Os ministros dos Negócios
Estrangeiros da Ucrânia (à esq.) e da Rússia (centro) cumprimentam-se na
cimeira de Viena
ALEXANDRE MARTINS 06/05/2014 - 15:58
Ministro dos Negócios
Estrangeiros russo disse que não faz sentido voltar a reunir-se
com os EUA, a UE e a
Ucrânia enquanto houver combates no Leste do país. Sergei Lavrov defende
implementação do acordo assinado em Abril.
O agravamento da situação no
Leste da Ucrânia nos últimos dias está a deixar cada vez mais distante a
possibilidade de os ucranianos virem a escolher o seu novo
Presidente já no próximo dia 25.
Os ministros dos
Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) disseram nesta terça-feira que o
país corre o risco de cair na guerra civil se não houver eleições na data
marcada, mas os sinais enviados por Moscovo apontam em sentido contrário.
Também presente na
reunião de Viena do Conselho da Europa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da
Rússia, Sergei Lavrov, classificou a ideia de haver eleições presidenciais na
Ucrânia, nas condições actuais, como "invulgar".
"Realizar
eleições numa altura em que o exército [ucraniano] está a realizar operações
contra parte da população é bastante invulgar. Vamos ver como é que este
processo termina", afirmou Sergei Lavrov.
Clarificada a posição
sobre as eleições, o ministro russo encarregou-se depois de desvalorizar a hipótese
de voltar a sentar-se à mesa de negociações
com os seus congéneres dos Estados Unidos, da União Europeia e da Ucrânia - uma
ideia lançada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Frank
Walter-Steinmeier.
"Uma reunião no
mesmo formato, com a ausência da oposição ao actual regime ucraniano,
dificilmente iria acrescentar alguma coisa. Até podemos conversar, mas iríamos
andar em círculos", disse Sergei Lavrov.
Para Moscovo, as
atenções das partes envolvidas devem estar concentradas no acordo alcançado em Genebra no dia 17 de
Abril. "É preciso
concretizarmos aquilo que acordámos. E são os ucranianos que devem ter essa
responsabilidade, tanto o regime como os que se opõem a ele", declarou o
ministro dos Negócios Estrangeiros russo.
Tal como em muitos
outros momentos desde que o então Presidente ucraniano, Viktor Ianukovich, assinou um acordo comercial com a Rússia, em Novembro de 2013, não é
possível desenhar um acordo que agrade a todas as partes.
Se a Rússia diz que
não vale a pena conversar com a Ucrânia enquanto as tropas de Kiev estiverem a combater
grupos separatistas no seu próprio território, a Ucrânia faz exigências que não arrancarão mais
do que um sorriso ao Presidente Vladimir Putin.
"Se a Rússia
estiver preparada para apoiar estas eleições, e para pôr fim a esta ameaça e ao
seu apoio aos elementos extremistas na Ucrânia, estamos preparados para nos
reunirmos", disse nesta terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros
ucraniano interino, Andri Deshchitsia, numa conferência de imprensa em Viena.
O principal ponto da
discórdia é a participação de representantes dos separatistas pró-russos numa
possível nova ronda de negociações. A Rússia defende que "os manifestantes
querem ser ouvidos", mas o governo interino da Ucrânia rejeita essa
hipótese porque se considera "representante de todas as regiões da
Ucrânia".
Apesar de ter
desvalorizado a realização de uma segunda conferência em Genebra, o ministro
dos Negócios Estrangeiros russo não fechou totalmente as portas ao diálogo. Num
encontro com o seu homólogo alemão, Frank Walter-Steinmeier, Lavrov concordou
com o princípio de que "é necessário prosseguir com os esforços conjuntos
da Rússia, dos Estados Unidos, da União Europeia e da Organização para a
Segurança e Cooperação na Europa para impulsionar o início de um diálogo
nacional abrangente na Ucrânia".
Eleições são a nova "linha vermelha"
Depois de a anexação
da Crimeia pela Rússia ter passado, na prática, para a categoria dos factos
consumados, e no meio de uma luta pelo controlo de mais de uma dezena de
cidades no Leste da Ucrânia, a nova "linha vermelha" da diplomacia
ocidental é a realização das eleições presidenciais no dia 25 de Maio.
De França e do Reino
Unidos saíram nesta terça-feira declarações mais dramáticas, tendo como pano de
fundo a necessidade da realização de eleições na data marcada - o Presidente
francês, François Hollande, avisou que adiar a votação será o mesmo que
prolongar o "caos" no país, com "o risco de uma guerra
civil", e o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, William Hague,
disse que "a grande maioria dos países" da UE transmitiu "com
muito vigor" a mensagem de que as eleições devem realizar-se
no dia previsto: 25
de Maio.
Para o ministro dos
Negócios Estrangeiros alemão, Frank Walter-Steinmeier, trata-se
mesmo de uma questão
de vida ou de morte para a Ucrânia, mas também para o resto da Europa.
"O conflito
ucraniano assumiu uma velocidade e uma agudeza em que não teríamos acreditado
há algum tempo. De repente, 25 anos depois da política de blocos opostos,
podemos ter na Europa uma nova divisão virulenta. Isto não constitui apenas um
risco para a Ucrânia. Este conflito pode acabar com a arquitectura de segurança
construída ao longo de décadas. Temos de fazer todos os esforços para evitar
uma nova Guerra Fria", disse o ministro numa entrevista aos jornais El País (Espanha), Le Monde (França), La Repubblica(Itália) e Gazeta Wyborcza (Polónia).
Considerando que a
morte de pelo menos 46 pessoas em Odessa, na sexta-feira passada, deixou a Ucrânia "a poucos
passos de um confronto militar aberto", Frank Walter-Steinmeier acabou por
reconhecer que os países da UE estão limitados nas suas respostas para evitarem
"uma guerra civil".
"Não há muitas
mais possibilidades. Todos descartámos uma intervenção militar dos países da
UE. Por isso, queremos criar as bases para uma solução equilibrada entre a
pressão política e as propostas diplomáticas. Ninguém nega que esta solução se
tornou mais difícil após os acontecimentos dos últimos dias, mas a tragédia de
Odessa pode transformar-se numa chamada de atenção para as partes envolvidas,
alertando-as para o facto de que esta situação não pode e, sobretudo, não deve
continuar”, disse o ministro dos Negócios estrangeiros alemão.
A estratégia, defende
Steinmeier, é convencer a Rússia de que ninguém quer pôr em causa a sua área de
influência: "A ideia da Europa de desenvolver uma relação política e
económica com os seus vizinhos de Leste não foi desenhada como uma ameaça à Rússia.
Temos de convencer a Rússia de que a estabilidade da Ucrânia interessa-lhes
tanto a eles com à UE."
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