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domingo, 8 de julho de 2018

Caixa tem quarteirão da Rua do Ouro à venda

IMOBILIÁRIO
Ana Baptista    07 de Julho de 2018
O edifício da Rua do Ouro ocupa um quarteirão inteiro na Baixa, miito perto do Terreiro do Paço. Ficou pronto em 1966

INVESTIMENTO Processo faz parte da estratégia de redução de património imobiliário e pode render perto de €60 milhões

A Caixa Geral de Depósitos (GCD) está a vender o edifício da Rua do Ouro, um quarteirão inteiro em plena Baixa de Lisboa, muito próximo do Terreiro do Paço. “Estamos a iniciar o processo de comercialização e a colocação em mercado será feita pela [consultora] Cushman & Wakefield”, confirma ao Expresso fonte oficial do banco público.

Trata-se de um dos imóveis mais emblemáticos do portfólio imobiliário da Caixa que, segundo as estimativas dos especialistas neste segmento do mercado, pode valer perto de €60 milhões. 
Não só por causa da sua localização e dimensão, mas também pelo elevado potencial de retorno de investimento que o novo dono pode ter.

Só não vale mais, notam os mesmos analistas, porque é um edifício que não pode ter garagens, apesar de ter dois pisos em cave, e porque o balcão de atendimento é para manter, o que significa que haverá menos espaço comercial para o novo dono arrendar. Além disso, é um imóvel que vai precisar de muitas obras para se alterar o uso atual de escritórios para habitação ou hotel, o tipo de projetos que os investidores entendem serem os mais rentáveis naquela área da cidade e naquele tipo de imóvel.

Trata-se de um quarteirão inteiro, com uma área de 13.810 metros quadrados distribuídos por sete pisos, dos quais dois são em cave e um são águas furtadas, sendo que, em média, cada piso acima do solo tem cerca de 2 mil metros quadrados. 
Tem frentes para a Rua do Ouro, Rua de São Julião, Rua Nova do Almada e Rua da Conceição, e foi a principal agência do banco público entre 1966, quando ficou concluído, e até a Baixa deixar, gradualmente, de ser a zona financeira de Lisboa. Recorde-se que além das agências principais e sedes de quase todos os bancos (BCP, Totta e Açores, BPI, BES, etc...), também a Bolsa de Lisboa ficava ali perto, no Terreiro do Paço.

“É um ativo muito apetecível que de certeza terá muitos interessados, principalmente tendo em conta o bom momento que o mercado e a cidade de Lisboa estão a atravessar”, diz um analista que não quis ser identificado.

GANHOS DE MAIS DE €300 MILHÕES

A venda do quarteirão da CGD na Baixa não surge apenas porque há uma maior procura e disponibilidade financeira para comprar este tipo de ativos. 
É verdade que isso contribui para acelerar o processo, aliás, há vários exemplos de negócios que avançaram no último ano e meio precisamente porque o mercado está aquecido. 
Foi o caso de um quarteirão que o BPI tem também na Baixa, na Rua Augusta, e que está em processo de alienação. 
Ou dos terrenos da Feira Popular que vão a uma nova hasta pública em setembro, três anos depois da segunda tentativa de venda.

Mas para a Caixa, esta operação insere-se na estratégia de redução de ativos imobiliários que o banco tem em curso.

“Em 2017 vendemos 3100 imóveis com um encaixe de €338 milhões. 
Entre os imóveis vendidos nesse ano, já pela equipa liderada por Paulo Macedo, destacam-se o Edifício Marconi e o Edifício Santa Maria, ambos em Entrecampos, e o República 50”, diz fonte oficial da Caixa. 
E este ano já venderam a antiga sede do Caixa BI, um edifício na Barata Salgueiro, em Lisboa, que foi comprado pela seguradora Zurich por cerca de €23 milhões, segundo apurou o Expresso na altura da transação, em fevereiro.

Estas operações fazem parte de uma estratégia de redução de custos. 
Porque, além do encaixe financeiro, vender estes imóveis também origina “poupanças significativas para Caixa em despesas com eletricidade, água e manutenção do edifício”, adianta ainda fonte oficial em declarações ao Expresso, sem no entanto revelar de quanto poderiam ser essas poupanças.

PROCESSO PODE DEMORAR SEIS MESES

Tal como a Caixa revelou ao Expresso, este processo está no início. 
A escolha da consultora que vai apoiar a venda foi decidida há cerca de duas semanas e agora está a definir quais os investidores — nacionais e internacionais — que vão ser convidados a apresentar as propostas não vinculativas. 
O banco escolherá depois os candidatos que apresentarem a melhor oferta inicial, e esses terão de entregar uma outra proposta, vinculativa ou final, e dar garantias bancárias ou provas de que têm capitais próprios suficientes para pagar o ativo. 
Após o que terão de esperar pela análise das ofertas e posterior anúncio do vencedor.

Passa-se então à assinatura do contrato promessa de compra e venda e finalmente à escritura. 
Todo este processo pode demorar cerca de seis a sete meses, o tempo que demora para se fechar um negócio desta dimensão, já com a escritura feita, explica um consultor do mercado que não quis ser identificado.


PATRIMÓNIO COM HISTÓRIA

A sede da Caixa Geral de Depósitos foi, desde 1887, no Largo do Calhariz, mas o quarteirão da Rua do Ouro foi uma das suas principais agências durante mais de 30 anos, muito por causa da localização, em plena Baixa de Lisboa, mas também pelo edifício em si, um quarteirão de mais de 13 mil metros quadrados. 
Ficou totalmente pronto em 1966, mas a sua construção começou em 1948. 
Nesse ano, a chamada Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência (CGDCP) ocupava, já desde 1923 e 1924, espaços nos ministérios da Justiça e do Interior. 
O Ministério das Obras Públicas decidiu que o banco teria de sair dali porque o espaço iria ser ocupado pelo Ministério da Justiça. 
Em 1951, a Caixa deu início ao processo de fazer a agência central e a casa-forte no quarteirão da Rua do Ouro. 
Para isso teve de comprar edifícios, fazer demolições e depois a construção, que foi feita em quatro fases. 
Todo o processo durou 15 anos, com o edifício a abrir em 1963, mas com os acabamentos gerais ainda por terminar. 
Estes ficariam prontos em 1966. 
O edifício manteve a sua importância mesmo depois de a CGD ter decidido sair do Largo do Calhariz e juntar todos os seus departamentos e serviços, incluindo a caixa-forte, na atual sede, na Avenida João XXI, perto do Campo Pequeno. 
Esta foi construída de raiz nos terrenos da antiga Fábrica de Cerâmica Lusitânia. 
Este mês celebram-se os 25 anos da mudança do banco público para as novas instalações. 
A construção desta sede foi atribulada e demorada como a da agência da Rua do Ouro. A decisão de que seria preciso um novo espaço surgiu em 1981, altura em que a Caixa ocupava 26 edifícios em Lisboa, mas as obras só arrancaram em julho de 1987, com polémicas e alterações e ficou pronta em 1994 tendo ficado prontas em 1994.

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