03 As chamas começaram com os cocktaiks molotov e foram alimentadas ao longo da noite
O presidente Viktor Yanukovich convocou uma reunião
de urgência com a oposição para a noite de ontem, quando já havia 14 mortos
registados
SARA SANZ PINTO
sara.pinto@ionline.pt
Violentos confrontos
entre manifestantes e autoridades provocaram ontem pelo menos 14 mortos (oito
civis e seis polícias), e mais de 200 feridos, alguns deles em estado grave, na
capital da Ucrânia, Kiev. Ontem à noite, à hora do fecho deste jornal, muitas
das tendas na Praça da Independência que durante dias serviram de abrigo aos
opositores estavam em chamas, enquanto as forças de segurança avançavam
lentamente no terreno.
Os manifestantes “não
vão dar um único passo atrás”, garantia o líder do partido Pátria, Arseni
Iatseniuk. “Não temos para onde recuar. A Ucrânia está atrás de nós e o futuro
da Ucrânia está à nossa frente. Sem medos, apenas fé na nossa força, apenas
solidariedade e unidade, apenas apoio mútuo”, disse, citado pela BBC.
De acordo com a AFP,
o edifício da câmara municipal de Kiev, que serviu de quartel-general aos
activistas durante as últimas semanas e tinha sido desocupado no domingo, ao
abrigo do acordo para a amnistia dos detidos, foi ontem novamente invadido.
Pelo menos 100 pessoas foram detidas, todas as estradas em direcção à capital
foram bloqueadas para evitar que mais pessoas se juntassem aos protestos, o
metro estava encerrado e várias fontes, incluindo o apresentador de televisão
Artem Ovdiyenko, informaram que o Canal 5, anti-governo,
tinha deixado de
emitir.
Perante o cenário de
guerra em Kiev, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, convocou, segundo o
diário "Kyiv Post”, uma reunião de urgência com os líderes da oposição
para a noite de ontem. A reunião já estava prevista para hoje. Apesar da
escalada de violência, o governo assegurou ao comissário europeu Stefan Fuele que a
polícia não iria utilizar armas para dominar os protestos: “Estive ao telefone
com o primeiro-ministro interino a dizer-lhe que ver a Berkut [polícia
antimotim] com kalashnikovs é uma fonte de grande preocupação, e ele assegurou-me
que ele próprio e as autoridades vão fazer tudo para as armas permanecerem
silenciosas”, afirmou, durante um evento em Bruxelas. “Vou rezar para que
esteja certo.”
Naquele que foi
descrito como o pior dia de protestos no país desde o início do ano, a polícia
recorreu a balas de borracha, canhões de água, gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento
para dispersar os milhares de pessoas que, marchando em direcção ao
parlamento, iam atirando pedras e bombas de fumo contra os edifícios e as
forças de segurança.
Embora sem resultado,
o governo ucraniano fez ontem um ultimato aos manifestantes da oposição para
saírem das
ruas da cidade até às 18h
(menos duas Lisboa), dando ordens à polícia de choque para avançar até ao seu
principal ponto de concentração, a Praça da Independência. Numa mensagem publicada
na internet assinada pelo chefe dos serviços de segurança, Alexandr Yakimenko,
e pelo ministro do Interior, Vitali Zarjarchenko, os responsáveis alertaram que
seriam usados “todos os meios previstos na lei” para acabar com os confrontos
que ontem surgiram em Kiev, enquanto no parlamento se debatiam as alterações à
Constituição, que podem passar por restaurar a de 2004 e ir os poderes de
Yanukovich.
Mnifestantes antigovernamentais
também ocuparam a sede do partido do chefe do Estado,
perto do parlamento,
depois de romperem o cordão policial que protegia o edifício da assembleia e de
se envolverem em confrontos com a polícia. Um jornalista da agência France
Press no local afirmou que várias centenas atacaram o edifício com “cocktails
molotov” e partiram os vidros das janelas com pedras.
Segundo os médicos
que estão a trabalhar no hospital de campanha, montado pela oposição ucraniana,
a maioria das lesões foi provocada por granadas de atordoamento. Cerca de 30
pessoas sofreram ferimentos na cabeça, encontrando-se em estado grave, e será
preciso amputar a mão a um dos manifestantes. Por seu turno, de acordo com a
polícia, 139 agentes das forças de segurança também ficaram feridos nos
confrontos, dos quais 39
apresentavam ferimentos de balas. Desde finais de Janeiro que não se registavam
confrontos entre manifestantes e polícia. Na altura, também em frente ao
parlamento, quatro pessoas morreram e mais de 500 ficaram feridas.
Moscovo reagiu a
estes acontecimentos defendendo que o regresso da violência à Ucrânia é da
responsabilidade do Ocidente. “O que está a acontecer é o resultado directo
da política de apaziguamento dos políticos ocidentais e das estruturas
europeias que, desde o início da crise, fecharam os olhos aos actos agressivos
das forças radicais na Ucrânia, encorajando a escalada e as provocações contra
o poder legal”, criticou, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros
russo.
O embaixador norte-americano na Ucrânia, Geoffrey
Pyatt, disse através do seu Twitter que, “após um fim-de-semana
de progresso em
Kiev”, era “triste assistir novamente à violência”. “A política devia acontecer
no Rada [parlamento], não na rua.” A Casa Branca também se pronunciou ontem ao
fim da tarde: “Estamos consternados pela violência que se desenrola no centro
de Kiev”, afirmou à AFP a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Laura
Lucas Magnuson, e pediu a Yanukovich que “ponha fim aos confrontos”.
Por seu turno, a
chanceler alemã, Angela Merkel, que já tinha estado reunida com dois membros
da oposição ucraniana, Vitali Klitschko e Arseniy Iatseniuk, apelou ao país
para avançar com a formação de um novo governo e com a reforma da
Constituição.
Os representantes
pediram ainda a Merkel a aplicação de sanções contra o presidente ucraniano,
algo a que Berlim acedeu, chegando a ameaçar Yanukovich, bem como apoio
financeiro para uma saída da crise.
A Rússia diz que o regresso da violência é “resultado” da política dos
ocidentais que encorajam esta escalada
Os manifestantes “não vão dar um único passo atrás”, garantiu o líder do
partido Pátria, Arseni Iatseniuk
“Aquele que é
responsável pelas decisões que levaram ao derramamento de sangue no centro de
Kiev ou noutra parte da Ucrânia deve saber que a Europa está a reconsiderar a
sua moderação em matéria de sanções pessoais”, afirmou à AFP o ministro alemão dos
Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier. “Dirijo-me
ao presidente
ucraniano. É a única pessoa que pode ser responsabilizada por aquilo que está
a acontecer. Marquem já eleições presidenciais e legislativas. Façam-no. É a única forma de
resolver o problema”, disse Klitschko, antigo campeão de boxe, ao parlamento,
depois do encontro com Merkel.
A crise política na
Ucrânia começou em finais de Novembro, quando milhares de pessoas saíram às
ruas para protestar contra a decisão de Viktor Ianukovich de suspender os
preparativos para a assinatura de um acordo de associação com a União
Europeia, optando por juntar-se a Moscovo.
Depois dos confrontos
no final de Janeiro, desencadeados pela aprovação de legislação limitadora do
direito de manifestação, governo e oposição iniciaram negociações que levaram
à demissão do primeiro-ministro, Mikola Azarov, e à evacuação da câmara
municipal de Kiev e de outros edifícios públicos ocupados por manifestantes. O
processo negociai permitiu ainda a aprovação de uma amnistia para os mais de
240 manifestantes detidos em confrontos com a polícia, o que fez acalmar a
agitação social por uns tempos.
01 Os opositores começaram os confrontos a atirar pedras às forças de segurança
02 A polícia de choque avançou ontem pela Praça da Independência, onde muitos dos opositores ao governo se encontravam acampados
04 A capital ucraniana ficou no caos com os confrontos que durante todo o dia e, só ontem, fizeram 14 mortos.
05 Houve mais de 200 feridos em Kiev, muitos deles polícias.
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