Um elemento do Batalhão Vostok em
Donetsk
ALEXANDRE MARTINS e JOÃO MANUEL ROCHA 30/05/2014 - 08:33
(actualizado às 18:41)
Governo de Kiev declarou que os seus soldados “limparam completamente” uma
parte do Leste e que ofensiva vai prosseguir. Putin disse que Ucrânia deve
acabar com a “Violência e derramamento de sangue”.
As tropas russas estão a retirar da fronteira com a
Ucrânia. Desta vez não é apenas o Governo de Moscovo a dizê-lo,
são os EUA a confirmá-lo e a NATO a
quantificar a saída de “talvez cerca de dois terços” dos soldados que têm
permanecido na zona. Mas Washington manifestou preocupação com o facto de
"militares da Tchetchénia treinados na Rússia" estarem a entrar no
Leste do país, para combaterem ao lado dos separatistas.
O secretário de Estado norte-americano,
John Kerry, tinha
confirmado a retirada russa quinta-feira à noite numa entrevista ao canal
público PBS. O secretário-geral da aliança atlântica, Anders
Fogh Rasmussen,
quantificou-a esta sexta-feira à Reuters. “Temos sinais pelo menos de uma retirada
parcial”, disse. O número de soldados russos junto à fronteira estava calculado
em 40 mil.
Na mesma entrevista, o chefe da diplomacia dos EUA disse
ter "provas de
que há russos a passar a fronteira militares da Tchetchénia
treinados na Rússia, que passam para o outro lado para agitar a situação, para
se envolverem no conflito”.
O responsável norte-americano referia-se à admissão dos próprios separatistas
de que os confrontos no aeroporto de Donetsk na segunda e na
terça-feira, contaram com a participação de "voluntários" russos. Na
quinta-feira, elementos do Batalhão de Vostok, formado na Tchetchénia e que
combateu na guerra da Geórgia sob o comando militar russo, ocuparam a sede
dos separatistas em Donetsk numa operação para estabelecer a
ordem entre os combatentes, alguns deles acusados de pilhagens.
A presença de combatentes russos - e de outras
nacionalidades - é um facto já confirmado no terreno, mas Moscovo mantém que não deu quaisquer
ordens para tal, e que se há russos a combater no Leste, eles estão lá por
iniciativa própria.
O facto de um helicóptero MI-8 das forças ucranianas,
abatido na quinta-feira, ter sido atingido por um lança-mísseis portátil de
fabrico russo, de acordo com as informações do Presidente em exercício,
Oleksandr Turchinov, levou também a Casa Branca a exprimir a sua
"inquietação", frisando que essa informação mostra que os
separatistas têm "material sofisticado".
Apesar das críticas a Moscovo, Kerry disse ter
"esperanças" de que a situação se normalize nos próximos tempos.
"Falei ontem [quarta-feira] com o ministro dos Negócios Estrangeiros da
Rússia [Sergei Lavrov]. Eles manifestaram a esperança de que possa haver uma
forma de dar um passo em frente. É claro que nesta situação não bastam
palavras; é preciso agir", disse o responsável norte-americano.
O governante apelou
ainda à Rússia para que "construa um caminho em que os ucranianos sejam
uma ponte entre o Ocidente e o Leste".
Os chefes da diplomacia dos dois países voltaram esta
sexta-feira a falar ao telefone. Segundo o ministério russo dos Negócios
Estrangeiros, Lavrov “apelou aos EUA para encorajarem as autoridades de Kiev a
[...] cessarem imediatamente as operações militares e a começarem negociações
directas com as regiões do sudeste”, indica um comunicado citado pela Reuters.
“Limpeza” de uma parte do Leste
O ministro ucraniano da Defesa, Mikhailo Koval, insistiu
na acusação de que a Rússia está a realizar “operações especiais” no país e
anunciou que a ofensiva vai prosseguir. Declarou também que as tropas de Kiev
“limparam completamente” uma parte do Leste de rebeldes pró-russos.
Na quinta-feira à noite, o Presidente eleito da Ucrânia,
Petro Poroshenko, prometeu "punir os terroristas e bandidos" que abateram o
helicóptero, o terceiro desde o início do mês, matando 12
militares, entre os quais um general do Exército.
"Devemos fazer tudo para garantir que outros
ucranianos não morram às mãos dos terroristas e dos bandidos", disse
Poroshenko, referindo- se às milícias
separatistas da região Leste do país. Na mesma comunicação ao país, citada
pelos jornais ucranianos, afirmou que "os criminosos" que abateram o
helicóptero das forças ucranianas foram "destruídos".
Numa conversa telefónica que manteve esta sexta-feira com
o seu homólogo francês, o Presidente russo, Vladimir Putin, falou da
necessidade de as autoridades de Kiev acabarem com a “violência e derramamento
de sangue” e avançarem para negociações com os rebeldes do Leste.
Outro dos motivos de preocupação no Leste da Ucrânia é o
desaparecimento de observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na
Europa (OSCE). Esta sexta-feira, a organização disse ter perdido contacto com
uma equipa detida quinta-feira à noite em Severodonetsk, na região de Lugansk.
Outro grupo de quatro observadores está desaparecido desde segunda-feira na
região de Donetsk.
O designado primeiro-ministro da autoproclamada República
Popular de Donetsk, Alexandr Borodai, disse que não tinha qualquer informação
sobre os observadores cujo paradeiro é desconhecido há mais tempo. "Não
sabemos onde eles estão, e estamos a procurá-los. É possível que se trate de uma
provocação para nos acusar falsamente de os termos detido", disse Borodai,
citado pela agência AFP.
Horas depois, outro líder separatista, Viacheslav
Ponomarev, que se apresenta como presidente da Câmara de Slaviansk, admitiu que foram
detidos pelos rebeldes pró-russos, e que seriam libertados "em
breve".
No final de Abril um grupo de sete observadores esteve
alguns dias detido em Slaviansk. Já esta semana, durante algumas horas, outros
li estiveram na mesma situação.
Apesar das acusações à Rússia, de interferência militar,
a Ucrânia mantém com Moscovo
negociações, que deverão prosseguir na próxima semana, sobre o fornecimento de
gás russo.
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