ALEXANDRE
MARTiNS 29/05/2014 - 12:44 (actualizado
às 17:32)
Rebeldes pró-russos abatem helicóptero ucraniano e fazem
pelo menos 12 mortos. Rússia diz que Ucrânia está a "resvalar para a
catástrofe nacional".
A primeira semana após a eleição
do novo Presidente ucraniano tem sido uma das mais mortíferas desde o início
das ocupações de edifícios governamentais por separatistas pró-russos no Leste
do país.
Depois dos combates
de segunda e terça-feira no aeroporto da cidade de Donetsk, que fizeram várias
dezenas de mortos entre os insurgentes, esta quinta-feira foi um dos dias
mais trágicos para as forças ucranianas, com a
morte de pelo menos
12 soldados, entre os quais um dos mais experientes oficiais do Exército da
Ucrânia.
O major-general Sergi
Kulchitski, da Guarda Nacional da Ucrânia, foi uma das vítimas da queda de um
helicóptero, abatido por separatistas pró-russos nas proximidades de Slaviansk, a cidade que serve de
quartel-general aos insurgentes no Leste da Ucrânia. Este
foi o terceiro helicóptero a ser abatido pelos separatistas desde o início do mês, todos na
região de Slaviansk, na província de Donetsk.
A queda do aparelho foi
testemunhada por um repórter da agência AFP e as imagens foram partilhadas no
YouTube, mas os primeiros pormenores sobre o ataque foram avançados um pouco
mais tarde pelo Presidente ucraniano em exercício, Oleksandr Turchinov (Petro
Poroshenko, vencedor das eleições do passado domingo, só tomará posse em
Junho).
Numa declaração proferida em
Kiev, Turchinov disse que o ataque fez 14 mortos entre as forças ucranianas,
mas a liderança da Guarda Nacional avançou mais tarde que morreram 12 soldados
e que um outro sofreu ferimentos graves.
"Acabei de receber a
informação directamente de Slaviansk de que os terroristas abateram um
helicóptero com recurso a material antiaéreo russo", disse o Presidente
ucraniano em exercício, para sublinhar a acusação de envolvimento de Moscovo no
conflito no Leste do país - uma acusação que a Rússia sempre negou.
Seja qual for o balanço final,
esta é uma das maiores perdas no lado ucraniano fiel a Kiev desde o início dos
combates no Leste, nos primeiros dias de Abril. O dia mais sangrento para as
forças ucranianas foi a quinta-feira da semana passada, quando morreram 16
militares em Volnovakha, na província de Donetsk, e um na província vizinha de
Lugansk.
Moscovo também reagiu aos mais
recentes confrontos, voltando a apelar ao "diálogo nacional com todas as
forças políticas e representantes de todas as regiões". Em comunicado, o
Ministério dos Negócios Estrangeiros russo disse que a Ucrânia corre o risco de
"resvalar para a catástrofe nacional" se o Governo de Kiev não puser
fim à operação militar no Leste do país contra os separatistas pró-russos.
Rebeldes prometem resistir
Pouco depois de ter sido eleito à
primeira volta nas eleições presidenciais de domingo
passado o multimilionário
Petro Poroshenko prometeu pôr fim à onda de separatismo no Leste do país em
"poucas horas".
(http://www.publico.pt/mundo/noticia-poroshenko-vence-eleicoes-na-ucrania-a-primeira-volta-1637417).
Um dia depois, na segunda-feira,
as forças ucranianas esmagaram uma tentativa das milícias pró-russas de
assumirem o controlo do Aeroporto Serguei Prokofiev, em Donetsk. No final de
dois dias de violentos combates morreram pelo menos 40 separatistas, segundo os
números de Kiev, ou até uma centena, segundo os líderes da autoproclamada
República Popular de Donetsk (RPD).
Já nesta quinta-feira, depois do
ataque contra o helicóptero das forças ucranianas, os rebeldes pró-russos
renovaram a sua determinação em continuar a combater.
"Não vamos sair daqui. Vamos
ficar e defender as nossas posições", disse Denis Pushilin, o homem
designado pelos separatistas como chefe de Estado da RPD. Mas Pushilin disse
também que as milícias pró-russas não estão equipadas para fazer frente ao
poderio do Exército ucraniano, e frisou que continua à espera de ajuda de
Moscovo.
O Batalhão Vostok
Nos últimos dias tem sido muito
comentada a suspeita da chegada a Donetsk do Batalhão Vostok um grupo de mercenários
tchetchenos que lutou na guerra da Geórgia, em 2008, sob as ordens das
chefias militares russas.
Nesta quinta-feira foram
partilhadas fotografias e vídeos nas redes sociais que mostram vários homens
armados a entrar em Donetsk, com uma finalidade ainda por esclarecer. Nas
imagens vê-se um grupo de soldados
a cercar a sede dos separatistas em Donetsk e vários jornalistas presentes na
cidade deram conta de que o batalhão expulsou pró-russos do interior do
edifício e ordenou a remoção
das barricadas
As intenções não são claras - durante
o dia especulou-se que estaria em curso
uma cisão entre os separatistas, mas um dos homens identificado pelo
correspondente do jornal The
Guardian como o líder do Batalhão Vostok disse que se tratou de uma operação para evitar um risco de
incêndio o mais provável, de
acordo com os testemunhos de jornalistas no local, é que os soldados
profissionais tenham entrado em Donetsk para instaurar a ordem entre as
forças separatistas
Numa notícia publicada na terça-feira
a jornalista do Financial Times Courtney
Weaver disse ter falado com tchetchenos, que terão revelado o seu envolvimento
nos combates de segunda e terça-feira no aeroporto de Donetsk. "Eles [os
soldados ucranianos] mataram um dos nossos, e nós não vamos esquecer-nos disso.
Vamos matar cem deles em troca da morte do nosso irmão", disse um dos
combatentes, identificado pelo jornal como um tchetcheno de 30 anos de idade.
Já nesta quinta-feira, o líder
separatista Denis Pushilin, citado pela agência Reuters, acabou por reconhecer
também o envolvimento de "voluntários" russos nos combates, ao dizer
que "[os corpos] dos voluntários da Rússia serão enviados hoje para a
Rússia". Ao todo, segundo os próprios separatistas, morreram pelo menos 33
russos nos combates no aeroporto de Donetsk.
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