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segunda-feira, 14 de maio de 2018

O rocket man

EDITORIAL
Amilcar Correia
14 de Maio de 2018, 7:00
Merkel tem razão quando afirma que não se pode confiar nos EUA. 
E depois disto ainda você ainda acredita numa solução para o Médio Oriente?

O conflito entre Israel e a Palestina é irresolúvel com Trump na presidência, por dois motivos: a disparidade de poder inviabiliza qualquer acordo equilibrado entre as duas partes, e os EUA são incapazes de exercer uma intermediação imparcial por causa do comprometimento com Telavive e, já agora, com Riade. 
Só os EUA poderiam alterar a desigualdade dessa relação de poder entre uma potência nuclear, um Estado apetrechado com tecnologia militar americana de ponta, e um povo dividido entre duas circunscrições, separadas entre si, e entregues a um definhamento inevitável. 
Negociar com uma entidade dividida só eterniza o problema, a favor do elo mais forte, em violação dos  Acordos de Oslo, que declaram Gaza e Cisjordânia uma unidade territorial inseparável. 
Uma solução desejável seria, à semelhança do Acordo de Viena entre o Irão e os países do P5+1, os cinco países com assento no concelho de segurança das Nações Unidas e a Alemanha, alargar a outros países o papel de uma arbitragem imparcial. 
Israel, juntamente com a Índia e o Paquistão, cujos programas de armamento nuclear têm sido encorajados pelos EUA, recusa-se a assinar o Tratado de Não-Poliferação.

A renúncia dos EUA ao acordo com o Irão, apesar dos apelos da tríade França, Reino Unido e Alemanha, significa que o mundo multilateral como o entendíamos sofreu um duro abalo; que as relações com a Europa nunca foram tão dissonantes desde a II Guerra Mundial; e que o P5+1 será irrepetível. 
Trump sabotou o pacto comercial com o Canadá e o México, o acordo do clima de Paris, declarou a NATO obsoleta, ameaça com medidas proteccionistas e escolheu uma outra tríade: Rússia, Israel e Arábia Saudita.

Merkel tem razão quando afirma que não se pode confiar nos EUA. 
Numa semana, Trump diz que chegou a hora de deixar a Síria e que devem ser outros a resolver o problema. 
Na semana seguinte, diz que os mísseis “lindos, grandes e espertos” vão a caminho, mas o seu novo secretário de Estado lembra-se da invasão do Iraque, mas sem a referir, e diz que ainda andam à procura de provas e, já agora, de uma qualquer estratégia para aquela região convulsa. 
Se dois dias depois a Síria é bombardeada é porque James Mattis já tem as provas que justificam o lançamento dos mísseis ou Trump não quis esperar por isso.  
A União Europeia que tire as suas ilações antes de bombardear a Síria.

Trump só quer ser a personagem principal do reality show e ser ainda mais rocket man do que o próprio rocket man. 
E depois disto ainda se acredita numa solução para o Médio Oriente?

acorreia@público.pt

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