OPINIÃO
JOSÉ LOUREIRO DOS SANTOS 16/05/2014 - 03:07
Putin está determinado a agir pela força
para recuperar as vantagens geopolíticas perdidas.
A crise da Ucrânia
foi desencadeada pela Rússia, na sequência e como resposta à iniciativa alemã
de controlar o importante espaço geopolítico ucraniano, ao financiar os
extremistas que fizeram a revolta em Kiev e derrubaram o Presidente Ianukovich,
afecto à Rússia.
Putin considerou que
era o momento oportuno para tirar partido e explorar as vulnerabilidades dos
países europeus, resultantes de terem tentado resolver a crise financeira e
económica em que se encontram mergulhados, também pela eleição da
sustentabilidade financeira como factor prioritário para estabelecer os respectivos
sistemas de forças militares, em vez do ambiente estratégico envolvente, ou
seja, das ameaças prováveis e tendência da sua evolução.
Tal erro de
enquadramento assentava principalmente na convicção de que a Rússia nunca mais
tentaria recuperar as condições geopolíticas que ganhara à custa da Segunda
Guerra Mundial e perdera no fim da Guerra Fria, pois não veria como ameaça a
expansão da NATO em direcção às suas fronteiras, já que seria uma expansão de
natureza benigna... Tudo hipóteses dos peritos da NATO baseadas no discurso que
eles próprios construíam para justificar a continuação da aliança, agora em
acções fora de área, uma vez que deixara de ser necessária a missão essencial
para a qual fora criada – a defesa colectiva face ao poder russo.
De acordo com estes
pressupostos, o Conceito Estratégico da NATO foi sucessivamente modificado sem considerar
Moscovo como ameaça a recear, voltando as suas missões para a defesa
cooperativa sobre focos de conflito que apresentassem o potencial de gerar
instabilidade capaz de se projectar no espaço da aliança. Ou disponibilizando-se para actuar no quadro
das Nações Unidas, participando em missões de imposição e/ou de manutenção da
paz.
Esta visão
estratégica reflectiu-se nos diversos conceitos dos seus Estados-membros, cuja
preocupação se centrava na diminuição dos orçamentos militares, pelo que: reduziram
os sistemas de forças a instrumentos quase tipo “manutenção de ordem pública”;
pararam os programas de modernização e substituição de equipamentos e
armamentos, com muitos dos existentes não disponíveis por falta de manutenção
ou de combustível; diminuíram os efectivos, por vezes fazendo roçar o absurdo;
fizeram rarear os exercícios e treinos, com efeitos negativos na capacidade
operacional; e afectaram gravemente as condições materiais e morais dos
militares cuja motivação ficou fortemente ameaçada.
A ofensiva russa na
Crimeia, alterando fronteiras ao arrepio da lei internacional, bem com as suas
pressões militares no Leste e Sul da Ucrânia, mostrou que Putin está
determinado a agir pela força para recuperar as vantagens geopolíticas perdidas
com o descalabro da União Soviética, que ele já tinha considerado (parece que
ninguém ouviu) o maior desastre geopolítico do século XX. Através de uma
combinação de forças especiais infiltradas apoiadas por fortes barragens
mediáticas e seguidas por colunas militares de modelo tradicional prontas a
avançar.
E Putin também está
disponível para sofrer retaliações económicas significativas, embora saiba que
será difícil que os membros europeus da NATO as queiram desencadear, uma vez
que teriam efeito de boomerang nas próprias economias, profundamente
entrelaçadas com a economia russa, nomeadamente a da Alemanha.
Ou seja, os conceitos
estratégicos em vigor estão desactualizados e precisam de ser urgentemente
ajustados, dando prioridade ao factor ambiente estratégico envolvente para os
redefinir. Tanto o da NATO (de 2010) como o dos seus membros europeus.
Recorde-se que o
nosso conceito estratégico de defesa nacional foi aprovado em 2013. No
respeitante ao vector militar, já não serve.
General