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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Valorização do franco suíço atira corretoras para a falência

JOSÉ MANUEL ROCHA 16/01/2015 - 16:05
UBS corta previsão de crescimento do PIB suíço, dos anteriores 1,8% para 0,5%.

Os destroços do tsunami provocado pela decisão do Banco Nacional da Suíça (BNS) de acabar com a ligação do franco local à cotação do euro começaram esta sexta-feira a ser visíveis. 
Três corretoras de dimensão mundial reconheceram perdas substanciais que, nuns casos, afectaram os rácios de capital e, noutros, obrigaram mesmo a um fecho de portas. 
Em bolsa, as acções das maiores companhias do país agravavam o cenário de perdas que vinham de quinta-feira.

O caso mais grave será o da corretora norte-americana FXCM, que apenas no último trimestre do ano passado geriu operações cambiais num valor de 1,4 biliões (milhão de milhões) de dólares. 
Só em Dezembro, pelo sistema da empresa passaram cerca de 600 mil operações por dia.

Num comunicado ao mercado, a FXCM revela que, na sequência da decisão do BNS, muitos clientes tiveram perdas significativas que, segundo as regras do sector, são, em última instância, assumidas pelo intermediário. 
A contabilização destas perdas fez com que o balanço patrimonial da companhia entrasse no vermelho, com um saldo negativo de 225 milhões de euros.

Mais grave é a situação da Global Brokers, da Nova Zelândia, que vai sair do negócio depois de a maioria dos seus clientes terem registado perdas com a decisão da autoridade monetária suíça. 
“A maioria dos nossos clientes estava do lado dos prejuízos e sofreu perdas muito maior do que o nível de capital acumulado”, reconheceu David Johnson, director da firma que anunciou o abandono da actividade. 
Os valores depositados estão, no entanto, seguros e podem ser levantados a qualquer momento, adiantou o responsável.

Em Londres, a firma de corretagem Alpari não teve alternativa senão a de pedir a insolvência, depois de uma parte substancial dos seus clientes ter registado perdas superiores aos valores em depósito. 
Obrigada a assumir as perdas, não restou à Alpari outra saída que não fosse a de “confirmar que entrou em insolvência”.

A sangria pode não se ficar por aqui. 
Nick Parsons, analista-chefe do Banco Nacional da Austrália diz que não ficaria admirado se surgissem mais vítimas. 
“Assistimos a uma mudança de 180 graus na política do Banco Nacional da Suíça. 
As pessoas sentem-se feridas e atraiçoadas”, afirmou à agência Reuters.

Com o franco suíço a manter ontem o nível de paridade face ao euro que registava no fecho dos mercados na quinta-feira, as bolsas europeias fecharam esta sexta-feira com ganhos, embora em todos os casos inferiores a 1%. 
Na Ásia, onde os efeitos da decisão do SNB só se fizeram sentir na sessão desta sexta-feira (na quinta já estavam fechados quando o banco central se pronunciou) as perdas foram significativas.

A bolsa suíça manteve um quadro de vermelho vivo, com perdas que chegaram a rondar os 5%. 
A banca não escapou ao vendaval, o mesmo acontecendo com algumas firmas que gerem marcas com alcance mundial, como é o caso da Swatch, da Nestlé e das farmacêuticas Roche e Novartis.

O comportamento das acções destas empresas reflecte o ambiente de algum pessimismo que se instalou no país e, muito especialmente, entre os agentes económicos. 
Ainda na ressaca da intervenção do banco central, a União dos Bancos Suíços cortou, de forma radical, a previsão de crescimento do produto interno bruto do país para o ano em curso – dos anteriores 1,8% para apenas 0,5%. 
Numa nota enviada aos seus clientes, o banco nota que isto fica a dever-se ao “substancial impacto” que a decisão do SNB terá na economia local.

A Suíça, pátria de algumas das mais conhecidas multinacionais do planeta, pode ver as suas exportações substancialmente reduzidas agora que entrou numa era de “franco forte”. E como a zona euro é o principal destino das vendas das suas empresas para o estrangeiro, com a decisão do banco central os preços dos produtos exportados ficaram cerca de 20% mais elevados.

A instabilidade nos mercados cambiais passou também pelo euro, que esta sexta-feira, pela primeira vez em 11 anos e face à possibilidade de o BCE começar a comprar dívida pública, caiu abaixo dos 1,15 dólares.

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