Powered By Blogger

sábado, 24 de janeiro de 2015

Alemães querem travar compras do BCE

A ESTRATÉGIA DE FRANKFURT
Luís Reis Pires e Rui Barroso  luis.pires@economico.pt
24 de Janeiro de 2015
Desafio O dia que a Alemanha temia chegou.
Enquanto a generalidade dos líderes mundiais aplaude o programa do BCE, Berlim questiona a sua legalidade.

Todos apregoam a independência do BCE, mas a verdade é que ontem só o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, seguiu à risca a regra, recusando comentar o programa de compra de dívida anunciado por Mario Draghi. 
Foi o único. 
O resto dos líderes europeus e mundiais entretiveram-se a aplaudir o ‘quantitative easing’, enquanto na Alemanha choveram críticas e se contestou a sua legalidade. 
A chanceler alemã foi contida nas palavras, deixando as críticas mais ferozes para os deputados do seu partido e para o presidente do instituto Ifo, que prometem lutar contra o programa, arriscando minar a sua credibilidade.

O ‘timing’ pareceu quase propositado.
Cinco minutos antes de Draghi começar a anunciar, em Frankfurt, a compra de dívida soberana para aumentar a liquidez na zona euro e estimular a economia,
Merkel iniciou o seu discurso no Fórum Económico Mundial, na região suíça de Davos. 
A chanceler alemã disse haver “ampla liquidez no mundo” e avisou: “A decisão do BCE não pode afastar-nos do caminho” das reformas necessárias.

Como viria a explicar Mario Draghi alguns minutos depois, não é isso que o BCE pretende com o ‘quantitative easing’.
 “Seria um erro os países pensarem que este programa é um incentivo à expansão orçamental”, disse o presidente da autoridade monetária, frisando que os Estados-membro
da moeda única devem continuar o caminho das reformas, para que o impulso da política monetária seja transformado em crescimento sustentado a prazo.
Essa é, aliás, uma preocupação dos líderes das principais instituições mundiais, mesmo aqueles que mais têm defendido a compra de dívida. 
Christine Lagarde, por exemplo, directora do FMI, frisou que “é fundamental” que a iniciativa do BCE seja “suportada por reformas estruturais”.

Para a Alemanha, porém, não é isso o mais importante. 
O maior problema é a partilha do risco dos países mais fracos da moeda única, que é algo que os alemães não querem. 
E se Merkel foi contida nas críticas, o mesmo não se pode dizer do resto do seu partido. 
Peter Gauweiler, deputado da CDU, afirmou que “a Alemanha não pode ser forçada a aceitar a responsabilidade de compras de dívida pública de outros Estados sem a autorização expressa do Bundestag”, o Parlamento alemão.
“O senhor Draghi até pode ir para a política em Itália ou ser eleito para o Parlamento Europeu, mas, neste momento, ninguém o elegeu para tomar decisões de política económica em nome dos povos da Europa”, frisou, acrescentando que a sua equipa jurídica está já a preparar uma queixa nos tribunais.

E terá o apoio do presidente do instituto económico Ifo, Hans--Werner Sinn. 
“Isto é o equivalente ao financiamento ilegal dos governos através da impressão de dinheiro”, criticou o economista.
As tentativas da Alemanha para travar o ‘quantitative easing’ podem vir a minar a confiança dos investidores no programa, mas para já os mercados recebem a notícia com entusiasmo.
As taxas de juro da dívida da periferia acentuaram as quedas após as palavras de Draghi, enquanto as bolsas europeias fecharam em alta e euro renovou mínimos de 11 anos. ■

Sem comentários:

Enviar um comentário