Samantha Power
Igor Siletsky - 13 de novembro de 2014
Uma falsificação propagandística. É assim que Moscovo caracteriza as recentes declarações de Kiev e do Ocidente sobre a presumível deslocação das tropas russas para a Ucrânia. Desta vez, a OTAN e o Departamento de Estado têm avançado provas "convincentes", ou seja, "certos documentos encontrados nas redes sociais".
A parte russa sugere a Kiev não aumentar a escalada da tensão e, melhor ainda, deixar de concentrar tropas no sudeste da Ucrânia.
A Rússia mantém uma presença militar no território da Ucrânia desde a entrada em vigor dos acordos de Minsk sobre o cessar-fogo. O anúncio foi feito pela representante permanente dos EUA no Conselho de Segurança da ONU, Samantha Power. Segundo ressaltou, Washington possui provas de que, ao lado de uma coluna militar de separatistas, teriam passado carros blindados russos, acompanhados por soldados da Rússia.
A declaração de Power assenta, pelo visto, numa entrevista recente do comandante-em-chefe das Forças Unificadas da OTAN na Europa, Philip Breedlove, segundo o qual, nos últimos dois dias, no território da Ucrânia teriam entrado duas colunas de carros de combate russos.
Mas estas informações parecerem não ter chegado ao Departamento de Estado. Por isso, a sua porta-voz, Jen Psaki, não conseguiu confirmar as notícias veiculadas pela OTAN sobre “o envio de equipamentos militares russos para os separatistas”. Ela devia ter ficado confusa com uma nota do Ministério da Defesa da Rússia elogiando a Aliança Atlântica pelo “uso das redes sociais como fonte de informação principal”.
Nos últimos dias, o Ocidente tem apelado à observação rigorosa dos acordos de Minsk. O vice-representante permanente da Rússia no CS da ONU, Alexander Pankin, fez lembrar aos seus colegas: Kiev nunca escondeu tencionar utilizar o período de trégua para reagrupar suas tropas no sudeste do país. Dai, as acusações dirigidas contra Moscou “não passam de uma tentativa de lançar fumo e desviar as atenções das ações das autoridades ucranianas”, salientou o diplomata russo.
É verdade que políticos ucranianos, depois de concluírem o acordo de armistício, têm declarado a necessidade de uma pausa para enviar para aquela região novo material bélico e cargas com ajuda recebidas do Ocidente. É disso que eles se ocupam, alvejando, em paralelo, cidades e vilas de Donbass. Não é, pois, de estranhar que as milícias estejam empreendendo medidas de retaliação, constata o professor catedrático da Academia de Serviços Públicos, Alexander Mikhailenko:
“Na Ucrânia não há tropas russas. As milícias estão mudando de posições perante a progressiva concentração das tropas ucranianas, sendo natural e explicável tal reação. Parece-me que se trata de declarações políticas vantajosas para os EUA e para o governo ucraniano”.
Entretanto, Washington continua demonstrando um fascinante espírito pacífico, se prontificando até revogar as sanções contra a Rússia, se esta última cessar as hostilidades no leste da Ucrânia, fechando a fronteira, segundo anunciou Samantha Power.
Quanto às hostilidades, ela bem sabe a quem se deve dirigir tal apelo. No que se refere à revogação de sanções, somente uma pessoa ingénua poderia acreditar em tal hipótese, afirma o vice-diretor do Instituto dos Países da CEI, Igor Shishkin:
“É uma proposta de capitulação, uma chantagem. A questão da anulação de sanções nem se coloca numa perspetiva de um ou dois anos. Sabemos disso muito bem. O Ocidente não irá aceitar quaisquer acordos mutuamente vantajosos até compreender o fracasso de seus desígnios no sentido de separar a Ucrânia da Rússia. Agora, o Ocidente tenta falar com a Rússia partir das posições da força. Mas esta tática não tem sentido. O presidente Putin deu a entendê-lo no Clube de Discussão Internacional Valdai”.
Enquanto isso, a missão da OSCE que se encontra na zona do conflito está lançando lenha no fogo. Seus funcionários estão acompanhando com muita atenção a deslocação das tropas russas no território russo. Mas fazem vista grossa às deslocações de destacamentos do Exército ucraniano e ao fortalecimento de suas posições.
Alexander Pankin chamou atenção do CS para o fato de a região de Donbass se tornar palco de concentração de carros de combate e artilharia pesada, sistemas de mísseis e de fogo simultâneo Grad, Uragan e Scud. O diplomata russo acentuou que a falta de informações a esse respeito nos relatórios da OSCE está criando um quadro distorcido da realidade.
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