O Presidente russo classificou as eleições presidenciais na Ucrânia como
"um passo na direcção certa"
ALEXANDRE MARTINS 07/05/2014 -
17:58
Líderes pró-russos só
respondem na quinta-feira, mas sublinham que têm "o maior respeito pelo
Presidente Putin". Moscovo diz também que retirou as suas tropas da
fronteira com a Ucrânia.
O Presidente da
Rússia, Vladimir Putin, pediu nesta quarta-feira aos separatistas pró-russos
que adiem o referendo sobre a autonomia marcado para o próximo domingo, mas
salientou que as tropas ucranianas devem também parar a sua ofensiva no Leste
do país, se o objectivo for "criar as condições necessárias ao diálogo”.
No final de uma
reunião em Moscovo com Didier Burkhalter, actual presidente da Confederação
Helvética e presidente em exercício da Organização para a Segurança e
Cooperação na Europa, Vladimir Putin anunciou também que ordenou a retirada das
tropas russas da fronteira com a Ucrânia.
"Estão sempre a
dizer-nos que as nossas forças na fronteira ucraniana constituem uma
preocupação. Hoje elas já não estão na fronteira ucraniana. Estão em zonas onde
desempenham as suas tarefas normais em áreas de treino", disse o
Presidente russo. Pouco depois das declarações de Putin, representantes da Casa
Branca e da NATO disseram que não têm ainda provas da retirada das tropas
russas.
Os líderes militares
da NATO acusaram a Rússia de ter colocado cerca de 40.000 soldados ao longo da
fronteira, prontos para iniciarem uma ofensiva em território ucraniano, se
fosse essa a decisão de Vladimir Putin, mas Moscovo sempre negou a intenção de
invadir a Ucrânia após
a anexação da península da Crimeia, em Março passado.
Vladimir Putin referiu-se também às eleições
presidenciais ucranianas marcadas para o próximo dia 25 de Maio. Um dia depois
de o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, ter declarado que a realização desse acto
eleitoral nas condições actuais seria "invulgar", Putin afirmou nesta
quarta-feira que é, afinal, "um passo na direcção certa".
Mas, ao contrário da
novidade da posição sobre o referendo dos separatistas, a declaração do
Presidente russo sobre as eleições presidenciais na Ucrânia não vem alterar nada
de substantivo - apesar de ser "um passo na direcção certa", a
escolha do futuro Presidente ucraniano só deveria ser feita após a aprovação de
reformad constitucionais no país, dontinua a defender Vladimir Putin.
Mas o anúncio da retirada das tropas da fronteira e da
declaração sobre as eleições presidenciais no país vizinho, é o apelo ao
adiamento do referendo dos separatistas que pode abrir as portas a um novo
período, de diálogo, no final de um semana particularmente violenta no Leste e
no Sul da Ucrânia-
Os líderes da
autoproclamada República Popular de
Donetsk reagiram de imediato, mas a decisão só será conhecida na quinta-feira.
“Temos o maior respeito pelo Presidente Putin. Se ele considera que isso é necessário, vamos discutir a proposta com o conselho popular”, disse à agência Reuters um dos representantes dos separatistas,
Denis Pushilin, em Donetsk.
Depois da
morte de 46 pessoas na cidade de Odessa (a maioria pró-russos) na sequência de uma manifestação
de apoio às autoridades interinas de Kíev, na sexta-feira passada, as forças
ucranianas reforçaram a sua ofensiva contra os combatentes separatistas, a quem
chamam "terroristas".
Na segunda-feira, pelo menos quatro membros
da polícia paramilitar ucraniana foram mortos e mais 30 ficaram feridos em
combates nos arredores de Slaviansk,
o bastião dos separatistas
no Leste do país. Do outro lado, pelo
menos dez pessoas – entre civis e
membros das autoproclamadas forças de autodefesa de Slaviansk - morreram e 25
ficaram feridas, avançou na terça-feira a agência russa ITAR-TASS, citando um
representante dos separatistas que não foi identificado. Na segunda-feira, o ministro
do Interior interino da Ucrânia Arsen Avakov, tinha dito que o número de vítimas
mortais entre os separatistas chegara às três dezenas.
Já nesta
quarta-feira, as tropas ucranianas recuperaram por breves momentos o controlo
do edifício da câmara municipal da cidade portuária de Mariupol, no Sudeste,
mas não demorou muito até que os separatistas voltassem a controlar a situação.
Segundo testemunhos recolhidos pela agência Reuters, os soldados ucranianos
abandonaram o edifício depois de terem destruído mobília e material de
escritório.
A repetição dos
episódios de violência levou a um novo esforço diplomático nos últimos dias,
com vários líderes mundiais a tornarem público o receio de que a Ucrânia tenha
entrado num caminho sem retorno para a guerra civil. No âmbito desses esforços,
o presidente da Confederação Helvética e presidente em exercício da OSCE
deslocou-se a Moscovo nesta quarta-feira para se reunir com Vladimir Putin.
Apesar do apelo aos
separatistas, o Presidente russo fez questão de sublinhar que não há propostas
de sentido único: "Moscovo está interessada numa resolução rápida da crise
na Ucrânia, mas que tenha em consideração os interesses de toda a população do
país."
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