yanukovich que “ponha fim aos confron­tos”.

Por seu turno, a chanceler alemã, Ange­la Merkel, que já tinha estado reunida com dois membros da oposição ucraniana, Vitali Klitschko e Arseniy Iatseniuk, apelou ao país para avançar com a for­mação de um novo governo e com a refor­ma da Constituição.

Os representantes pediram ainda a Merkel a aplicação de sanções contra o presidente ucraniano, algo a que Berlim acedeu, chegando a ameaçar Yanukovich, bem como apoio financeiro para uma saí­da da crise.

A Rússia diz que o regresso da violência é “resultado” da política dos ocidentais que encorajam esta escalada

Os manifestantes “não vão dar um único passo atrás”, garantiu o líder do partido Pátria, Arseni Iatseniuk

“Aquele que é responsável pelas decisões que levaram ao derramamento de sangue no centro de Kiev ou noutra par­te da Ucrânia deve saber que a Europa está a reconsiderar a sua moderação em matéria de sanções pessoais”, afirmou à AFP o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier. “Dirijo-me ao presidente ucraniano. É a única pessoa que pode ser responsabili­zada por aquilo que está a acontecer. Mar­quem já eleições presidenciais e legisla­tivas. Façam-no. É a única forma de resol­ver o problema”, disse Klitschko, antigo campeão de boxe, ao parlamento, depois do encontro com Merkel.

A crise política na Ucrânia começou em finais de Novembro, quando milhares de pessoas saíram às ruas para protestar con­tra a decisão de Viktor Ianukovich de sus­pender os preparativos para a assinatu­ra de um acordo de associação com a União Europeia, optando por juntar-se a Moscovo.


Depois dos confrontos no final de Janei­ro, desencadeados pela aprovação de legis­lação limitadora do direito de manifesta­ção, governo e oposição iniciaram nego­ciações que levaram à demissão do primeiro-ministro, Mikola Azarov, e à eva­cuação da câmara municipal de Kiev e de outros edifícios públicos ocupados por manifestantes. O processo negociai per­mitiu ainda a aprovação de uma amnis­tia para os mais de 240 manifestantes detidos em confrontos com a polícia, o que fez acalmar a agitação social por uns tempos.

01 Os opositores começaram os confrontos a atirar pedras às forças de segurança
02 A polícia de choque avançou ontem pela Praça da Independência, onde muitos dos opositores ao governo se encontravam acampados
04 A capital ucraniana ficou no caos com os confrontos que durante todo o dia e, só ontem, fizeram 14 mortos.
05 Houve mais de 200 feridos em Kiev, muitos deles polícias.

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