EDITORIAL
Diogo Queiroz de Andrade
7 de Dezembro de 2017, 6:2
O argumento da capital partilhada seria algo que poderia forçar a vivência conjunta, essencial para o reconhecimento mútuo entre dois vizinhos inimigos que se conhecem demasiado mal.
Donald Trump não quer a paz no Médio Oriente.
O anúncio de que vai definitivamente mudar a embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém equivale ao reconhecimento da capital de Israel.
Com este passo arruinou décadas de esforços diplomáticos americanos no Médio Oriente e assumiu o fervor por um dos lados em disputa, enterrando qualquer possibilidade de ser visto como credível pelo outro.
Ao fazer a vontade aos israelitas, condenou a possibilidade de ser levado a sério pelos árabes, criando mais rancor e um novo vazio numas negociações que já estavam em coma.
Pior, ao anunciar unilateralmente esta mudança, inventa uma duplicidade na estrutura de poder israelita: os EUA serão os únicos a colocar a embaixada em Jerusalém e a reconhecê-la como capital do Estado, todos os outros países deverão manter a presença diplomática em Telavive — porque continuam a considerar a parte leste de Jerusalém como capital de um futuro estado palestiniano.
O argumento da capital partilhada seria algo que poderia forçar a vivência conjunta, essencial para o reconhecimento mútuo entre dois vizinhos inimigos que se conhecem demasiado mal.
Os acordos de Oslo previam a possibilidade de futura partilha da capital, mas este movimento unilateral americano torna mais difícil esta possibilidade.
Com o gesto acabou por unir as oposições palestinianas tradicionalmente desavindas que concordam em pouco.
Desta vez, o anúncio americano teve unânimes condenações da Fatah e do Hamas, bem como da generalidade das nações muçulmanas.
Isto vai retirar os palestinianos da mesa negocial durante meses, talvez anos.
Até porque ninguém, a não ser os americanos, tinham peso e credibilidade suficiente para forçar um entendimento entre as partes — a União Europeia não tem sido suficientemente coesa para o fazer e terá outras prioridades na mesa diplomática.
Para mais, fazer esta cedência ao Governo israelita de Netanyahu é passar um grande cheque de simpatia a um executivo que tem feito tudo para matar a paz — os israelitas passaram os últimos anos a expandir colonatos, a reduzir a liberdade dos palestinianos e a apostar em dividir o bloco árabe na questão da paz.
Será também nisso que está a apostar Trump, ao forçar uma união entre Israel e a Arábia Saudita contra o Irão — prejudicando definitivamente a paz com a Palestina, que pelos vistos não interessa minimamente à Casa Branca.
dqandrade@publico.pt
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