Governo ucraniano quer conceder
amnistia apenas depois de manifestantes abandonarem os edifícios ocupados VA
FEDOS ENKO/REUTERS
JOÃO RUELA RBBRO
29/01/2014 - 12:04
Acordo sobre amnistia aos
manifestantes presos ainda não foi alcançado. Governo espera receber segunda
tranche do empréstimo russo brevemente.
Dirigindo-se ao Parlamento (Rada
Suprema), o ex-Presidente ucraniano
Leonid Kravchuk apelou nesta quarta-feira aos deputados para agirem “com a maior
responsabilidade.” O Parlamento ucraniano vai debater a concessão de uma
amnistia aos presos durante as manifestações dos últimos dois meses, mas há
ainda muitos pormenores que separam a maioria e a oposição, antevendo-se um
conselho difícil.
Kravchuk, Presidente entre 1991 e
1994, inaugurou a sessão parlamentar extraordinária demonstrando grande
preocupação com a situação actual do país. “O mundo inteiro tem consciência e a
Ucrânia tem consciência de que o país está à beira da guerra civil”, afirmou o ex-Presidente,
citado pela AFP.
Governo e oposição
iniciaram na terça-feira negociações parlamentares que visam abrir caminho à
pacificação dos protestos que se instalaram no país depois da recusa do
Presidente, Viktor Ianukovitch, em assinar um acordo comercial com a União
Europeia (UE). Desde então, as manifestações assumiram um cariz de protesto
generalizado à liderança do próprio Ianukovitch.
A sessão parlamentar
trouxe as primeiras concessões às reivindicações da oposição. O
primeiro-ministro, Mikola Azarov, apresentou a demissão, fazendo cair o
executivo, e um pacote legislativo que restringia fortemente as manifestações
foi revogado por larga maioria. A amnistia aos manifestantes presos ainda
começou a ser discutida na terça-feira, mas ficou evidente a existência de
vários entraves a um acordo.
Serguei Abuzov, o
novo primeiro-ministro interino, reiterou a posição dialogante
com que o Governo
quer encarar a discussão parlamentar. “A oposição e o poder procuram o diálogo
para sair da crise. O Governo, pela sua parte, está pronto a assegurar as
condições necessárias para a estabilização nacional”, garantiu Abuzov.
A verdade é que o
debate sobre a amnistia apresenta-se bem menos consensual do que o da
revogação das leis antiprotesto. O Partido das Regiões, de Ianukovitch e
maioritário no Parlamento, quer que o perdão aos detidos seja concedido apenas
quando os manifestantes abandonarem as ruas, condição que não é acolhida pela
oposição, que pretende uma amnitia incondicional.
De manhã ainda não se
rinha chegado a um acordo para levar a votação e os trabalhos foram
interrompidos até às 14h (12h em Lisboa). “Ontem (terça-feira) à noite havia
uma espécie de acordo: uma equipa de negociadores e especialistas iriam
trabalhar hoje para alcançar uma versão única de um diploma que seja aceitável
tanto para a oposição como para os membros da maioria”, explicou à Interfax -
Ucrânia Iuri Miroshnichenko, deputado do Partido das Regiões.
Nas ruas, cerca de
200 pessoas tentam retirar do local os activistas que ainda ocupam o Ministério
da Agricultura, no centro de Kiev. O edifício foi tomado na última sexta-feira
por membros do movimento Causa Comum (Spilna Sprava).
“Ontem o conselho da
Maidan [Praça da Independência] decidiu unanimemente libertar o Ministério da
Política Agrícola e da Alimentação e ninguém se opôs”, anunciou o Sindicato
Svoboda, citado pela Interfax. “Hoje a Maidan está a aplicar essa decisão. A
Maidan está a libertar o edifício de ladrões.”
O Governo ucraniano
anunciou que espera receber a segunda tranche do empréstimo concedido pela
Rússia “muito em breve”. Depois da recusa de Ianukovitch em assinar o acordo
comercial com a UE em Novembro, Moscovo concedeu um empréstimo no valor de 15 mil milhões de
dólares (11 mil milhões de euros) e um desconto de 30% no preço do gás natural.
A decisão foi vista como um “prémio” pelo afastamento de Kiev em relação à UE.
“Já recebemos a
primeira tranche de 3 mil milhões de dólares e esperamos receber a segunda de 2
mil milhões muito em breve”, afirmou esta quarta-feira Serguei Abuzov, durante
o primeiro Conselho de Ministros por si presidido.
O Presidente russo,
Vladimir Putin, garantiu
na terça-feira que não irá alterar o acordo assinado com o homólogo ucraniano,
independentemente do Governo que venha a assumir o poder. No entanto, o vice-primeiro-ministro, Igor Shuvalov, deixou em aberto uma revisão do
acordo, caso o novo Governo assuma uma "nova agenda". O responsável
pediu, de acordo com a agência RIA Novosti, que não se fizessem especulações
sobre a questão, apesar de não esclarecer a expressão por si utilizada.
Esta quarta-feira, Putin
afirmou que vai aguardar a formação do novo Governo para que o acordo prossiga.
O Presidente russo respondia ao primeiro- ministro, Dmitri Medvedev, que
defendeu ser necessário ter uma atitude "reflectida" em
relação ao acordo. "Sobre a necessidade de aplicarmos todos os acordos
devemos fazê-lo de forma reflectida, e isso só será possível quando soubermos qual será o novo Governo, quem
lá irá estar e quais serão os seus princípios de trabalho", afirmou
Medvedev, segundo a RIA.
Foi precisamente para Moscovo que
o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, dirigiu as críticas,
acusando a Rússia de ter pressionado Kiev a não assinar o acordo com a UE. “Um
acordo de associação com a Ucrânia teria sido um enorme estímulo para a
segurança euro-atlântica, lamento verdadeiramente que isso não tenha sido
possível”, afirmou Rasmussen ao Le Figaro. “A
razão para isso é bem conhecida: pressão que a Rússia exerceu sobre Kiev”,
acrescentou.
A chanceler alemã, Angela
Merkel, manifestou esta quarta-feira o seu apoio aos ucranianos que se batem
pelos valores europeus. “Muitas pessoas demonstraram, pelas suas manifestações
corajosas desde a cimeira sobre o acordo oriental no final de Novembro em Vilnius, que não querem
virar a cara à UE”, sublinhou Merkel, durante uma sessão do Parlamento alemão.
“Pelo contrário, elas batem-se pelos mesmos valores que nos animam no seio da EU
e elas devem ser ouvidas?
O Canadá proibiu na
terça-feira a entrada de dirigentes ucranianos no país, como forma de condenar
a repressão violenta da última semana. "Com efeitos imediatos, vamos
restringir a entrada Canadá de responsáveis do Governo ucraniano que tenham
sido responsáveis pela opressão e pelo silenciamento de vozes da
oposição", revelou o ministro para a Cidadania e Imigração, Chris
Alexander, após um debate parlamentar.
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