Bloqueio de estrada
em Kiev
RITA SIZA
26/01/2014 - 19:19 - PÚBLICO
Oposição força a mão
do Presidente Viktor Ianukovich e exige convocação de eleições.
Oposição recusa
cargos oferecidos pelo Presidente
Pela primeira vez
desde que rebentaram os protestos contra o Presidente da Ucrânia, Viktor
Ianukovich, a contestação chegou à região Leste, mais próxima geográfica e
culturalmente da Rússia. A agência Interfax reportou confrontos em
Dnipropetrovsk e tentaram ocupar edifícios da administração regional e a exigir
a demissão dos governadores.
Pode ser um sinal
importante de viragem ao fim de dois meses de instabilidade e impasse político:
até agora, os centros industriais mais importantes do país continuavam
fielmente ao lado do Presidente e de uma política pró-russa. Mas essa aparente
aliança foi desfeita em cidades como Vinnitsia, Sumi, Zaporizhazhia, Cherkazi e
Chernihiv. O Ministério do Interior desvalorizou, disse tratarem-se de acções
encetadas por “agentes provocadores” enviados de Kiev.
Num fim-de-semana de reviravoltas
políticas, a oposição intensificou a pressão, numa nova prova de força de
consequências imprevisíveis: disse não à oferta
de partilha do poder avançada de surpresa pelo Presidente. “Viktor Ianukovich anunciou que
o Governo não está preparado para assumir a responsabilidade pelo país e
ofereceu a condução do Governo à oposição”, bradou Arseni Iatseniuk, o líder do
Batkivshchina (Pátria), segundo maior partido do da Ucrânia, perante milhares
de pessoas na Praça da Independência (Maidan) de Kiev.
“Nós estamos prontos
a assumir a responsabilidade pelo destino da Ucrânia”, notou, interrompido por
gritos de “vergonha” e “traição”. “Mas primeiro vamos acabar o que começamos”,
prometeu, referindo-se ao movimento para a
escolha de um novo rumo - mais europeu - para o país. “E quem vai escolher o
chefe do próximo Governo é o povo e não o Presidente”, prosseguiu Iatseniuk, o
aliado da “musa” da Revolução Laranja, Iulia Timochenko (agora presa), que foi
convidado para o cargo de primeiro-ministro.
Como ele, também o
responsável máximo do Udar (Murro), o antigo pugilista
Vitali Klitschko,
declinou o convite presidencial para integrar o Executivo, como vice-primeiro-ministro
para os Assuntos Humanitários.
Na manhã de Domingo, Klitschko esteve ocupado a negociar a saída em segurança
do contingente policial algergado no centro cultural Casa da Ucrânia, que foi tomado pelos
manifestantes durante a noite. O edifício tem sido utilizado como base dos
efectivos do ministério do Interior - mais um sinal de que a situação começa a
fugir da mão das autoridades.
Qual o jogo de
Ianukovich?
Na repleta Maidan,
como nos corredores do poder e nos jornais, questionavam-se as reais intenções
de Ianukovich e as consequências da posição assumida pelos seus adversários
políticos. Aparentemente,
Viktor Ianukovich
estaria mesmo disposto reduzir as suas competências
e dividir o poder
para pôr fim aos violentos protestos que estão a tomar conta do país. Mas
apesar dessas concessões, não mostrou nenhuma disponibilidade para corresponder
à principal exigência dos manifestantes: a demissão e convocação de eleições.
Alguns analistas
consideravam que com a abertura à oposição, o Presidente procurava apenas
ganhar tempo e travar a dinâmica das manifestações, pondo em marcha um processo
de reformulação do Governo e de revisão da Constituição que poderia
prolongar-se durante vários meses. Outros estimavam um propósito mais prosaico:
acabar com a unidade da oposição, jogando com as ambições políticas dos
diferentes líderes e colocando-os uns contra os outros. Não foi por
acaso, argumentam, que a posição destinada a Vitali Klitschko era de menor
importância do que o cargo oferecido a Arseni Iatseniuk, ou que o líder
ultranacionalista do Svodoba, Oleg Tiagnibok, foi deixado à margem da barganha
presidencial.
Qualquer que seja a
estratégia, o Presidente encontra-se agora na desconfortável posição
de ter os seus adversários a marcar a pauta. Como observava o correspondente da
BBC em Kiev, agora não é Ianukovich mas a oposição que não responde aos apelos
ao compromisso.
Para Iatseniuk e
Klischko, o momenton é de aproveitar a exposição do Presidente para forçar a negociação
de “tudo” - desde a demissão do Governo e convocação de eleições, à revisão da
Constituição e das leis que restringem as manifestações, até à libertação de
todos os presos políticos, incluindo Iulia Timochenko, a cumprir pena por
corrupção e abuso de poder.
Os protestos tomaram
conta das ruas de Kiev depois de o Presidente Viktor Ianukovich ter desistido
da assinatura de um acordo de cooperação económico e político negociado com a
União Europeia, em favor de uma nova aproximação à Rússia, com quem acabou por
firmar um pacto comercial para evitar o default da economia ucraniana.
Esta terça-feira, o
Presidente russo Vladimir Putin vai reunir-se com os líderes da União Europeia,
numa cimeira bilateral em Bruxelas marcada pela desconfiança e acrimónia entre
os dois blocos relativamente à Ucrânia. Moscovo tem censurado as tentativas
europeias de “interferir” na crise ucraniana, e Bruxelas tem criticado a
pressão exercida pelo Kremlin sobre o Presidente Ianukovich.
Dos países bálticos
têm vindo várias manifestações de apoio à oposição ucraniana. Também o chefe do
Governo da Polónia, Donald Tusk, um dos defensores da integração da Ucrânia na
EU, assegurou que o seu país está do lado dos “democratas ucranianos” e dos
seus “esforços para um acordo razoável e justo”.
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